Com Garrincha e Pelé no onze, a seleção brasileira jamais perde um jogo entre 1955 e 1966. Pelo meio, dois mundiais conquistados. O primeiro em 1958, na Suécia, onde o psicólogo da comitiva brasileira (João Carvalhaes) afasta Garrincha do onze titular "por carências no plano intelectual". Ao terceiro jogo, o selecionador Feola manda a retórica à fava e mete o anjo das pernas tortas, vs. URSS: O resultado é um encanto, sobretudo em 1962, no Chile, onde Garrincha joga por ele, por Pelé (lesionado) e por todos os brasileiros.
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No 3-1 vs. Inglaterra nos quartos de final, só há um adversário a driblá-lo. É um cão preto, que invade o campo e instala-se no meio-campo. Garrincha vira então defesa-central e tenta agarrá-lo. Em vão. Sem o canídeo em campo, Garrincha marca dois golos e os jornais chilenos estampam na primeira página "Garrincha, de que planeta vienes?".
Os dribles de Garrincha fora do relvado também fazem história. Como aquela explicação sobre o golo ao Chile, no Mundial-62: "A bola veio para a esquerda e eu não chuto bem de esquerda, mas não dava para trocar de pé, então chutei de esquerda a fazer de conta que era de direita". Ou então o desabafo sobre o carrossel neerlandês no Mundial-74. "Se tivesse toda aquela equipa de que se falava, não perdia a final [vs. RFA, em Munique]. Num dia, o extremo era avançado e o central era lateral. Vamos simplificar o futebol: o extremo é extremo, o avançado é avançado, o central é central e o lateral é lateral. Cada posição tem o seu segredo, não se pode jogar de memória numa posição que não é a tua. Claro que há jogadores que acertam rapidamente na nova posição, mas é sorte. Só tens uns quantos poucos fenómenos que conseguem jogar em qualquer posição, mas eles são isso mesmo: fenómenos". Como Garrincha.