Depois do azar no arranque da Volta, Benta segue motivado a cumprir o sonho na Torre
Se uma queda a meio da corrida perturba qualquer corredor, duas quedas - ainda por cima na mesma etapa - conseguem tornar o cenário desesperante. A emoção entra em prova. Tudo passa pela cabeça, inclusive desistir. Depois do azar no arranque da Volta a Portugal, João Benta respirou fundo, seguiu firme e convicto, e hoje procura alcançar o sonho de vencer no alto da Torre.
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Os 11 dias de corrida da Volta a Portugal obrigam a um esforço físico incalculável, mas não são só as pernas que são chamadas a responder. A preparação anímica é crucial para equilibrar a balança entre a razão e a emoção, sobretudo quando surgem adversidades inesperadas.
No ciclismo, as quedas são um temível inimigo ao qual ninguém está livre de escapar, mas quando acontecem duas vezes seguidas, a cabeça deixa-se controlar pela emoção. Quem o confirma é João Benta, corredor da Rádio Popular-Boavista, que na primeira etapa da Volta a Portugal teve o azar de "ir ao chão" por duas vezes num espaço de 30 metros, à entrada da subida final do dia.
"Após a primeira queda tentei levantar-me o mais rápido possível, pedir uma bicicleta e arrancar. Nem me preocupei com as mazelas que tinha. Mas quando caí pela segunda vez passou-me muita coisa pela cabeça. Confesso que se fosse numa outra corrida tinha metido a bicicleta ao carro e desistia, mas na Volta a Portugal, não", admite o ciclista de Esposende ao JN, considerado um dos principais favoritos da Volta a Portugal.
Depois de ter sido assolado pela tristeza, João Benta "respirou fundo" e confiou. O trabalho de um ano, o esforço diário e todos os sacrifícios não podiam simplesmente cair por terra. Ferido, arranjou forças e reaproximou-se do pelotão. Terminou a etapa no grupo principal. "Cair no primeiro dia e deitar tudo a perder seria uma desilusão muito grande. Temos que ser fortes e acreditar que não é uma queda que nos vai derrubar".
Cair no arranque da Volta a Portugal trouxe um desafio acrescido a João Benta, mas não o demoveu de lutar por si e pelo coletivo. Uma característica que considera única na modalidade. "Acho que nós, ciclistas, qualquer um de nós é muito forte nesse aspeto. Só parámos se houver alguma fratura com a qual não seja possível continuar".
A 34 segundos do líder da geral individual, o corredor da Rádio Popular-Boavista promete subir a Serra da Estrela com ambição e, quem sabe, discutir a etapa. "Há azares, há blocos mais fortes, mas eu penso em mim e não nos outros. Sei o que trabalhei. O ganhar na Torre, por exemplo, seria um sonho tornado realidade, assim como estar na discussão da Volta a Portugal até Viseu".