Subida da massa salarial, do passivo e da dívida bancária de curto prazo são os principais fatores de preocupação na SAD Benfiquista.
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O relatório e contas da SAD benfiquista para o exercício de 2020/21, que apresentou um resultado líquido negativo de 17,4 milhões de euros, vem atrelado a uma época desportiva marcada pelo insucesso, sem títulos conquistados e sem presença na Champions. Os principais itens de análise refletem um ano difícil também a nível financeiro, com reflexos da pandemia, sobretudo no que diz respeito ao aumento dos custos com pessoal (de 85,6 milhões de euros para 97,1 milhões), do passivo (de 325,9 milhões para 379,6 milhões) e da dívida bancária (de 98 milhões para 144,9 milhões, 76% dos quais relativos a empréstimos obrigacionistas).
Segundo Paulo Mourão, professor de Economia da Universidade do Minho e observador atento do fenómeno das SAD's, estes números traduzem uma "tentativa de inversão de um ciclo negativo de resultados desportivos" por parte do clube da Luz, sem sucesso imediato, mas que "não implicam uma alteração estratégica significativa a nível estrutural, a menos que se verifique uma hecatombe bastante improvável". Ainda assim, os valores apresentados pela SAD do Benfica, agora liderada por Rui Costa, após a saída conturbada de Luís Filipe Vieira, mostram, segundo o economista, uma "cada vez maior dependência dos resultados e de rumores financeiros", que levam as sociedades a estarem suscetíveis a "movimentos especulativos no mercado bolsista" se não houver uma "gestão racional na deteção de capitais".
Para Mourão, o que salta à vista nas contas da SAD do Benfica é o aumento superior a 10% dos custos com pessoal, que não têm apenas a ver com a massa salarial do plantel. "Este tipo de subida revela-se difícil de sustentar, pois é quatro ou cinco vezes superior à taxa média de inflação em Portugal, e contraria o que aconteceu com a generalidade das empresas, que congelaram a subida de salários ou até reduziram os gastos salariais, no contexto da pandemia", afirma.
"Pressão adicional"
Quanto às subidas do passivo e da dívida bancária, dizem sobretudo respeito a "dívidas de curto prazo", que são passíveis de "colocar uma pressão adicional na gestão corrente" da SAD benfiquista, com eventuais reflexos a nível desportivo. "Desta vez em linha com a generalidade das empresas, em Portugal e na Europa, o Benfica teve necessidade de se financiar, em função de dificuldades de tesouraria e da pressão dos credores, que estão à espera de receber. Neste caso, é claro que o aumento do endividamento coloca qualquer entidade em situação de maior risco nos exercícios seguintes, a menos que consiga algum tipo de renegociação de dívida", referiu.
Insistindo que os números do exercício de 2020/21 da SAD do Benfica não implicam "demasiada preocupação", Mourão defende que "o discurso de desresponsabilização dos dirigentes dos três principais clubes portugueses leva a que, depois, eles próprios fiquem numa situação de exposição excessiva perante os resultados apresentados".
Oferta pelas ações de Vieira em discussão
Águias reúnem-se na próxima semana para analisar proposta
A Direção do Benfica vai reunir-se apenas na próxima semana para analisar a possibilidade de exercer o direito de preferência sobre a proposta de venda do antigo presidente, Luís Filipe Vieira, de 3,28% do capital social da SAD por 5,8 milhões de euros. O dirigente informou que tem um comprador interessado, mas o clube ainda não foi informado formalmente do nome, existindo, porém, a forte suspeita de que será José António dos Santos, detentor de 16,33% do bolo total da SAD.
O montante da oferta é 80% superior ao preço atual no mercado bolsista, o que tem motivado discussões acesas no universo benfiquista, pois há indícios de que John Textor, empresário norte-americano, possa adquirir, a médio prazo, as ações de José António dos Santos para se tornar num dos grandes acionistas da sociedade.
Ao que o JN apurou, não está prevista qualquer reunião durante este fim de semana, sendo que os elementos da Direção se encontram em reflexão.
Alguns membros equacionam a possibilidade de se pronunciarem contra a venda, mas a decisão apenas será tomada por Rui Costa, presidente do executivo encarnado. O prazo de resposta termina no próximo dia 15. A reunião será realizada no início da próxima semana.
Ecos da Luz
A estrutura encarnada está a montar uma operação para contar com Veríssimo e Otamendi frente ao Santa Clara, nos Açores. Os centrais representaram as respetivas seleções (Brasil e Argentina) esta madrugada e devem chegar ao final da noite a Portugal.
Treinador multado
Jorge Jesus foi multado em 380 euros por ter falhado a presença na zona de entrevistas rápidas, após o jogo entre as águias e o Braga, do último campeonato. O responsável não falou por considerar que havia demasiado "barulho" no estádio.