O defesa falou ao JN, pela primeira vez, da saída do F. C. Porto. Diogo Queirós admite que ficou triste por não poder cumprir, no imediato, o sonho de integrar o principal plantel portista, mas quer projetar-se na Bélgica para atingir esse fim. Pelo meio, também fala dos três títulos europeus que já tem no currículo.
Corpo do artigo
Depois de nove temporadas na formação do F. C. Porto, saiu da zona de conforto para jogar no Mouscron. Como estão a correr os primeiros tempos na Bélgica?
Está a correr tudo bem. Já me integrei com os meus novos colegas, são pessoas muito humildes e acolheram-me bem. Sinto-me feliz aqui, porque tenho tido a oportunidade de jogar na primeira liga belga, que é muito competitiva. Está a ser uma excelente experiência para a minha carreira.
Mas a ambição de jogar na primeira equipa do F. C. Porto mantém-se. Correto?
Sim, claro, foi por isso que saí por empréstimo sem opção de compra. Só espero que, aqui, tudo me corra da melhor maneira para me poder mostrar e ganhar experiência. Depois, na próxima época, logo se verá o que vai acontecer.
Antes da oficialização do empréstimo, Sérgio Conceição afirmou: "Vamos ver se o Diogo Queirós fica ou se joga na Liga, porque acreditamos que no futuro próximo pode ser um elemento importantíssimo para o F. C. Porto". Como recebeu estas palavras?
É bom saber que o treinador acredita em mim, mas obviamente o meu maior desejo era ter conseguido ficar e jogar no F. C. Porto. Sei, no entanto, que há outros caminhos para isso. O mais importante agora é jogar e ganhar experiência para depois ter sucesso no F. C. Porto.
Ficou alguma mágoa pelo adiar do sonho de jogar na equipa principal do F. C. Porto?
Não, o sentimento não foi esse. Fiquei um pouco triste, isso sim, porque o meu desejo era ficar. Mas nada está perdido e estou feliz por estar aqui, no Mouscron.
Diogo Costa, Diogo Leite, Romário Baró e Fábio Silva, por outro lado, acabaram por ficar no plantel principal do F. C. Porto e têm tido oportunidades.
É verdade. Continuo a acompanhar o F. C. Porto e fico bastante contente quando vejo colegas meus, com quem partilhei o balneário na formação, a jogar na equipa principal. Fico bastante feliz por eles e só espero que continuem assim.
Durante a pré-temporada teve ainda a oportunidade de conviver com um dos centrais mais experientes do futebol português. Nesse período, recebeu conselhos de Pepe?
Criei uma boa relação com o Pepe. Falámos bastante e, agora, temos uma relação boa. Gostei muito de poder treinar e passar o dia a dia com um jogador tão experiente como ele. O Pepe ajudou-me e estou agradecido por isso.
Agora, a realidade é outra. Todavia, o Diogo já joga e marca no Mouscron. Esta mudança não o intimidou?
Nada. Estou a preparar-me todos os dias para estar cada vez melhor e apto para encarar o que me aparecer à frente. Estamos a fazer um arranque de época fantástico. Se continuarmos assim, poderemos fazer um campeonato bastante bom e isso é terminar no lugar mais alto da tabela. Aqui não há jogos fáceis. Na última jornada jogámos contra o último e foi muito complicado para vencermos.
Como são os dias na Bélgica?
Ainda estou a viver num hotel, mas já tratei de tudo e, nesta próxima semana, já terei casa. Agora vão ser uns dias de transição, mas no geral é treinar e voltar para o hotel, porque estou sozinho. Quando vem cá a minha família e a minha namorada, costumo aproveitar e passear um pouco, para conhecer o país.
E quando se mudar para a casa nova, continuará a viver sozinho?
Sim, mas é como se a minha família e namorada estivessem sempre comigo, porque quase todos os fins de semana terei cá alguém a fazer-me companhia.
Suponho que seja a primeira vez que vive sozinho. Como será, por exemplo, com as refeições?
Eu sei cozinhar e até recomendo a comida que faço [risos].
Referiu há pouco que foi bem recebido pelos novos colegas no Mouscron. Há algum de quem se tenha aproximado mais?
É normal que fale mais com os espanhóis, mas como também entendo francês, dou-me bem com todos.
E também já fala francês?
Um pouco. Quando era pequeno andei numa escola francesa, por isso foi mais fácil. Foi só recordar o que já tinha aprendido e estou a habituar-me bem. Como tinha essa base, embora um pouco esquecida, foi mais fácil.
O facto de conhecer a língua pesou na decisão pelo Mouscron?
Não é por aí. Foi uma escolha minha, mas não foi por causa da língua. O que queria era ir para uma equipa em que pudesse ter minutos de jogo e a oportunidade de mostrar o meu futebol. Era o que mais queria neste momento.
E o plano financeiro?
Também não. O que queria mesmo era jogar. Um jogador de 20 anos que não joga não tem valor nenhum.
Suponho que tenha tido outras propostas de Portugal...
Acho que sim, mas o meu empresário só fala comigo quando tem propostas concretas, que podem avançar. Por isso, quando me falou do Mouscron e de outras, optei por aquela que me dava melhores condições e está tudo a correr bem. Fiz uma boa escolha.
Puxando a história atrás, como é que o futebol surgiu na vida do Diogo?
Eu não tenho ninguém na minha família que tenha praticado futebol. Foi um gosto que adquiri por mim desde pequeno. A partir de uma certa idade, os jovens ou desistem ou continuam e eu fui dos que continuaram. Acreditei sempre que podia chegar a algum lado e que tinha condições para conseguir singrar no futebol.
E como ficaram os estudos?
Consegui acabar o secundário e entrar no ensino superior, na área de saúde, para tirar o curso de osteopatia, mas para já estou com a matrícula congelada. É um bom plano B para depois de terminar a carreira. Quando chegar a altura, logo se verá o que farei a esse respeito.
Tem apenas 20 anos, mas um currículo preenchido com três títulos de campeão europeu, dois pela seleção, nos sub-17 e nos sub-19, e outro pelo F. C. Porto, na Youth League. É possível destacar alguma dessas conquistas?
Isso é impossível. A dos sub-17 foi a primeira e, por isso, é especial. A dos sub-19 foi a primeira do futebol português, tal como a da Youth League. São todas únicas.
Em termos de seleção está, agora, nos sub-21, mas estando a jogar na primeira equipa de um campeonato competitivo como o belga, ambiciona ser chamado por Fernando Santos para o Euro 2020, assim Portugal se qualifique?
Portugal tem muitos jogadores de qualidade, mas se trabalhar bem e tiver bons resultados pode ser que se proporcione. De qualquer forma, o meu foco está no meu trabalho diário e não penso muito no resto. Se acontecer, acontecerá naturalmente.
Que outros objetivos tem além de jogar na equipa principal do F. C. Porto e chegar à seleção principal?
Todos os jogadores que gostam verdadeiramente de futebol desejam experimentar a Premier League e eu não sou exceção.
Quais as referências que tem na posição que ocupa?
Nunca sei responder a isso, mas no presente o que está melhor é o Van Dijk e ele é, nesta altura, o central de que mais gosto.
E os avançados mais difíceis de defrontar? São os que se dão à marcação ou os que procuram as costas dos defesas?
Ao responder a isso vou dar trunfos aos adversários (risos).
Para terminar, estando perto da Holanda, vai ver o Feyenoord-F. C. Porto no estádio?
Ainda não sei, mas de comboio consigo meter-me lá rapidamente. É possível que vá, desde que isso não afete a minha vida. Se houver possibilidade, lá estarei, caso contrário vejo pela TV.
CV:
Data de nascimento: 20 anos (05/01/1999)
Posição: defesa-central
Clubes: Leixões, F. C. Porto, Padroense e Mouscron
Títulos: Campeonato Europeu de sub-17, Campeonato Europeu de sub-19, Youth League e Campeonato nacional de juniores