Cromos do Europeu: Van Basten

Seja com Sacchi, seja com Capello, é ele e mais dez. Quando não é assim, está o caldo entornado. “Era capaz de partir uma porta do balneário a pontapé, tal era a raiva quando lhe dizia que tinha de ser suplente”, conta Capello, il duro, que derrama uma lágrima (ou mesmo dias) no dia da despedida do holandês, em Agosto de 1995. “Uma vez, criticou-me abertamente”, conta Sacchi. “No jogo seguinte meti-o a suplente e ele protestou. Chegado ao banco, dei-lhe o meu lugar e disse-lhe ‘agora vá, orienta a equipa.’”

O seu feitio é, digamos, torto. Que o diga Veloso a respeito daquele 17 de Outubro de 1990 em que Portugal surpreende a Holanda nas Antas (1:0 de Rui Águas). A caminho dos balneários, Van Basten está frustrado com a marcação cerrada do benfiquista. “O Artur Jorge puxa-me para central, ao lado do Venâncio, e ganhámos 1-0. O Van Basten não fez nada e há um lance em que o pisei acidentalmente. Saltámos, ele caiu e eu também. Para evitar pisar-lhe a cabeça e as costas, piso-lhe a mão. Ele barafustou comigo, mas não liguei nenhuma. No final, estou a festejar com o Oceano quando ele me dá um murro e parte-me um dente. Levou troco. Meu e do Oceano, até chegar a polícia. Fiz queixa na polícia e na UEFA, mas como era o senhor Van Basten não lhe fizeram nada. Se fosse o Veloso...”

Van Basten é imperioso. Dentro e fora dos relvados, está bom de ver. Para a memória, aquele golo de bicicleta pelo Ajax (e outro pela Holanda, em Malta) e o pontapé de moinho pelo Milan na Liga dos Campeões, englobado naquele 4-0 ao IFK Gotemburgo. O médio Albertini desvenda a palestra de Van Basten no intervalo desse jogo europeu: “Se estiverem nervosos, passem-me a bola.” Meu dito, meu feito. Passam-lhe cinco vezes a bola e ele marca cinco golos, um deles anulado. Marco, parabéns.

Parabéns, sempre parabéns. Aquele golo ao Dasaev na final do Euro-88 é um hino ao improviso. À coragem. À beleza. E ele que até começara esse Europeu no banco, como suplente de Bosman.