Susana Pratt está à frente da La Petite Portugaise, uma livraria totalmente portuguesa em Bruxelas, na Bélgica. A lisboeta concilia o trabalho na Comissão Europeia com o espaço, que tem como propósito manter viva a cultura lusa na cidade.
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Hoje o dia em Bruxelas é marcado pelo jogo entre o St. Gilloise e o Braga. Durante a manhã e à hora de almoço, viram-se alguns adeptos arsenalistas a passear pelos pontos mais turísticos da cidade. A caminho do Parlamento Europeu, por mera casualidade, enquanto se observava uma ou outra montra, vê-se a língua portuguesa numa loja. É instintivo parar, afinal estamos na Bélgica. Espreitando, veem-se livros de Camões, Pessoa, Miguel Torga, Saramago, enfim, uma panóplia do melhor que a escrita portuguesa tem para oferecer, com conteúdo também para as crianças. Trata-se da La Petite Portugaise, uma livraria 100% portuguesa. Dentro está Susana Pratt, natural de Lisboa, que quando ouve falar português não esconde o sorriso.
Muito simpática, bem à moda lusa, diz que não acompanha futebol, mas sabendo que estão quase 500 portugueses em Bruxelas, devido a um jogo, fica, inevitavelmente, mais feliz. Ao JN, Susana Pratt contou que deixou Lisboa em 1988 para mudar-se para Bruxelas com o objetivo de estudar "germânicas", um curso de língua inglesa e alemã. Trabalha na Comissão Europeia e a livraria não é um trabalho, mas sim uma forma de manter a cultura portuguesa na cidade.
"Durante 30 anos existiu em Bruxelas a livraria Orfeu e era uma referência para a comunidade portuguesa cá. Quando fechou, falei com vários amigos e decidimos abrir esta livraria, nenhum de nós deixou o emprego e mantêmo-la aberta alternando os turnos. É o nosso cantinho português, no qual mantemos viva a cultura", explica, ao nosso jornal. O espaço está aberto de terça a sexta-feira entre as 12 e as 15 horas, apenas. Ao fim de semana, abre as 11 às 13 horas e das 15 às 17 horas. O horário é o possível, uma vez que é necessário conciliar o trabalho. A livraria vive, ainda, das pessoas que se voluntariam para trabalhar nela, maioritariamente portugueses, mas também uma belga que "fala muito bem português".
Susana percebeu, com o passar dos anos, que os belgas têm muito interesse na cultura portuguesa. O maior público, curiosamente, nem é luso, mas sim belga, mais especificamente os flamengos, que se inscrevem em cursos de português e até têm um clube de leitura. "Há muita gente que quer saber mais sobre a cultura portuguesa depois de visitiar Portugal. Querem ler ou estudar! Há uns dias apareceu cá um casal jovem com três filhos, que se queria mudar para os Açores, então pretendiam aprender, todos, o idioma".
A La Petite Portugaise não é a maior livraria que se pode encontrar na Bélgica, obviamente, mas numa cidade tão cosmopolita como Bruxelas, encontrar um espaço totalmente dedicado à cultura portuguesa é acolhedor, mesmo para quem só está de passagem.