Foi um dos dias marcantes do Estado Novo e do regime que governou Portugal durante mais de 45 anos, entre 1928 e 1974. O feriado de 10 de junho de 1944 serviu para a inauguração do Estádio Nacional, "uma das mais belas obras da Revolução", como lhe chamou o Jornal de Notícias na primeira página do dia seguinte.
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"Cerca de 60 mil desportistas de Portugal aclamaram delirantemente os srs. Presidentes da República [Óscar Carmona] e do Conselho [Oliveira Salazar]", titulou o JN, em alusão ao entusiasmo vivido no Jamor pelos milhares de pessoas que encheram as bancadas novas em folha e por todos os que participaram na festa em pleno relvado. "A enorme multidão, numa verdadeira apoteose a Salazar, afirmou uma vez mais confiar na sua política de verdade", pôde ler-se num dos destaques da primeira página, que incluiu um texto com a descrição pormenorizada da festa de inauguração do recinto, das horas que a antecederam e da obra em si.
"A Tribuna Presidencial de imponentes colunatas tem uma expressão helénica. A linha geral arquitetónica é, de resto, cheia de imponência, dando uma ideia de grandeza dos clássicos estádios olímpicos. À frente, uma fila de cadeiras de espaldar vermelho, que foram ocupadas pelo Chefe do Estado e pelo Governo", continuou o texto, que destacou "o desfile e a parada de mais de 10 mil atletas" no relvado, a "condecoração de vários técnicos", "o entusiasmo com as provas de atletismo" e o "hastear da bandeia nacional no mastro olímpico", sem esquecer a "brilhante exibição da Classe Feminina de Ginástica da FNAT (Federação Nacional para a Alegria no Trabalho)".
Para a história, ficaram também as palavras do atleta Lélio Ribeiro, escolhido a dedo para fazer o discurso de agradecimento a Carmona e a Salazar pela obra inaugurada, premonitório para os 30 anos que se seguiram e citado num dos parágrafos da extensa cobertura noticiosa feita pelo JN no Jamor: "Sem vós, sem a continuidade da Revolução, não teria sido possível a construção do Estádio Nacional. Salazar, devemos-te a esperança. Devemos-te a paz. Devemos-te o presente. Bem hajas por terem cumprido a tua promessa. Obrigado pelos séculos fora. Obrigado para sempre. Viva Salazar. Viva Portugal".
A celebração culminou com um jogo de futebol entre o Sporting e o Benfica, como não podia deixar de ser. Em disputa esteve a simbólica "Taça Império", ganha pelos leões, por 3-2, após prolongamento, com o lendário avançado Peyroteo em destaque.