Técnico do Manchester United bebeu do catalão durante dois anos, em Munique. Amanhã defronta o mentor pela primeira vez.
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Não é a primeira vez que Erik ten Hag e Pep Guardiola evoluem, na vida e na carreira, lado a lado. Antes de se estabelecerem em polos opostos de Manchester, foram muito mais amigáveis e amigos em Munique, onde conviveram durante dois anos. O atual treinador do Manchester City orientava, então, o Bayern, enquanto o neerlandês que agora tenta ressuscitar o Manchester United dava os primeiros passos na carreira de treinador principal, nas reservas do clube bávaro. Eram vistos muitas vezes juntos e, ao longe, até se confundiam, tais as semelhanças físicas. Desde aí, também se confundem nas ideias que partilham e que alimentam as respetivas filosofias de jogo. Amanhã, uma década depois de se terem conhecido, defrontam-se pela primeira vez.
Quando Erik ten Hag foi dado como certo no comando técnico dos "red devils", Guardiola foi dos primeiros a comentar a novidade: "É um treinador de nível mundial. Vejam o Ajax dos últimos anos e entenderão", afirmou. "As suas equipas eram uma alegria, era sempre bom ver o Ajax", acrescentou. Os elogios compreendem-se. Afinal, muito daquele Ajax teve a sua génese no Barcelona e, principalmente, no Bayern que o treinador catalão construiu.
Entre 2013 e 2015, os corredores, os relvados e os gabinetes de Sabener Strasse (o centro de treinos do campeão germânico) testemunharam conversas mais ou menos longas entre os dois que culminaram numa espécie de lavagem cerebral que levou Ten Hag a render-se ao "guardiolismo". Para além das conversas, o neerlandês tinha acesso privilegiado aos treinos de Guardiola: tirou apontamentos, encheu cadernos e estudou a fundo as ideias, as táticas, as convicções, a liderança do mentor. "É um inovador e uma inspiração. A sua filosofia é sensacional e quero implementá-la no Ajax", assumiu, em 2019.
Recebida a bênção, Erik ten Hag, que começou a carreira na formação do Twente e teve outras experiências como adjunto, ganhou asas. Seguiu para o Utrecht, onde conciliou a direção desportiva com o cargo de treinador, e levou o clube a uma das melhores classificações de sempre (quarto lugar). Depois, foi para o Ajax conquistar títulos - três campeonatos, duas taças -, deslumbrar por essa Europa fora e quase atingir a final da Liga dos Campeões. A dúvida era apenas saber qual o colosso que o iria contratar e não deixa de ser simbólico que, quase dez anos depois de se conhecerem, o destino o voltasse a juntar a Pep Guardiola, embora como adversário. Amanhã, no Etihad, o feitiço pode virar-se contra o feiticeiro.