José Soares, natural de Trás-os-Montes, emigrou para França com os pais, com seis anos de idade. Começou a trabalhar em restauro nos anos 80 do século passado e acabou por fundar, há 35 anos, em Estrasburgo, a Entreprise pour la Conservation du Patrimoine (ECP).
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A empresa de produtos e técnicas inovadores para conservação e restauro de património está atualmente na linha frente do mercado, através de várias parcerias, com soluções que utilizam desde bactérias, a óleos essenciais e laser, para restaurar monumentos históricos.
A ECP, que entretanto também se instalou em Portugal há cinco anos (Fafe), é uma das empresas representadas na 2a edição dos Encontros Programa Nacional de Apoio ao Investimento da Diáspora (PNAID), que está a decorrer desde esta quinta-feira até sábado, em Viana do Castelo, com cerca de 700 participantes inscritos.
“Nos anos 90 compreendi que havia possibilidade de fazer de outra forma os restauros. O meu interesse naquele tempo foi criar a empresa ECP para produzir técnicas da arte que conhecia bem”, recorda o empresário de 62 anos, que tem dupla nacionalidade e falou ao Jornal de Notícias no seu stand nos encontros da diáspora, que decorrem no Centro Cultural de Viana do Castelo.
De pequena empresa, a ECP tornou-se referência e ganhou terreno no desenvolvimento de produtos de limpeza e restauro, e técnicas ecológicos. “Agora temos parceiros em Itália e França, que são líderes na arte deles. E aqui apresentamos uma patente que foi desenvolvida por uma grande empresa que se chama Soletanche Bachy, que faz parte do grupo conhecido em Portugal como Rodio, e estamos a trabalhar no metro do Porto e de Lisboa, com grande tecnologia”, adiantou José Soares, descrevendo: “Essa mesma empresa desenvolveu uma solução patenteada que pode reproduzir a propriedade da pedra baseada na capacidade de uma bactéria. Essa técnica já foi utilizada no Museu Machado de Castro em Coimbra”.
José Soares explica que pela ação da referida bactéria é possível “consolidar, endurecer, uma pedra quando ela começa a ficar frágil, depois de 200 e 300 anos”. “É totalmente inovador”, comentou, sublinhando que “o mundo científico está agora muito interessado nas bactérias. Na nossa arte evidentemente, mas não só, também em outras áreas. As bactérias têm capacidades que ainda estão, muitas, a ser descobertas”.
De entre “as técnicas de restauro que já são bem conhecidas em França e começam agora a ser conhecidas em Portugal”, o empresário destaca também a utilização de uma solução natural à base de óleos essenciais para limpeza de “p musgo, o líquen e as algas”. “Temos resultados fantásticos. Já temos várias referências em Portugal”, frisou, acrescentando que a adopção de “vários tipos de laser para limpeza de pedra, folha de outro, pinta de cavalete, etc”. “Damos formação cá em Portugal, em Tomar, onde futuros restauradores e conservadores já vão utilizar essas técnicas”, disse, concluindo que, atualmente, a ECP “factura três milhões de euros, tem 25 empregados e está a crescer”.
Nos Encontros PNAID de Viana do Castelo, segundo a organização, “17 por cento” dos participantes residem e têm empresas no estrangeiro. São provenientes do Brasil, França, Angola, Estados Unidos da América, México e Canadá.
Segundo Cristina Coelho, coordenadora do PNAID, aquele programa “está a ter resultados muito bons”. E do “networking” promovido em encontros como o que está a decorrer na capital do Alto Minho, “nascem negócios e parcerias”. “Por isso é que temos aqui dinâmicas muito específicas. Vamos ter quase 40 apresentações breves que promovem o networking”, afirmou.
Durante os três dias da iniciativa, que se apresenta como “o maior fórum da economia da diáspora portuguesa para a estratégia de desenvolvimento e coesão territorial do país”, o foco será este ano “a economia azul e a sustentabilidade”.
O programa contempla a presença em Viana do Castelo, de “cinco ministros e seis secretários de Estado” do Governo de gestão, e do ministro das Comunidades de Cabo Verde, Jorge Santos.
