Os efeitos da pandemia fazem-se sentir nos ativos e também nas quebras de receitas de bilheteira. Hoje o campeonato chega ao fim.
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Quase três meses de paragem do campeonato deixaram o público em desespero, as finanças em agonia e o resultado final está à vista: os plantéis dos 18 clubes da Liga desvalorizaram. No total, foram 189,92 milhões de euros. São os efeitos da pandemia de covid-19 a deixar marcas profundas no campeonato português, que termina hoje, conhecido por ser um exportador de talentos nato. A prova futebolística mais atípica de sempre também ficará na história pela paragem, pela incerteza na retoma e pelas perdas astronómicas nas finanças dos clubes.
Dos três grandes, de acordo com o Transfermarket, site especializado em valores de mercado, o F. C. Porto até foi o que sentiu mais na pele a desvalorização do plantel, ao perder 40,55 milhões de euros. Mas a conquista do título de campeão nacional até pode atenuar esta perda significativa. Seguem-se os rivais Benfica (31,6 milhões de euros) e Sporting (26,07 milhões).
Todos os clubes tiveram ainda quebras significativas em termos de receitas de bilheteira e em outro tipo de rendimentos, mas nem todos quantificaram essa derrapagem a pedido do JN. Dos que responderam às nossas questões, a soma das perdas de Braga, Famalicão, Rio Ave, Santa Clara, Paços de Ferreira, Tondela e Portimonense chega a 2,75 milhões de euros. Domingos Soares Oliveira, administrador da SAD do Benfica, já tinha revelado que os encarnados tiveram um milhão de euros de prejuízo por cada jogo disputado em casa à porta fechada, o que dá um total de cinco milhões de euros. O Braga, por exemplo, assume uma perda de um milhão de euros em bilheteira.
Cada clube da Liga gastou entre 100 e 150 mil euros nos testes à covid-19, segundo apurou o JN, para que os jogadores pudessem competir nas dez jornadas da retoma e assim cumprissem as indicações traçadas pela Direção-Geral da Saúde. Somando estes valores pelos 18 clubes, chega-se a um número entre os 1,8 e os 2,7 milhões de euros só neste requisito médico.
Numa Liga que chega hoje ao fim, onde se vão decidir as descidas, e também marcada pelos salários em atraso do Aves, a covid-19 fragilizou de tal forma os clubes, que quase todos eles foram obrigados a negociar cortes salariais para sobreviverem sem a competição. Este é um breve resumo de um campeonato muito longo. Começou em agosto do ano passado e vai terminar em julho. E cheio de peripécias.
Vencedores
Pinto da Costa, presidente do F. C. Porto
Apesar de algumas críticas, Pinto da Costa saiu por cima e mostrou ter a confiança dos adeptos do F. C. Porto. Em junho, no ato eleitoral mais concorrido de sempre e que durou dois dias devido à pandemia de covid-19, enfrentou, pela primeira vez, a oposição de dois candidatos e foi reeleito com 68,5% dos votos para cumprir o 15.º mandato. O presidente segurou Sérgio Conceição no comando técnico, quando o treinador colocou o lugar à disposição após o desaire na Taça da Liga, e conquistou o 61.º título do palmarés.
Sérgio Conceição, treinador do F. C. Porto
Conquistou o segundo título nacional em três anos no comando técnico do F. C. Porto. Sérgio Conceição foi predominante na união do grupo e nunca atirou a toalha ao chão, mesmo quando a equipa azul e branca estava a sete pontos da liderança e perdeu a Taça da Liga. Na retoma do campeonato, os dragões foram a melhor equipa e acabaram por levantar o 29.º título nacional com oito pontos de vantagem sobre o Benfica. Conceição ganhou ainda todos os clássicos, igualando o feito de José Mourinho em 2002/03.
Vinícius, avançado do Benfica
Na época de estreia pelo Benfica, o avançado foi decisivo e acabou a época da melhor forma, ao chegar à liderança da lista dos melhores marcadores da Liga, com 18 golos. Só em clássicos, Vinícius, teve três remates certeiros: dois frente ao F. C. Porto e um no dérbi com o Sporting, da última jornada. Para trás, ficaram o iraniano Mehdi Taremi, do Rio Ave, e Pizzi, ambos com 18 golos, mas a precisarem de mais minutos para marcar do que Vinícius. O avançado brasileiro justificou o investimento de 17 milhões de euros.
João Pedro Sousa, treinador do Famalicão
O Famalicão regressou, esta época, ao principal escalão e acabou por ser a revelação da temporada. Sob o comando de João Pedro Sousa, liderou a classificação durante várias jornadas e chegou às meias-finais da Taça de Portugal, caindo aos pés do Benfica. Mas venderam bem cara a eliminação. O Famalicão deu grandes dores de cabeça aos adversários e esteve muito perto de garantir a qualificação europeia, se não tivesse empatado ontem com o Marítimo. Mas o deslize não apaga uma excelente campanha.
Vítor Oliveira, treinador do Gil Vicente
Depois de um bom trabalho ao serviço do Paços de Ferreira na época passada, onde subiu e foi campeão da Liga Pro, o técnico assumiu o comando técnico do Gil Vicente, que regressou esta época à Liga depois de ter estado no terceiro escalão por causa do caso Mateus. E se a equipa minhota era considerada uma séria candidata à descida, Vítor Oliveira demonstrou, uma vez mais, qualidades e garantiu a permanência do Gil Vicente na Liga quando ainda faltavam algumas jornadas para o final da época. O treinador não vai continuar no Minho, mas sai em grande.
Rúben Amorim, treinador do Sporting
Não tem o IV nível de treinador, nada que o impedisse de ter sucesso. Rúben Amorim, de 35 anos, chegou ao comando técnico do Braga em dezembro e o êxito foi imediato: em 13 jogos, somou 10 triunfos e conquistou uma Taça da Liga depois de ter vencido o Sporting e o F. C. Porto, seguindo-se vitórias frente aos três grandes no campeonato. Em março, chegou ao Sporting por 10 milhões de euros. Apesar dos leões terem terminado no quarto lugar, Amorim fez um bom trabalho e foi uma das revelações da Liga.
Vencidos
Luís Filipe Vieira, presidente do Benfica
Além de a época desportiva ter ficado aquém, já são muitos os casos de justiça que envolvem o Benfica e Luís Filipe Vieira: o processo saco azul, o mais recente, motivou buscas no Estádio da Luz e coloca a SAD e o presidente entre os arguidos. O clima de tensão e contestação dos adeptos tem sido de tal ordem, que o orçamento do clube foi chumbado pelos sócios em assembleia-geral. Vieira vive momentos conturbados e talvez por isso apresenta Jorge Jesus como um trunfo de peso para as eleições de outubro.
Wei Zhao, presidente da SAD do Desportivo das Aves
O campeonato também fica marcado pela grave crise financeira do Aves, o último classificado da Liga. Desde salários em atraso, a rescisões de jogadores, até à intenção de não comparecer nos dois últimos jogos da Liga. E como se não bastasse, o autocarro e vários bens foram arrestados. A SAD, liderada por Wei Zhao, ficou de tal forma manchada, que a Direção do clube, liderado por António Freitas, já deu entrada com uma ação judicial no Tribunal da Comarca de Santo Tirso para pedir a destituição dos órgãos sociais da SAD.
Ivo Vieira, treinador do Vitória de Guimarães
A boa campanha ao serviço do Moreirense chamou a atenção do Vitória de Guimarães, que contratou o treinador na época passada. As exibições dos minhotos mereceram elogios, mas os vitorianos falharam o grande objetivo da época, que era chegar às competições europeias. Ivo Vieira sai da Cidade-Berço depois de 55 jogos, 25 vitórias, 16 empates e 15 derrotas. Uma das mais marcantes foi na terceira eliminatória da Taça de Portugal, nas grandes penalidades, frente ao Sintra Football, equipa do Campeonato de Portugal.