Êxito olímpico valeu a Rosa Mota três mil contos. Para festejar, a Missão lusa abriu uma das 12 garrafas de champanhe que levara para a Coreia do Sul.
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Rosa Mota venceu a maratona feminina dos Jogos Olímpicos de 1988, prova que foi disputada em Seul, Coreia do Sul. A primeira atleta portuguesa a alcançar o ouro numa competição do género já tinha ficado em terceiro lugar e subido ao pódio, para receber a medalha de bronze em Los Angeles, nos Estados Unidos da América, quatro anos antes, na mesma prova.
"Menina pobre da Foz Rainha de ouro de Seul", titulou o JN, no dia seguinte ao histórico êxito da atleta portuguesa.
Com um êxito inesquecível, a corredora da Foz do Douro virou lenda. "Estou feliz, mas... vou tomar banho!", atirou Rosa Mota, num estilo muito próprio.
Como escreveu José Saraiva, então enviado do nosso jornal aos Jogos, aquela "dez réis de gente - mede um metro e cinquenta e sete e pesa só 45 quilos - definitivamente entra na história do desporto português e mundial".
"Aos 30 anos, Rosa Mota entra na lenda desportiva onde só podem figurar atletas de grande gabarito", exaltou o JN.
"Dez milhões de portugueses - só portugueses? - sofreram imenso (...). Afinal Rosa corria por todos nós, por aqueles que sofrem por não termos oportunidades de lado a lado competirmos com os grandes países do desporto", acrescentou o jornal.
Quarenta mil pessoas aplaudiram Rosa Mota na chegada ao Estádio Olímpico. "Sob uma trovoada de aplausos e um sol de queimar, entrou no tartan para a volta final. Galgou os últimos metros e abriu os braços", descreveu o enviado JN.
"Dedico esta vitória a todos os portugueses e a quem me ajudou a estar aqui", disse a então atleta do Centro de Atletismo do Porto (CAP).
"Trouxemos 12 garrafas de champanhe de Portugal e vamos já abrir uma", revelou, na ocasião, Celorico Moreira, chefe da Missão olímpica portuguesa.
Rosa Mota ganhou o direito a uma bolsa de três mil contos (15 mil euros), atribuída pelo Governo e José Pedrosa, técnico da atleta, recebeu metade. A marca que patrocinava a atleta ofereceu-lhe 5000 contos (25 mil euros).
No Porto, na redação do JN, a prova foi seguida madrugada dentro. O jornal enviou depois um telegrama de felicitações à nova campeã olímpica da maratona: "Em nome de todos os trabalhadores do "Jornal de Notícias", o Conselho de Administração agradece-lhe Rosa Mota, toda a alegria que nos proporcionou durante esta inesquecível e histórica madrugada de vigília profissional. Uma maratona de parabéns", podia ler-se na missiva, publicada no dia seguinte ao memorável êxito da menina da Foz do Douro.