O treinador do F. C. Porto fez a antevisão da partida deste sábado, frente ao Chaves, e lembrou que o campeonato é o objetivo número 1 dos dragões, mas não deixou de voltar ao duelo de Madrid, perdido no último instante e num lance de bola parada - "isso chateia-me particularmente". O jogo com o Atlético ditou ainda a lesão do "jogador-treinador" Otávio - "que é um bocadinho chato, mas eu gosto dele assim" -, o que pode alterar o sistema de jogo portista, e a expulsão de Taremi, que voltou a ser alvo de críticas. "Se calhar o objetivo é afetar o rendimento do jogador", atirou Conceição.
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O campeão nacional volta a virar atenções para a Liga portuguesa, após o desaire na estreia na Champions, e se "trabalhar em cima de derrotas nunca é bom", Conceição notou uma clara diferença em relação ao que se passou depois de ter perdido em Vila do Conde, frente ao Rio Ave.
"Os jogadores sentiam que podiam ganhar em Madrid e saímos com a sensação que merecíamos três pontos. Trabalhar com uma equipa revoltada, no bom sentido, faz com que o estado de espírito seja diferente. Mas temos de ter em atenção a recuperação dos jogadores. Ontem saímos do Olival depois das duas e meia, três da manhã e o tempo de preparação foi curto. Tem contras, mas também aspetos positivos: estamos na Champions e, agora, vamos lutar pelo nosso principal objetivo, o campeonato. Estamos preparados, com quase toda a gente disponível, tirando Grujic e Otávio. Os outros estão todos aptos e cabe-me a mim escolher os melhores para iniciar o jogo e os cinco reforços que podemos lançar", analisou o treinador dos azuis e brancos.
Sobre a expulsão de Taremi na capital espanhola, que ditou muitas críticas ao iraniano pela simulação que lhe valeu o segundo amarelo, Conceição destaca que muitas dessas mesmas críticas têm segundas intenções.
"Converso sempre com os atletas, também falei com ele sobre os dados físicos no jogo. Está no top 3 da intensidade, no top 3 com mais sprints. Além de ser goleador, faz assistências e isso sim é falar de futebol. E o que eu falo com os meus atletas", começou por dizer, antes de esclarecer a frase que disse em Madrid - "somos um país muito pequeno". "Eu sei onde nasci e já tenho 47 anos. Não disse que somos pequeninos, temos um país fantástico e somos grandes a todos os níveis. Mas às vezes, por infelicidade nossa ou de terceiros, somos prejudicados".
"Se calhar [ndr: as críticas a Taremi] têm como intenção prejudicar o rendimento do atleta. Um profissional de futebol tem de lidar com isto, felizmente somos bem pagos, mas é evidente que há uma campanha [contra Taremi]. Não vou estar aqui a falar, porque se não os comentadores vêm todos para cima de mim. Vejo programas de outros países e é uma delícia porque falam da bravura de um treinador, da qualidade de um jogador. Aqui não, aqui é sobre levantar o braço, sobre o Conceição a dar uma dura num jogador. Porquê? Acredito que há ex-jogadores e treinadores que tentam falar de futebol, mas se calhar estas coisas vendem mais. É uma pescadinha de rabo na boca. Uns porque não conhecem o jogo, outros porque são obrigados a falar de temas polémicos. Sempre disse aquilo que sinto, não é agora que vou mudar", acrescentou.
O duelo com o Atlético custou duas costelas partidas a Otávio, que vai ficar um mês afastado dos relvados, e Conceição não escondeu a importância do internacional português. "É o jogador que me conhece há mais tempo, trabalha comigo há sete anos. É um jogador-treinador e tiro-lhe moral nos treinos para ele não me passar na hierarquia [risos]. Ele tende a amuar, porque é um bocadinho chato, mas eu gosto dessa maneira de ser. É super importante para nós, não está, mas temos outros. A forma como vamos atuar pode mudar um bocadinho - poderemos olhar para o F. C. Porto e ver algo diferente", garantiu.
Concentrados até ao apito final
Sobre o segundo golo do Atlético, o técnico não escondeu a irritação sobre a forma como o mesmo foi conseguido: "Quando sofremos um golo, assim como quando marcamos, é pelo trabalho de equipa. Naquele momento, no espaço da bola, há jogadores que interferem de forma mais direta, mas para a bola chegar ali passou por outro lado. O quarto árbitro disse-me que o jogo já tinha acabado, mas, sim, tem de nos preocupar sofrer um golo numa bola parada: devíamos estar mais em jogo, porque o árbitro ainda não tinha apitado. Temos isso trabalhado e a mim chateia-me particularmente. Fazemos marcação mista, faltou alguma concentração, talvez justificável pelo minuto do jogo. Até ao último segundo temos de estar com o mesmo foco, mas aconteceu e não há nada a fazer. No jogo todo, fomos superiores e merecíamos ter ganho. Não costumo dizer isto, mas falo abertamente com os jogadores e disse-lhes que estava orgulhoso, mas temos de estar mais atentos a certas situações".
Agora, é tempo de virar agulhas para o Desportivo de Chaves, uma equipa que, no regresso à Liga, está a mostrar os mesmos princípios que tinha na Liga 2 em 2021/22. "Tem bons valores individuais, uma boa equipa técnica, liderada pelo Vítor Campelos, que trabalhou connosco no Vitória. Cabe-nos olhar para esses argumentos, pensar no que temos de fazer e montar uma boa dinâmica para desmontar a defesa, tendo atenção às saídas do Chaves, que são muito boas. Mas temos, sobretudo, de pensar em nós", lembrou Sérgio Conceição.