O que aconteceu à Itália, em Palermo, deve servir de aviso a Portugal. A Macedónia do Norte é, à sua dimensão, uma seleção talhada para grandes momentos e não tem problemas existenciais em adaptar-se às circunstâncias para surpreender.
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Roberto Mancini, selecionador italiano, tinha avisado, na véspera do jogo com os macedónios, que não havia favoritos e, mais importante ainda, que "tudo pode acontecer" numa fase a eliminar.
A questão do favorito foi resolvida com uma daquelas frases feitas tão comuns no futebol. Afinal, a Itália é campeã europeia em título e jogava contra uma seleção que, pese embora a recente evolução registada, é ainda a 67.ª classificada do ranking FIFA.
No campo, os italianos fizeram uma das partes que lhes competia. Dominaram grande parte do encontro, esmagaram na estatística, mas não conseguiram fazer o mais importante: dar a estocada final no marcador.
É aqui que entram os méritos da Macedónia do Norte, em Palermo. Após o jogo, o selecionador macedónio foi ao ponto de dizer que a equipa "venceu a Itália à maneira italiana", aludindo a uma estratégia que assentou numa resistência estoica a defender e num aproveitamento quase perfeito no ataque. "Fizemos um golo em dois remates", lembrou Blagoja Milevski, eufórico com mais um feito da seleção dos Balcãs. Em 2018, o país aceitou acrescentar do Norte ao nome para satisfazer as pressões da Grécia, que reclamava a designação Macedónia como património exclusivo do helenismo, uma vez que a maior região da nação que deu ao Mundo filósofos como Platão e Sócrates, e a segunda mais populosa, situada a norte, chama-se... Macedónia.
Nos últimos anos, a Macedónia do Norte tem quebrado diversas barreiras no futebol europeu. Estreou-se em fases finais de grandes competições com a participação no Euro 2020, numa qualificação selada num play-off com a Geórgia. Na caminhada para o Mundial do Catar, foi segunda classificada no Grupo J, atrás da Alemanha, num trajeto que teve como momento alto a vitória (2-1) na visita aos germânicos.
Numa seleção que teve no avançado Goran Pandev a principal figura durante largos anos, a renovação começou com a geração do ex-leão Stefan Ristovski (Dínamo Zagreb), que tem em Alioski (Al-Ahli Jeddah), Ademi (Dínamo Zagreb) e nos heróis de Palermo Dimitrievski (Rayo Vallecano) e Trajkovski (Al-Fayha) os nomes mais sonantes.
Um novo salto qualitativo foi dado com Enis Bardhi (Levante) e, sobretudo, Elif Elmas (Nápoles). O médio, de 22 anos, que cumpriu castigo frente à Itália, é o porta-estandarte de uma Macedónia do Norte combativa e talentosa, sem preconceitos de jogar em ambientes adversos e que tem sabido reconhecer as dificuldades, moldar-se a elas e sobrevivido nos momentos de decisão.
Blagoja Milevski, um dos rostos da revolução no futebol macedónio, não é um treinador agarrado a um sistema. Tanto pode atuar com uma defesa a quatro ou com três homens no eixo mais recuado, dependendo dos desafios que o adversário lhe coloque.
A ideia de jogo, essa, é inegociável. Um futebol objetivo, alicerçado numa boa organização nos momentos em que não tem a bola, tem permitido à Macedónia do Norte criar dificuldades a várias seleções de elite. A próxima a ser colocada à prova será a de Portugal, que tem como vantagem saber exatamente ao que vai na final do play-off de apuramento para o Mundial do Catar. O melhor mesmo é não facilitar um milímetro que seja.