<p>Dificilmente um clássico poderia ser disputado entre duas equipas orientadas por treinadores com estilos tão diferentes. Quem os vê no banco, nos jogos, ou quem já foi orientado por ambos, realça as suas características e projecta o teste de fogo de domingo, na luta pelo título de 2009/10.</p>
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"São dois excelentes treinadores, com provas dadas, mas muito diferentes", acentua Cândido Costa, que foi orientado por Jesualdo (Braga) e Jesus (Belenenses). O defesa destaca a faceta "calma e metódica" do técnico portista, em contraponto com o benfiquista, "mais emocional, mais efusivo e mais nervoso".
O jogador do Belenenses salienta ainda as cambiantes tácticas de ambos, com Jesualdo a privilegiar o 4x3x3 e o homólogo a preferir o losango, em 4x4x2. "É mais difícil um jogador habituar-se ao estilo de Jesus. Tem de ser o próprio a adaptar-se às características do treinador", salienta Cândido Costa.
Paulo Jorge, que trabalhou com os dois treinadores no Braga, acha que ambos têm um estilo semelhante, sobretudo na preparação dos jogos. "Estudam bem os adversários, transmitem exaustivamente as suas características, mas, depois, durante os jogos, se Jesus dá indicações para dentro de campo desde o primeiro segundo, Jesualdo fala pouco e aposta sobretudo nas palestras antes e ao intervalo", compara o actual jogador dos cipriotas do APOEL Nicósia.
No trabalho diário, o central acha que os métodos "são semelhantes". Os dois treinadores "gostam de sofrer poucos golos e trabalham muito a questão defensiva", com a diferença de o técnico do Benfica privilegiar os automatismos com os quatro defesas juntos, enquanto Jesualdo aposta na vertente individual, procurando "maximizar o rendimento de cada um".
"O Jesualdo é o melhor treinador do mundo para o F. C. Porto, porque é um homem de grande consciência e sensatez, numa estrutura já montada por José Maria Pedroto e Pinto da Costa, e é homem para ficar muitos anos no F. C. Porto", vaticina Manuel Sérgio. O filósofo, que conheceu Jesualdo quando o técnico era estudante universitário no INEF (Instituto Nacional de Educação Física), tem ultimamente lidado de perto com Jorge Jesus, a quem tem, inclusivamente, dado alguns conselhos. "É outro estilo. Falámos muito, ele gosta de me ouvir e sinto que está a fazer milagres no Benfica. É um excelente profissional, mas falta-lhe uma estrutura à altura, idêntica à do F. C. Porto", compara.
"O F. C. Porto é muito mais forte do que o Benfica e, em princípio, ganha o jogo", projecta o catedrático de desporto, ciente de que "as diferentes estruturas dos dois clubes, acabam por se projectar nas duas equipas" e isso acaba por ser mais importante do que "as características de ambos".
Já Paulo Jorge acha que, a respeito das divergências entre os dois treinadores, no clássico que se avizinha, as diferenças "diminuem significativamente", prevendo, por isso, "um jogo muito táctico, com as equipas a encaixarem-se uma na outra, o que pode resultar num empate".
Por sua vez, Cândido Costa junta-lhe um pormenor, que, sustenta, pode desequilibrar o jogo. "Jesualdo está num patamar mais elevado, porque está mais habituado a estes jogos. Jesus chegou agora a um grande e, apesar de estar muito à frente, em varias situações, é natural que sinta dificuldades no clássico", compara o jogador do Belenenses.
Clássico vai ter lotação esgotada
O clássico de domingo, entre Benfica e F. C. Porto, vai ser presenciado por uma moldura humana superior a 63 mil espectadores. Ao que apurámos, os responsáveis encarnados acreditam que a procura será superior à oferta, pelo que o novo Estádio da Luz vai esgotar pela 16.ª vez, a terceira ocasião entre os dois clubes: Liga 2004/05 e 2006/07. Nacional de Montevideu, Sporting, Inter de Milão e União de Leiria em 2003/04; Anderlecht, Sporting, duas vezes, e Belenenses suscitaram idêntica atitude dos adeptos na época seguinte. Liverpool, Manchester United e Barcelona foram responsáveis pela repetição do fenómeno em 2005/06. Na presente temporada, as águias voltaram a transaccionar todos os ingressos nos jogos com AC Milan e Atlético de Madrid.