A cumprir a quinta época em Portugal, a segunda no Vitória de Guimarães, o avançado Davidson tem-se destacado pelos golos e pelas assistências. O jogador brasileiro, de 28 anos, sente-se acarinhado pela massa associativa e pretende ajudar o coletivo na conquista dos objetivos. A meta é ficar entre os cinco primeiros classificados.
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Tem uma frase que gostava que desenvolvesse: "Dorme para sonhar, acorda para realizar"...
Significa que sonhar e não fazer nada para concretizar o sonho não vai adiantar de nada. Quando acordamos, devemos ir à procura do melhor para nós, ser melhores, e lutar por aquilo que sonhamos.
Tem planos para o final da carreira, que ainda está distante?
O objetivo é construir um ginásio específico para atletas de futebol, focado na prevenção de lesões. E penso trabalhar com jogadores, como agente ou algo parecido.
O Davidson foi criado numa favela. Sonhava um dia ser jogador profissional?
Fui criado no complexo da Mangueirinha, em Duque de Caxias, e os primeiros toques na bola foram lá. Colocávamos dois chinelos a fazer de balizas e foi aí que aprendi a jogar. Tinha o sonho de jogar em grandes palcos. É difícil sair da favela, local onde há constantemente tiroteios e consumos de drogas. Sou feliz por ter conseguido os meus objetivos e por ter-me tornado um homem de caráter.
O que foi preponderante?
Os meus pais e o meu irmão Jefferson. Ele também sonhou ser jogador de futebol e chegou a jogar no Vasco da Gama. Infelizmente, não chegou a profissional. Tinha bons pés, era um número oito de muita qualidade. Esperavam mais dele e menos de mim. A fé também me ajudou muito.
Deus está muito presente?
Sou cristão evangélico. Tornei-me cristão por volta de 2009, mas só em 2014, altura em que fiquei com a minha esposa, é que me tornei um cristão que vai à igreja. E foi nessa altura que as coisas começaram a correr bem a nível familiar e profissional. A minha vida é baseada em Deus em primeiro lugar, na minha família e no meu trabalho. E quando se coloca Deus em primeiro plano, as coisas acontecem. É o que tenho feito e por isso tenho uma família abençoada.
Quando decidiu ser um cristão evangélico mais assíduo?
Crescer num local com coisas ruins não é fácil. A minha avó levava-me à igreja, mas eu não ligava muito. Mas em 2008/2009, quando estava no Santos, fiquei muito sozinho e conheci uma pessoa que começou a falar-me de Deus. Em 2014, estava sem clube e as coisas estavam difíceis, até porque a minha esposa tinha um ordenado pequeno. A nossa fé permitiu que aparecesse a proposta do Covilhã. E a partir daí apareceram muitas coisas boas.
A escolha do número 91 na camisola também tem histórias?
Sim. Além de ser o meu ano de nascimento, também é uma homenagem aos jogadores da minha geração que não conseguiram chegar a profissionais. Além disso, gosto muito do Salmo 91 da Bíblia. Diz, resumidamente, que aquele que procura confiar e entregar as suas preocupações a Deus, Ele vai-nos proteger, guiar e abençoar.
Sendo natural do Rio de Janeiro, qual o seu clube de coração?
Sou adepto do Fluminense, o grande rival do Flamengo.
Como analisa a campanha do Flamengo e de Jorge Jesus?
Um grande treinador, que impôs o seu estilo jogo europeu, o que não é nada fácil, porque o futebol brasileiro é um pouco diferente. Jesus está de parabéns.
Quando veio para Portugal, escolheu o Covilhã. Porquê?
Tinha dois convites. Um do Nacional e outro do Covilhã. Como cheguei a 25 de agosto, em 2015, e como estava perto de fechar o mercado, a solução acabou por ser o Covilhã. Estou muito grato por me terem aberto as portas.
Trocou o calor do Rio de Janeiro pelo frio. Sabia disso?
Um amigo que jogava no Covilhã avisou-me, mas não tinha noção. Nunca tinha visto neve na minha vida. Parecia uma criança quando peguei na neve pela primeira vez. Foi um choque, porque no Rio de Janeiro a temperatura ronda os 30 a 35 graus. Adaptei-me rapidamente e contei com a ajuda dos dirigentes e dos treinadores Francisco Chaló e Filipe Gouveia.
O que diferencia o Ivo Vieira dos outros treinadores?
Tem uma metodologia de trabalho muito boa e forte, com o objetivo de atacar constantemente a baliza adversária e finalizar. Em Portugal, são poucas as equipas que querem jogar, ter bola, e procuram a baliza adversária.
Já tem 170 jogos em todas as competições portuguesas. Qual o melhor momento?
O golo no Dragão, quando estávamos a perder 2-0 ao intervalo e demos a volta ao resultado. Entrei e marquei o golo da vitória. Foi marcante. No Covilhã, na Taça de Portugal, marquei o golo que permitiu eliminar o Sp. Braga. E fiz a assistência para o empate. Recentemente, o golo de bicicleta contra o Boavista. Contra o Arsenal, em Londres, não marquei, mas foi dos meus melhores jogos.
No Dragão, viveu um dos piores momentos da carreira. Foi expulso pela primeira vez...
É difícil estar num jogo a dar o melhor, a dar tudo, e ver pessoas que têm atitudes que não são corretas. Jogar com menos um jogador a partir dos 40 segundos, num lance em que não concordo com a expulsão, não é fácil. Podia ter sido falta, mas nunca para expulsão. Houve muitos lances para cartão para a equipa adversária que não foram mostrados. Depois, num lance em que faço um cruzamento e a bola é cortada para canto por um adversário, a pessoa olha para ti, ri na sua cara, e aponta pontapé de baliza. É difícil não perder a cabeça. Não foi uma atitude correta.
Uma expulsão que valeu castigo e multa, mas que reuniu a solidariedade da massa adepta, que mobilizou-se para pagar...
Foi um gesto bonito e diferente. Até nisso são diferentes. Tenho noção que sou um jogador acarinhado, mas também sei da cobrança. Por isso, procuro dar o meu máximo para retribuir.
O mercado de janeiro está a chegar e o Davidson tem sido dos jogadores mais assediados...
Sei dos assédios, mas estou muito focado no Vitória. Tenho contrato até 2022. O presente é o Vitória e quero dar o meu melhor.
Cumprido um terço do campeonato, que balanço faz?
É um balanço positivo, tanto a nível coletivo como individual. É importante começar bem, mas o mais importante é terminar bem.
Acha que podiam ter mais pontos na Liga e na Liga Europa?
Queremos alcançar os objetivos e ter mais pontos no campeonato e na Liga Europa. Estou cá para ajudar, quer com golos, quer com assistências. Sabemos do potencial, da exigência do clube, e vamos a cada jogo procurar aumentar a distância para os adversários.
O V. Guimarães pode lutar pelo terceiro lugar?
Queremos pontuar o máximo possível. O que eu queria era ser campeão [sorriu]. O campeonato está muito nivelado, muito alto e com excelentes equipas. Mas o nosso objetivo é ficar nos primeiros cinco lugares. Se conseguirmos ficar mais acima, melhor ainda.
A época está a correr-lhe bem?
É difícil manter a regularidade em todos jogos, mas tenho feito uma boa época e sei que posso fazer muito mais para ajudar.
O futebol praticado tem sido muito elogiado. Mantendo este nível, estão mais perto de alcançar as metas?
É importante jogar bem, mas mais importante é vencer. O futebol vive de resultados e sabemos isso melhor do que ninguém. Mas se continuarmos a jogar desta forma, estaremos mais perto das vitórias.
Os adeptos podem ajudar a desequilibrar na luta pelos lugares de acesso à Liga Europa?
Com certeza. Temos adeptos muito fervorosos e apaixonados. No Arsenal, tivemos um apoio numeroso e importante, com uma festa que os jogadores sentiram desde o primeiro minuto. Foi pena o resultado, mas toda a gente viu a força do clube nas bancadas.
A Liga Europa acaba por ser uma competição importante para promover o clube e jogadores...
É uma competição de grande nível em que todos querem jogar. Fizemos grandes jogos e não fomos inferiores a ninguém. Devíamos ter mais pontos.
Está a cumprir a quinta época em Portugal. Esperava estar tantos anos no país?
Sim, mas esperava ter dado o salto para a primeira Liga mais cedo. Estive no Covilhã, um clube que me ajudou muito, mas tudo tem o seu tempo. Estou feliz por estar em Portugal e no Vitória de Guimarães.