Novak Djokovic e Nick Kyrgios trocaram galhardetes em court após a conquista do sétimo título em Wimbledon para o sérvio. Mas desengane-se quem pensar que o ambiente entre os dois foi sempre de boa disposição. É que o que agora ambos apelidam de "bromance", em tempos não muito distantes foi uma verdadeira ligação (ou falta dela) de puro ódio.
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"O Djokovic tem uma obsessão doentia por ser amado. O maior sonho dele é ser amado como o Roger [Federer]. E ele quer tanto isso que eu não consigo suportar. É isso e a comemoração que faz no final dos jogos. É vergonhosa". Sim, isto são afirmações de Nick Kyrgios. Referentes a 2019, é certo, mas da autoria do australiano. O mesmo que no passado domingo apelidou "Nole" de figura divina, após acabar derrotado pelo sérvio na final de Wimbledon (4-6, 6-3, 6-4 e 7-6): "Ele é como um Deus, não vou mentir".
Custa até acreditar que uma relação tão distante e, por vezes, agressiva, como chegou a ser a de Djoko e Nick possa ter chegado ao nível em que está, com ambos os tenistas a perderem-se em generosos e mútuos elogios. É que basta recuar no tempo... e não precisa de ser assim tanto.
No ano passado, após vencer Frederico Silva na primeira ronda do Open da Austrália, Kyrgios entrou num bate boca com Djokovic, que tinha afirmado publicamente que não respeitava o australiano fora de court. "Fiquei surpreendido com as palavras dele. Até posso perceber que não me respeite dentro de court por algumas atitudes minhas. Agora fora de court, onde já ajudei várias pessoas especialmente durante a pandemia, não compreendo. Ele [Djokovic] é um tipo estranho. É um grande jogador de ténis, mas não creio que possa dar desconto a alguém que durante a pandemia andou a dançar sem roupa em festas".
Palavras fortes do australiano referentes à festa do torneio organizado por Djokovic - Adria tour - que em 2020 se tornou num foco de casos de coronavírus. Na altura, o australiano já tinha deixado duras críticas ao sérvio. "As minhas orações estão com todos os jogadores que contraíram covid-19. Nunca mais digam que eu fiz algo 'irresponsável' ou 'estúpido'. Isto bate tudo", disse Kyrgios.
Mais discreto dentro do possível, Djokovic foi respondendo aqui e ali a Kyrgios, mas nunca conseguiu contrariar (até ao passado domingo) um argumento que o australiano fez questão de utilizar várias vezes: é que até à final de Wimbledon, Djoko só tinha derrotas frente a Nick.
"Não importa quantos Grand Slams ele possa vencer. Para mim nunca será o melhor de sempre. Joguei contra ele duas vezes e, desculpa, se não me consegue ganhar a mim, não pode ser o maior da história" disse Kyrgios em 2019, na mesma altura em que deixou outras provocações. "A comemoração dele [Djokovic] mata-me. Da próxima vez que eu jogar contra ele, se ganhar, vou festejar da mesma forma. E vou fazê-lo na frente dele. Vai ser hilariante", disse Kyrgios.
Seja como for, a verdade é que o australiano não teve oportunidade de o fazer, pois desta vez foi Djokovic quem levou a melhor. E mesmo que não tivesse conseguido o triunfo, Kyrgios não iria seguir esse caminho. Afinal, o australiano está de pazes feitas com o sérvio e com o passado enterrado até "Nole" acabou por se perder em elogios.
"Nick, vais voltar. Não apenas em Wimbledon, mas noutras finais. Respeito-te imenso, és um jogador e atleta fenomenal. Já te disseram isso muitas vezes. Está tudo a começar a alinhar-se e estou certo que vamos ver-te mais vezes nas fases decisivas dos Grand Slams. Nunca pensei dizer tantas coisas boas de ti, considerando a nossa relação... Bem, estamos oficialmente num 'bromance'", atirou Djokovic após a sétima vitória em Wimbledon.
Veremos até quando é que pode durar este "bromance", que começou no drama do Open da Austrália (Djokovic foi impedido de competir por não estar vacinado) onde Kyrgios se revelou como um dos poucos tenistas a favor do sérvio. "Sinto que era praticamente o único a defendê-lo. Foi aí que o respeito entre ambos foi conquistado", disse Kyrgios.