O treinador Domingos Paciência esteve, esta tarde, na Casa da Juventude de Gondomar à conversa com jovens alunos do 10.º ao 12.º anos das escolas secundárias de Gondomar e São Pedro da Cova, a falar sobre os valores do Desporto, no âmbito da rubrica "Conversas Informais", inserida na programação da Cidade Europeia do Desporto.
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O atual treinador de futebol, de 48 anos, era para se fazer acompanhar do filho Gonçalo Paciência, jogador da equipa principal do Rio Ave, mas este não pode marcar presença devido a compromissos com a seleção nacional de sub-21.
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Mais de meia centena de pessoas, a maioria estudantes, encheu o espaço para ouvir, durante mais de hora e meia, a referência no F. C. Porto na década de 90. A infância pobre e complicada, o início da carreira, os passos dados para atingir o estrelato, as "estórias" com os colegas de equipa e a mudança de rumo foram abordados pelo antigo ponta de lança dos dragões e da seleção portuguesa. Não escaparam aos escrutínio do público presente a introdução das novas tecnologias, bem como as atuais polémicas no futebol nacional.
Sonho de criança
"Sempre sonhei ser jogador de futebol, jogar perante 120 mil pessoas e representar a Seleção Nacional. Mas para chegar lá é preciso gostar muito do futebol. Comecei com oito anos na Académica de Leça e não havia as condições que há hoje. Jogávamos em pelado ou na estrada", recorda Domingos Paciência, reconhecendo que o futebol o desviou "de outros caminhos" e o ajudou ter metas de vida.
"Temos de ter uma personalidade forte e ambição para alcançarmos o objetivo de chegarmos ao topo. E nesse aspeto o nosso crescimento é muito importante, pois temos de ter perceção do que está à nossa volta. O facto de ter crescido numa zona humilde e muito pobre moldou a minha personalidade e tornou-se num adulto diferente", salientou o treinador, perante uma plateia atenta e muito participativa, anotando que sempre estipulou prazos.
"Quando era jogador disse que aos 32 anos ia deixar de jogar e assim foi. Da mesma forma que quando estava a treinar a Académica, a segunda equipa que orientei, disse ao presidente que em cinco ou seis anos estaria a treinar um grande e após esse tempo estava no Sporting", frisa Paciência.
Os bons e mais exemplos dos colegas de profissão também foram um alerta para o ex-internacional luso seguir um trajeto que lhe garantisse um futuro mais tranquilo. "Sempre ouvi o conselho dos mais velhos e aprendi muito com eles. Os maus exemplos mostraram-me o caminho que não queria seguir. Os bons ensinaram-se a preparar a vida para ter um futuro bom", refere o convidado do "Conversas Informais", apontando o capitão João Pinto, pelo profissionalismo e carácter, como a grande referência que teve no futebol.
Aos mais jovens deixa um alerta: "Arrependo-me de não ter avançado mais nos estudos. Hoje em dia é possível conciliar os estudos com o futebol. Procurem ir o mais longe possível na escola pois isso vai deixar-vos mais preparados para o futuro".
Família é o maior feito
A carreira do filho Gonçalo, que lhe seguiu as pisadas, tal como o irmão mais novo, Vasco, jogador dos sub-17 do F. C. Porto, também foi tema de conversa. Evitar dar conselhos, mas tenta ajudá-lo a melhorar determinados aspetos do jogo. "Sofro mais a vê-los jogar, do que quando era eu a estar em campo", atira, mostrando-se desagradado com as comparações a que, especialmente, o jogador do Rio Ave é alvo.
"Quando me viam na rua com os meus filhos as pessoas dirigiam-se a eles e perguntavam-lhes se ia ser como o pai. Ora, isso vai ter um impacto muito grande numa criança de seis ou sete anos. Eu segui um determinado caminho. Agora é o Gonçalo que tem de trilhar o rumo dele no futebol profissional", diz o treinador, anotando que isto também se aplicará quando chegar o momento de Vasco.
"Nunca pressionei os meus filhos a serem jogadores de futebol, nem nunca os tirei de lá. Por exemplo o meu filho mais velho, o João, jogou quando era criança e quis sair. É uma escolha que lhes cabe a eles fazer", salienta.
Aliás, para Domingos Paciência a família é o maior feito. "Tenho em casa três jovens fantásticos, que têm orgulho em mim e seguem os princípios que lhes incuti", afirma.
E passado todos estes anos, o ex-avançado diz-se orgulhoso da carreira que fez e da imagem que sempre passou dentro e fora de campo. "Vim do nada e hoje tenho alguma coisa. Mas a minha maior riqueza é o que tenho em casa: a minha família".