Gondomar recorda Diogo Jota, que nasceu e cresceu no centro da cidade. O jogador é lembrado como o “menino” simples e humilde, que nunca esqueceu as raízes.
Corpo do artigo
As palavras são difíceis de encontrar. No coração da cidade de Gondomar, onde nasceu e cresceu o internacional português, é difícil traduzir por palavras os sentimentos que por ali se vivem. Na manhã desta quinta-feira, São Cosme acordou com a trágica notícia da morte dos “meninos da terra”: Diogo Jota e André Silva. “Não mereciam isto, ainda tinham muita felicidade para viver”, afirma Ventura Pereira, vizinho da família.
Do alto da rua onde Diogo cresceu, vê-se o Douro ao longe. O lugar, calmo, conhece de perto os dois irmãos, que faleceram na madrugada de hoje, num violento acidente de viação em Zamora, Espanha. A notícia foi difícil de receber: “Ouvimos falar de muitos desastres, mas quando é com vizinhou ou com família, é difícil. É muito triste”, afirma João Ferreira. Sentado no café da rua, onde todos os dias se encontra com o avô de Diogo e André, o septuagenário recorda o internacional português. “Diziam que era do Porto, mas ele era daqui. Aquilo que dizem, de ser uma pessoa pacata, é mesmo verdade. Era mesmo uma pessoa espetacular”, acrescenta.
Ainda pequenino, antes de ingressar no mundo do futebol, Diogo Jota já chamava a atenção de toda a rua com os “jogos de bola” dentro de casa, partilhados com o irmão, André Silva. “Muitas vezes estava em casa, eu morava mesmo em frente, e ouvia ‘pum, pum, pum’… era ele e o irmão. Um fazia de guarda-redes, à entrada de uma garagem, e o outro chutava”, relembra. De voz embargada, Ventura Pereira, que vive mesmo ao lado da casa onde os irmãos cresceram, garante que, já nessa altura, era percetível o talento que os dois tinham. “Quando eram pequeninos, rebentavam com os portões a jogar à bola. A minha esposa, que não percebe nada de futebol, dizia ‘eles vão ser jogadores da bola’. Via-se que tinham ali alguma coisa diferente”, recorda.
Primeiro clube
Foi a poucos quilómetros dali que Diogo e André ingressaram no mundo do futebol, na formação do Gondomar Sport Clube. O relvado, rodeado de bancadas azuis e amarelas, foi o primeiro que o internacional português pisou. “Ele vinha para as piscinas aqui ao lado e ficava a ver, através da grade, os outros miúdos a jogar. Houve uma altura em que a bola saiu e ele começou a dar uns toques”, conta António Martins. Na altura, o funcionário do clube disse-lhe que “tinha jeito” e que se deveria inscrever. E assim foi. “A partir daí, foi um sucesso”, recorda.