Da parede derrubada em casa ao título mundial: Luca Brecel nasceu para fazer história

Luca Brecel
AFP
Luca Brecel fez história, esta segunda-feira, ao tornar-se o primeiro campeão do mundo de snooker de um país não pertencente à Commonwealth, batendo na final o inglês Mark Selby, em Sheffield. O belga já tinha surpreendido quando, nos quartos de final, afastou o britânico Ronnie O'Sullivan, líder do ranking e sete vezes campeão do Mundo. Paixão pela modalidade que o levou ao topo começou aos nove anos.
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Luca Brecel nasceu há 28 anos e desde cedo provou que veio ao Mundo para fazer história e ser um exemplo de superação. Numa final em quatro sessões, distribuídas por dois dias, o jogador de 28 anos, 10.º do ranking internacional, impôs-se por 18-15 a Selby, tetracampeão mundial e segundo da hierarquia, no templo da modalidade, o teatro Crucible. Nas meias-finais, alcançou outro feito marcante, conseguindo a maior recuperação de sempre naquela fase da competição, vencendo o chinês Si Jiahui por 17-15 depois de estar a perder por 5-14. Nas cinco participações anteriores, Brecel nunca tinha passado a primeira fase.
Mas a história começou a ser feita anos antes e culminou numa jornada notável, que muitos consideraram tardia. Portador de autismo nível dois, moderado, Brecel apaixonou-se pelo snooker com nove anos, numas férias em família, em Itália. O entusiasmo e a paixão foram imediatos e, chegados a casa, em Maasmechelen, ele e o pai procuraram um clube o mais próximo possível de casa para continuar a dar azo ao gosto. O interesse pela modalidade acabou por disparar no ano seguinte, quando ligou a televisão para ter um gostinho da ação do Campeonato Mundial pela primeira vez e, no primeiro quadro que assistiu, Mark Williams venceu Robert Milkins. "Achei que nunca seria capaz de fazer aquilo", revelou, mais tarde. Os pais, percebendo o talento e o gosto do filho, acabaram mesmo por derrubar uma parede em casa para terem espaço e uma mesa para Brecel praticar. "A partir de então, ele realmente começou a treinar como se estivesse possuído. Às vezes até 15 horas por dia nos fins de semana", disse o pai, Carlo.
Os títulos e as vitórias não tardaram a chegar. Em 2010, venceu Stephen Hendry, considerado um dos melhores de todos os tempos, e no mesmo ano sagrou-se campeão belga senior com apenas 15 anos. Em 2012, aos 17 anos, tornou-se no mais jovem de sempre a disputar o Campeonato do Mundo e, nas cinco participações que teve na competição, nunca passou da primeira fase. Até que segunda-feira, contra todas as expectativas, levou o troféu para casa. "Acho que depois disto, o snooker na Europa vai explodir. Nunca imaginei estar nesta posição, estou a receber imensas mensagens. Estou muito orgulhoso de mim, porque estava sob muita pressão", disse sorridente, na conferência de imprensa.
