Contra todas as expectativas, o clube da Alsácia espreita o regresso à Liga dos Campeões, 45 anos depois, no meio de um clima de desconfiança dos adeptos em relação aos proprietários.
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O maior grupo organizado de apoio ao Estrasburgo tem um longo historial de antagonismo contra proprietários do clube. Contestou Mark McCormack, Alain Fontenla ou Jafar Hilali e, desde 2023, protesta de várias formas e feitios contra a BlueCo, a empresa liderada por Todd Boehly, que começou por adquirir o Chelsea e logo se lançou num modelo “multi-club”, que passa por criar uma rede de clubes todos ligados entre eles, sob a mesma liderança. Seguiu-se o Estrasburgo, então, mas a incursão no emblema da Alsácia mereceu forte contestação, principalmente dos Ultra Boys 90 que, desde a primeira hora, estão na linha da frente dos protestos. A desconfiança é legítima: afinal, foi por causa de proprietários irresponsáveis e gestões desportivas e financeiras para lá de danosas que, em 2011, o Estrasburgo caiu na quinta divisão. Reergueu-se entretanto por causa de Marc Keller, o homem que pegou no clube nessa altura.
Em todos os jogos no Estádio de la Meinau, os Ultra Boys 90 ficam calados nos primeiros 15 minutos; em muitos, ergueram tarjas contra a BlueCo. “O Racing não é mais independente, não tem mais ambições próprias e está a ser despojado de sua essência”, defende a claque. Mas se no início até acolhiam apoio e compreensão entre a maioria dos adeptos, agora o cenário é diferente. E a culpa é de um grupo de rapazes, liderados por um treinador negro, jovem e estrangeiro.
Pouco mais de 10 anos depois de bater no fundo, o Estrasburgo está nos lugares cimeiros da Ligue 1 (quarto lugar) e acredita num regresso à Liga dos Campeões, 45 anos depois da primeira e única presença na competição milionária. O inglês Liam Rosenior sucedeu a Patrick Vieira e esta espécie de milagre – nas duas últimas épocas, o Racing acabou a liga em 15.º e em 13.º – é-lhe atribuído em grande medida, sendo ele a principal razão por que um plantel cuja média de idades é a mais baixa entre os 10 principais campeonatos do futebol europeu (22,7 anos) estar a superar as expectativas e com isso acalmar a contestação à BlueCo, que começa a ganhar aliados nas bancadas.
Também houve apelos à união por parte do presidente Marc Keller tendo em vista a fase decisiva da época. Por estes dias, coisas mais importantes se levantam no Estádio de la Meinau. Os protestos, Ultra Boys 90, que esperem.