De salto em salto: Gonçalo Resende quer conquistar monumentos nacionais no Base Jumping
Gonçalo Resende, 22 anos, é natural de São João da Madeira, mas vive em Évora onde trabalha como instrutor de paraquedismo na empresa Skydive Portugal, da sua família. Começou nas lides dos saltos aos 16 anos e mais tarde descobriu o Base Jumping, que lhe trouxe a ambição de saltar de todos os monumentos em Portugal.
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Na passada segunda-feira, dia 11 de março, Gonçalo riscou da sua lista de desejos um dos muitos objetivos que definiu enquanto praticante de Base Jumping: saltar da Ponte Luís I, no Porto. Este não é o primeiro monumento nacional que o jovem utiliza para praticar a modalidade, mas integra uma lista ainda por cumprir que contém edifícios como as Torres de São Rafael, São Gabriel, e as Torres Gémeas em Lisboa, o Hotel Myriad no Parque das Nações, a Torre de Monsanto, em Oeiras e a Torre do Lidador na Maia.
Esta é uma das modalidades do paraquedismo que mais desafia os atletas, uma vez que os saltos são realizados a baixa altitude, fator que atraiu para o tabuleiro superior da icónica ponte que liga a cidade do Porto a Vila Nova de Gaia, alguns curiosos que não perderam a oportunidade de assistir ao momento da preparação e da aterragem. "Este salto andava a ser planeado há meses. O dia foi escolhido em função das condições do vento e do tipo de treino que eu tinha tido durante a semana anterior. Eu conheço bem a zona, o que também me ajudou a perceber como é que a corrente do rio afetava o movimento do ar na região. O salto foi feito sem problema nenhum, correu tudo bem, de acordo com o que eu tinha planeado e deu para aterrar de pé, mesmo com o vento de costas" começou por explicar Gonçalo Resende.
O jovem são-joanense afirma ter sido "a primeira pessoa, em Portugal, a saltar da Ponte Luís I", cumprindo os pressupostos do Base Jumping que implica uma aterragem no solo. "Já houve quem saltasse, mas aterraram na água, o que acaba por não ser bem a mesma coisa". O salto foi realizado a uma altitude de 45 metros, motivo que impediu a extração do paraquedas devido à pouca velocidade atingida no ar e por isso o método utilizado passou por "conectar uma tira com uma força de resistência de 38 quilos à estrutura da ponte, com força suficiente para extrair o paraquedas de dentro do contentor, esticar os cordões e dar início à abertura. Quando o peso do meu corpo se colocou sobre o sistema, a tira partiu, eu separei-me da ponte e aí o meu paraquedas já estava, mesmo quase a abrir, só faltava entrar o ar para o insuflar e o paraquedas começou a voar".
Como paraquedista Gonçalo Resende já realizou mais de cinco mil saltos, uma experiência que considera ainda "modesta", mas deixa a ressalva de que a prática e a preparação são essenciais para que na hora H nada falhe: "Estou a aprender e todos os dias faço por aprender, mas não será propriamente um salto que se deva realizar com pouca experiência. Essa experiência, se calhar, não se mede em números, poderá medir-se em tempo - há quanto tempo é que estamos no desporto e temos conhecimento de como é que a modalidade funciona. Nós temos é que estar preparados para avaliar o momento exato do salto e para ter a frieza de nos posicionarmos para a saída o mais rápido possível".
"Dedico toda a minha vida ao meu trabalho como instrutor e aos saltos"
Para este salto em particular Gonçalo realizou os treinos físicos numa ponte inativa, que apresentava praticamente a mesma altitude que a Ponte Luís I, mas confessou que durante as preparações todos os cenários foram colocados na equação: "Sempre que consigo realizar os saltos repetidamente em várias condições diferentes, inclusive nas piores condições possíveis, no local de simulação, sinto-me preparado para realizar o salto no local oficial".
O Base Jumping entrou na vida deste atletla como "um grande prazer pessoal". O bichinho foi passado pela família Resende, atraindo sobretudo os homens que ficaram desde logo "rendidos aos saltos e aos momentos de queda livre". Todos os anos Gonçalo percorre a Europa para participar em competições de paraquedismo e aproveita os cenários naturais de Itália, França ou República Checa para levar o equipamento de Base Jumping e saltar de penhascos, ou edifícios nos tempos livres.
Este ano o destino é Noruega, onde vai saltar as maiores paredes do mundo que têm mais ou menos 1000 metros de altura de queda vertical. O entusiasmo e a adrenalina são notórios, quando explica os principais desafios que já enfrentou, sobretudo, aqueles que muitas vez o obrigaram a saltar em locais proibidos: "Já me aconteceu de ser apanhado em locais que são considerados propriedade privada, mas estavam sempre de porta aberta", revelou entre risos. "Era aí que eu tirava os saltos mais divertidos, às vezes assim um bocadinho fora da lei, mas são os que eu mais gosto".
Pela equipa "FreeFlyers" já foi campeão nacional na modalidade de paraquedismo free flight, durante quatro anos seguidos. "Este ano estamos a competir novamente, temos uma equipa com novos membros, porque o objetivo é ir ao campeonato do mundo", revelou. Durante a adolescência a vida era dividida entre os estudos e o aeródromo, saltava todos os dias, e nem as festividades ou feriados eram motivo de descanso: "Já aconteceu de saltar no dia 24 de dezembro durante a tarde, no dia da passagem do ano e no dia de ano novo. São momentos que nunca mais esqueço, este é um desporto super intenso, quem não faz mais do que um salto por semana já está fora do jogo. Na minha vida só faço paraquedismo e Base Jumping, são as únicas coisas em que me entrego a 100%. Só assim é que é possível atingir resultados", concluiu.