A Associação de Futebol de Braga elege esta sexta-feira o sucessor de Manuel Machado, que sai após 14 anos na presidência. A disputa entre Miguel Azevedo (Lista A) e Pedro Sousa (B) ficou marcada, nas últimas horas, por trocas de acusações de alegada ingerência política e pressões externas e de utilização de meios da própria associação para condicionar votos.
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A menos de 24 horas das eleições da Associação de Futebol de Braga, a segunda maior do país em clubes filiados (217), o ambiente aqueceu entre as duas candidaturas à presidência. Miguel Azevedo, cabeça da Lista A, lançou um comunicado em tom duro, denunciando alegadas "ingerências políticas" no processo eleitoral. Do outro lado, Pedro Sousa, líder da Lista B, respondeu com igual firmeza, acusando a candidatura rival de recorrer a "mentiras grosseiras" e a práticas contrárias ao espírito associativo.
No comunicado oficial, a Lista A sustenta que nos últimos dias houve tentativas de condicionamento dos clubes filiados, mediante convites para jantares pagos e promessas de apoios futuros. Miguel Azevedo fala num "plano orquestrado" por figuras políticas ligadas ao Partido Socialista e alerta para o risco de "um regresso a um passado negro em que os políticos controlavam instituições desportivas para benefício próprio". O candidato defende que a AF Braga deve manter-se independente e que o futuro do futebol distrital "não pode ser decidido em gabinetes políticos".
A reação da Lista B não tardou. Pedro Sousa classificou as acusações como "mentirosas, soezes e inqualificáveis", afirmando que correspondem ao "desespero de quem pressente a derrota nas urnas". O jurista acusa ainda a Lista A de ter usado meios da própria Associação para "comprar votos" com decisões arbitrárias, não aprovadas em reunião de direção. Sublinhando a transparência da sua candidatura, Pedro Sousa anuncia que, caso vença, irá encomendar uma auditoria externa independente à AF Braga, de forma a esclarecer os clubes sobre "o que se procura tão ferozmente esconder".
Sucessão de Manuel Machado
As duas listas concorrem à sucessão de Manuel Machado, presidente da AF Braga há 14 anos, mas que em junho deste ano apresentou formalmente a sua demissão da presidência, invocando motivos pessoais e familiares, abrindo assim caminho para uma das eleições mais disputadas da história recente da associação.
Entre os apoios públicos, destaque para o Famalicão, que se posicionou ao lado da Lista A, enquanto o Vitória Sport Clube, Sporting Clube de Braga e Gil Vicente manifestaram apoio à Lista B. As eleições da AF Braga vão decorrer no Auditório da Associação, entre as 17h30 e as 22h00.
Miguel Azevedo aposta na "comunicação e proximidade"
Engenheiro civil de 49 anos e dirigente da AF Braga há oito anos, Miguel Azevedo apresenta-se como o candidato com conhecimento da realidade da instituoção. "Estou mais do que preparado. Os dirigentes conhecem-me, acompanho semanalmente as competições e sei melhor do que ninguém a realidade do futebol distrital", sublinha.
O seu programa assenta em quatro eixos centrais. O primeiro é a comunicação, com a criação de um departamento de imagem e, sobretudo, da AF Braga TV, que transmitirá jogos e dará visibilidade às competições distritais. O segundo eixo é a formação, com a implementação da Braga Football School, dedicada a treinadores, dirigentes, adeptos e gestores desportivos. "Um dirigente qualificado é sempre um melhor dirigente. Queremos oferecer formação adaptada à realidade do futebol distrital", reforça.
O terceiro pilar é a proximidade com os clubes, através de reuniões descentralizadas nos vários concelhos e uma relação mais direta com os dirigentes.
Por fim, o quarto eixo prende-se com o saneamento financeiro. Reconhecendo a gestão equilibrada deixada por Manuel Machado, Azevedo quer enfrentar o problema das dívidas acumuladas por alguns clubes, propondo um regulamento financeiro que permita regularizar situações em dois anos. "Quando todos estiverem em igualdade de circunstâncias, teremos condições para uma verdadeira mudança de paradigma", garante.
Pedro Sousa defende "um projeto corajoso de mudança"
Jurista, empresário e deputado na Assembleia da República pelo PS, Pedro Sousa, 44 anos, apresenta-se como o rosto da rutura. "As últimas semanas mostraram a necessidade de um projeto corajoso de mudança, que não seja apenas um exercício de cosmética ou dança de cadeiras", afirma.
Para o candidato, a AF Braga vive afastada dos clubes e perdeu representatividade a nível nacional. "Na última Assembleia Geral estiveram apenas quatro clubes em 217. Isso mostra uma associação sem diálogo e sem proximidade", denuncia. Pedro Sousa defende um modelo de escuta ativa e uma direção "centrada nos problemas e necessidades dos clubes".
O programa da Lista B propõe medidas estruturantes como criação de uma estrutura de apoio jurídico, contabilístico e de comunicação para os clubes; alargamento do horário de funcionamento da associação; redução de 10% nas taxas ao longo de três épocas; consulta ao mercado para negociar melhores seguros; e definição de um regulamento transparente para atribuição de apoios.
Entre os projetos de maior impacto destacam-se a Casa do Futebol Distrital, a Academia de Arbitragem, o Braga Football Hub em parceria com a Universidade do Minho e a AF Braga TV. "É preciso devolver à associação um papel de liderança nacional que perdeu. Temos de usar os mais de 3 milhões de euros de depósitos como investimento em modernização e capacitação dos clubes", explica. Para Pedro Sousa, a escolha é clara: "Quem quiser mudança tem na nossa candidatura a única opção capaz de dar um novo fôlego à AF Braga".