Após cortes de Bolsonaro, os direitos televisivos e banco online financiam Flamengo.
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Depois de arrumar a casa financeiramente, o Clube de Regatas do Flamengo entrou já em 2019 com expectativas desportivas elevadas, que a recente contratação de Jorge Jesus veio reforçar.
O treinador português, de 64 anos, vai iniciar funções na próxima semana no maior clube brasileiro (a "torcida" está calculada em 37 milhões de adeptos), apostando na segunda experiência no estrangeiro, após a estreia na Arábia Saudita, para devolver o "Fla" ao topo do futebol do Brasil.
Além de ser o clube com mais adeptos, o Flamengo modernizou-se nos últimos anos, incrementou a massa associativa, que já ultrapassa os 115 mil sócios quando há dez anos nem metade tinha, e tem tido para cima de 40 mil adeptos nos jogos em casa. Paralelamente, resistiu a uma crise económica e a cortes oficiais decretados, após a eleição de Jair Bolsonaro. O novo presidente do Brasil proibiu a Caixa Econômica Federal de continuar a patrocinar o Flamengo, mas o clube resolveu a falta de seis milhões de euros anuais, ao chegar a acordo com o banco online bs2, que lhe garante 3,4 milhões de euros mas, mediante certos objetivos, pode chegar aos números anteriores. E mantém, nas costas e mangas das camisolas, outros patrocínios, que lhe valem mais 6,6 milhões de euros.
Melhor foi a renegociação de contratos televisivos, que permitiu ao Flamengo passar a ser o clube que mais recebe (75 milhões de euros em 2019), dado que os novos valores beneficiam, sobretudo, quem "garante" maior audiência. Verbas que deram outro fôlego ao clube para passar a ter o maior orçamento do Brasileirão (175 milhões de euros).
Em três frentes
Face a uma realidade financeira favorável, Jorge Jesus, contratado por um ano, a troco de quatro milhões de euros, tentará devolver a esperança ao "Mengão", na mira de reconquistar o título brasileiro, que lhe escapa desde 2009.
Substituto do brasileiro Abel Braga, que conduziu a equipa no primeiro semestre deste ano, o técnico português tem estreia prevista para 10 de julho, no reduto do Atlético Paranaense, na primeira mão dos quartos de final da Taça do Brasil. Mas as principais apostas estarão no Brasileirão, com estreia marcada para 14 de julho, no Maracanã, frente ao Goiás, competição em que o "Fla" ocupa a terceira posição, a cinco pontos do líder Palmeiras, treinado por Luiz Felipe Scolari, ex-selecionador português e principal candidato ao título.
Em cinco meses e até dezembro, o Flamengo terá de disputar 29 jogos no campeonato, sem esquecer a Taça dos Libertadores, que não vence há 38 anos e em que está nos oitavos de final e vai disputá-los com o Emelec, do Equador (jogos a 25 de julho e a 1 de agosto).
Poucos técnicos lusos no país irmão
Ao aceitar o convite do Flamengo, Jesus aumentou o lote de treinadores portugueses no Brasil. Mas continuam a ser muito poucos. Além de Paulo Morgado (ver página ao lado), Fernando Lage está no Brasil, no comando do Sul América, equipa de Manaus, no estadual. No passado recente, dois treinadores lusos passaram pelo futebol brasileiro: Sérgio Vieira, ex-treinador do Famalicão que vai orientar o Farense na próxima época, trabalhou no Brasil entre 2015 e 2017, no Atlético Paranaense, Ferroviária, América Mineiro e São Bernardo. Mais mediática, mas sem sucesso, foi a passagem de Paulo Bento pelo Cruzeiro (2016). O ex-selecionador português orientou só 17 jogos pelo clube de Belo Horizonte.
Casa na Barra da Tijuca e motorista entre as mordomias
Jorge Jesus ainda não escolheu a casa para morar no Rio de Janeiro, mas é certo que a opção vai recair num apartamento situado num condomínio de luxo, na Barra da Tijuca, um dos locais cariocas mais nobres, na zona norte da Cidade Maravilhosa.
Este mês e na primeira viagem ao Brasil, em que encetou as reuniões iniciais com os dirigentes do Flamengo e foi oficialmente apresentado como novo treinador do clube, Jesus teve também a oportunidade de visitar alguns apartamentos, todos situados na Barra da Tijuca, mas ainda não tomou uma decisão concreta sobre o assunto.
Na próxima semana, quando for definitivamente para o Rio de Janeiro com o intuito de começar a trabalhar, o técnico português voltará de igual modo a visitar mais casas, para tomar uma decisão, em termos de residência.
Certo é que Jesus tenciona viver sozinho, durante o ano de contrato que celebrou com o Flamengo, estando, no entanto, previstas algumas visitas de familiares ao treinador.
Hotel em frente à praia
Nos primeiros tempos no Rio de Janeiro, Jorge Jesus vai instalar-se no Windsor Barra Hotel, uma unidade de cinco estrelas, na primeira linha de mar, onde poderá usufruir de todas as mordomias típicas de uma infraestrutura de luxo, mesmo em frente à praia da Barra da Tijuca. Um hotel, de resto, onde já ficou quando foi assinar contrato.
Atentos a todos os pormenores, os dirigentes do Flamengo já prometeram ao treinador que lhe vão conceder várias mordomias, extra vencimento, para lhe facilitar a integração numa realidade social diferente. A contratação de um motorista particular é uma das benesses a conceder até para enfrentar o trânsito carioca.
Flash: "Está 20 anos à frente da maioria dos treinadores brasileiros"
Paulo Morgado Técnico luso, adjunto do Fast Clube, da série D do Brasil, fala sobre o Brasileirão
Desde 2011 a trabalhar no Brasil, o técnico português Paulo Morgado, de 44 anos, atual treinador adjunto do Fast Clube, de Manaus, conhece a realidade do futebol brasileiro, em diferentes patamares. Ao JN, antecipa o que poderá acontecer a Jorge Jesus à frente do Flamengo.
Ficou surpreendido com a escolha do Flamengo?
De certo modo, sim. Mas acredito que vai trazer resultados positivos ao clube. Quem vai ganhar mais é o futebol brasileiro. Jesus está 20 anos à frente da maioria dos treinadores brasileiros e a qualidade de trabalho que tem vai resultar no Flamengo.
Quais serão os grandes desafios de Jesus?
É um treinador de excelência, mas terá de enfrentar uma torcida exigente, a maior do país, e uma Imprensa muito agressiva, que não o conhece, por não vir de clubes como o Real Madrid ou o Barcelona. A grande dificuldade será mesmo lidar com a Imprensa. O futebol brasileiro é um mercado difícil, mais do que em Portugal ou Espanha, há muitos treinadores e muito preconceito. Admito dificuldades, mas isso será um desafio extra para ele.
O jogador brasileiro adapta-se facilmente aos métodos de trabalho de um técnico português?
Não. A maioria das equipas têm métodos muito diferentes dos utilizados em Portugal. Aqui, em geral, treinam duas horas, duas horas e meia, com pouca intensidade. Para alguns poderá ser um choque.
E as perspetivas desportivas?
É mais difícil ser campeão brasileiro do que ganhar a Taça Libertadores, mas creio que Jesus pode vencer as duas provas. Acredito que ele vai ganhar títulos, é experiente e conhecedor. Não pode é entrar em mind games, nem ter tiradas do género "sou o maior"... Aqui de bestial a besta é um milímetro. Um ano a trabalhar no Brasil equivale a dois ou três na Europa. Mas se lhe derem tempo, tem tudo para ser bem-sucedido.