O Grupo Desportivo e Coral de Fânzeres é o único emblema do concelho de Gondomar a dedicar-se às modalidades de hóquei em patins e patinagem artística.
Corpo do artigo
Fundado em 1929, por Dolor Martins de Castro, começou por dar os primeiros passos como conjunto musical, só alargando a ação à vertente desportiva em meados dos anos 60 do século passado, no apogeu da então segunda modalidade preferida dos portugueses. Atualmente, a ligação à música fica-se apenas pelo nome.
Perto de completar 90 anos, o clube conta com 125 atletas nas suas fileiras, 75 nos vários escalões de hóquei em patins e meia centena na vertente artística da patinagem. Um número que gostariam de ver alargado. "Estamos a fazer prospeção junto das escolas primárias, com a ajuda da junta de freguesia, para tentar cativar as crianças de quatro a cinco anos a virem para aqui", refere o presidente Paulo Terra.
No entanto, a cobiça de emblemas de maior dimensão, tem levado os melhores jogadores para outras paragens. "Não vejo isso como uma coisa má, pois se saem para grandes clubes é porque estamos a fazer um bom trabalho na formação e isso dá-nos uma certa alegria", diz o dirigente, dando exemplos desse trajeto ascendente: "Temos vários atletas que começaram aqui e estão agora a disputar a 1.ª Divisão Nacional, como o João Souto, que está na seleção nacional, ou o Miguel Viterbo".
Apesar deste revés, o objetivo primordial do Coral de Fânzeres é mesmo o de possibilitar a prática desportiva às crianças e jovens. "Somos uma parte muito importante na educação dos miúdos, porque os acompanhamos ao longo do ano inteiro. O que me dá mais gozo é ver as crianças a crescerem aqui e a tornarem-se Homens. Enquanto estão aqui a praticar desporto, não andam nas ruas a fazer asneira. Deste ponto de vista, fazemos um serviço social. Além disso é mais saudável do que estar em casa a jogar computador", salienta o presidente, frisando a importância do desporto quer ao nível da saúde, quer da formação pessoal.
E, segundo Paulo Terra, quem experimenta os patins pela primeira vez já não os quer largar. "É muito completo, pois fazer desporto em cima de quatro rodas é complicado e exige muita coordenação motora da parte deles", destaca, para logo avançar: "Vemos aqui crianças de quatro anos que mal sabem correr e ao fim de uma semana já conseguem andar bem de patins. É impressionante ver a evolução que têm tido".
Quando entra um novo atleta, o primeiro passo é ensinar-lhe a andar de patins, só depois experimenta as duas modalidades para decidir qual gosta mais. E engana-se quem pensa que a patinagem é só para as meninas e o hóquei para os meninos. "Não forçamos os atletas a elegerem uma. É tudo uma decisão deles. Temos rapazes na patinagem artística e raparigas no hóquei", avança o dirigente.
Embora a nível competitivo as ambições não sejam grandes, não falta apoio à equipa nos jogos caseiros. "Temos sempre casa cheia. Quando à questão competitiva, temos bons atletas que têm conseguido bons resultados, às vezes até mais do que o esperado, mas a nossa maior preocupação não é ganharem todos os jogos, mas que os jovens andem a praticar desporto", afirma Paulo Terra.
Mais surpreendente, ainda, é ver que conseguem ter bons resultados apesar de treinarem num pavilhão obsoleto. O piso é em cimento, tal como as laterais do rinque, o telhado de fibrocimento e os balneários muito antigos. De verão o calor é sufocante e de inverno o frio quase "congela" os patins. Um cenário "surreal" para o século XXI.
"A vantagem é que o pavilhão é nosso e por isso podemos fazer a gestão de horário. A desvantagem é que também temos a despesa com o pavilhão, desde à luz à água", explica o presidente, justificando: "Faltam recursos para fazermos as obras de que precisamos. Mas sendo nosso, a autarquia acaba por não fazer um investimento num pavilhão que não é municipal".
Por isso, Paulo Terra faz um apelo: "Com um pequeno valor conseguiríamos dar melhores condições a estes 125 jovens. Somos o único clube de hóquei da cidade e podíamos ter mais apoio. É uma luta diária para conseguirmos sustentar e gerir este clubezinho com os recursos que temos".
Patinagem artística treinada por dupla de irmãos
Patrícia Galego, hoje com 24 anos, entrou para a patinagem por ser uma atividade do ATL que frequentava. Gostou de tal forma da modalidade que, um ano depois, trouxe consigo o irmão Filipe, atualmente com 21 anos. Hoje são ambos treinadores no clube que os acolheu.
"Acabei por fazer as duas modalidades. Estive 10 anos na patinagem artística e depois passei para o hóquei em patins, neste clube ainda. Depois optei por tirar o curso de treinadora de patinagem e é isso que faço agora", conta a ex-atleta, que a nível profissional enveredou pela enfermagem.
E semelhanças entre as duas vertentes? Só os patins. "São muito diferentes. A patinagem é muito mais complicada a nível da parte técnica de patins. É muito mais difícil, é preciso muito mais treinos, dominar muito bem a parte dos patins. O hóquei é mais uma parte de técnica de stick", explica Patrícia.
Já Filipe continua fiel ao primeiro amor. "Iniciei a prática de patinagem com cinco anos. Desde então foi uma paixão. Desenvolvi a minha carreira de atletas até aos dia de hoje e continuo, agora comecei como treinador", refere, anotando que já fez todas as disciplinas da patinagem artística e com excelentes resultados à vista.
"Tenho mais de 20 títulos nacionais e faço parte da seleção nacional há 10 anos. Individualmente, já consegui várias medalhas lá fora, inclusive em campeonatos da Europa e tive participações nos campeonatos do mundo. A nível de grupos, já fiz pares e quartetos, que é o que faço agora e tenho tido bons resultados", conta o patinador, formado em Educação Física e Desporto.
Para além da vertente competitiva, o talento de Filipe pode também ser apreciado em espectáculos de teatro musical no gelo.
O segredo do sucesso? "É preciso muito esforço, muito trabalho diário e que se divirtam. A patinagem é isso mesmo, seja na iniciação ou na competição, o importante mesmo é saberem divertir-se e aproveitar cada momento. E que façam amigos", diz o treinador e atleta.
Sobre as duas funções que desempenha, anota serem "totalmente diferentes". "Como atletas temos uma grande responsabilidade, mas contamos connosco próprios para conseguir atingir alguma coisa e só o nosso esforço vai fazer a diferença. Como treinador temos de gerir muito mais o tempo, pois não estamos a falar de uma pessoa, mas de muitas", acrescenta Filipe Galego.
Dois lados da barricada no hóquei em patins
Também Tiago Gomes, de 37 anos, já esteve dos dois lados da barricada. Ex-jogador de hóquei patins, tem agora a missão de dinamizar a prospeção no Coral de Fânzeres e de treinar os mais pequenos.
"Já pratico a modalidade desde os três anos, pois o meu pai era jogador. Ainda estive um tempo como jogador e treinador, mas, agora, nesta fase final, optei por ser só treinador", refere o ex-hoquista, que na 1.ª Divisão Nacional representou o Vitória de Barcelinhos, defendendo a sua dama: "Esta é uma modalidade muito acarinhada em Portugal. Às vezes não dão a importância porque acham que é um desporto agressivo. Mas só o é quando não sabemos utilizar as ferramentas que temos. Para nós, é a melhor modalidade que há".
Tiago Gomes reconhece, contudo, que não é fácil "chamar" as crianças para este desporto. "É um trabalho que temos vindo a realizar ao longo deste ano. Com a ajuda da junta de freguesia de Fânzeres temos abordado as escolas no sentido de irmos fazer apresentações para tentarmos chamar os miúdos para a prática desta modalidade", explica o treinador, ressalvando, todavia: "Acaba por ser um desporto um bocadinho caro e não tem ajudas para a iniciação, para podermos fornecer patins aos miúdos e o material que é bastante caro. Uns patins de iniciação custam 150 a 200 euros, para o stick são mais 70 euros, depois temos as caneleira, luvas e joelheiras".
"Depois, conforme vão evoluindo, vão querendo materiais melhores e mais caros. Mas aí também já têm o gosto e já querem investir para terem melhores condições", complementou o ex-jogador.
Apesar deste entrave, o número de atletas tem vindo a crescer. "Já temos muito mais miúdos do que os que tínhamos ao sábado de manhã a iniciar e penso que daqui a três ou quatro anos vamos ter mais jovens a aparecer para praticar a modalidade", finalizou Tiago Gomes.
Programa de televisão desperta amor pelos patins
"Comecei a interessar-me por este desporto devido a um programa sobre patinagem no gelo que dava na Eurosport. Perguntei ao meu pai sobre ele e disse-lhe que queria fazer. Ele descobriu o Coral de Fânzeres e desde os 9 anos que ando na patinagem". Assim começou a história de Ana Costa, 18 anos, sobre os patins. Outros tantos anos volvidos, a paixão transformou-se num grande amor.
"Desde que vi o tal programa na Eurosport e as vi a fazer as tais piruetas e saltos fiquei fascinada. É um desporto muito bonito", avança a patinadora, revelando que prefere a patinagem "pela vertente artística e de competição". "O que gosto mais de fazer é competir com outras pessoas, de forma amigável, claro", frisa Ana, para quem a patinagem é também um escape.
"É como se fosse um fecho para os problemas lá de fora. Sempre que venho patinar esqueço tudo o que está lá fora e venho para aqui apenas concentrada em praticar o que gosto e sempre gostei de fazer", justifica a jovem.
Por isso não é de estranhar que queira prolongar esta ligação o máximo de tempo possível. "Já tenho 18 anos, mas gostava de continuar a praticar, se a vida assim o permitir. Estou a acabar o 12.º ano e a estagiar no curso de comércio. Mas quero seguir Turismo e tirar um curso de treinadora de patinagem", finaliza a patinadora júnior.
Irmãs com gostos bem distintos
Uma diz ser mais delicada e menina, a outra afirma-se mais solta e maria-rapaz. Elas são Matilde e Ana Silva, duas irmãs de 9 e 10 anos, que adoram andar sobre patins, mas com gostos bem diferentes na utilização que lhes dão.
"Escolhi vir para a patinagem porque sou mais delicada e menina e não gosto muito do hóquei porque é mais violento e não gosto dessas coisas", conta a mais jovem, acrescentado que se adaptou bem às quatro rodas pois "já andava de patins em linha".
O que mais gosta nesta vertente é a dança. "Já participei em três provas e em espectáculos e agora vou participar em torneios", avança Matilde, que "sonha ser patinadora".
Por seu lado, Ana aprecia mais os "desportos de contacto". "A minha tia esteve no hóquei no Coral de Fânzeres, com o mesmo treinador, e quis que eu viesse experimentar. Como também tinha patinagem experimentamos os dois. Mas, gostei mais do hóquei", explica a mais velha das irmãs, justificando: "Sempre fui muito solta, como se diz, maria-rapaz. Era para ir para o futebol, mas escolhi o hóquei".
Tal como Matilde, também Ana se adaptou rapidamente aos patins. "No primeiro dia já andava bem, mas às vezes as coisas não funcionam muito bem e caio".
Mais difícil parece ter sido os rapazes da equipa aceitarem um elemento feminino: "Primeiro passavam por mim e não me davam a bola, depois fui começando a melhorar e eles já jogavam comigo. Mas é assim, meninas e rapazes às vezes não se dão bem", remata certeira à baliza.