De acordo com dados fornecidos pelas associações, existem mais de 500 em Portugal. Sp. Viana do Alentejo só tem dois portugueses.
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Portugal é uma porta de entrada na Europa e uma janela que se abre no horizonte de muitos jogadores estrangeiros. O sonho é representado por uma bola e o nosso país uma rota com passagem obrigatória rumo aos "grandes palcos". A contratação de estrangeiros por equipas dos campeonatos distritais tem vindo a ganhar dimensão. Para perceber o fenómeno, o JN contactou todas as associações de futebol, mas só Viana do Castelo, Vila Real, Aveiro, Leiria, Setúbal, Évora e Beja forneceram dados relativos a 2018/19. De acordo com as informações, mais de 500 estrangeiros militam nesses distritais. O JN também fez pesquisas e encontrou clubes com números expressivos: o Olivais e Moscavide (A.F. Lisboa) tem 21 estrangeiros, o São Pedro da Cova (A.F. Porto) 11 - ver página ao lado -, o Cartaxo (A.F. Santarém) dez e o Sp. Viana do Alentejo tem 21 (20 são brasileiros) - e apenas dois são portugueses.
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Uns chegam pelas mãos de empresários, outros por recomendação de familiares. Para muitos, o futebol é a única saída para uma vida melhor. A vontade de singrar, associada aos baixos salários - ou, muitas vezes, à falta deles - explicam, em parte, o aumento da aposta dos clubes. Por outro lado, alguns emblemas têm outros problemas. O interior desertificado e a dificuldade em construir um plantel fazem com que Joaquim Saraiva, presidente do Régua, receba estrangeiros - já foram 11 esta época: "A maior parte dos jovens quer ir para a universidade. Temos de procurar alternativas e os estrangeiros são uma boa opção". Em situação idêntica está o Alvarenga, da A. F. Aveiro. Situado numa aldeia com apenas 800 habitantes, conta com 13 estrangeiros, e sente na pele as mesmas dificuldades. "Não é fácil constituir um plantel com um nível competitivo alto, quando vivemos numa aldeia. Providenciamos habitação, alimentação e garantimos uma presença a tempo inteiro nos treinos", diz o presidente Marco Rodrigues. Também na A. F. Aveiro, o Famalicão tem um plantel com 21 jogadores e 18 são estrangeiros, mas o presidente do clube não quis prestar esclarecimentos. Para Rogério Lagarto, presidente do Sp. Viana do Alentejo, "a opção prende-se com questões financeiras" e com "a qualidade dos jogadores" que classifica como "muito boa".
Os atletas oriundos do Brasil, Angola, Guiné-Bissau e Moçambique estão no topo das preferências. Muitos vieram para jogar, mas acabaram "abandonados" pelos empresários. A contratação de estrangeiros é um tema sensível, que envolve diversos fatores a nível humano e económico. No mês passado, o SEF (Serviço de Estrangeiros e Fronteiras) identificou oito estrangeiros do Palmeiras (A. F. Braga) por se encontrarem em situação irregular. O mesmo sucedeu no Coruchense (A.F. Santarém) com 11 ilegais. Muitos vivem em más condições. Mas continuam a sonhar com o estrelato.
Não há limites nas inscrições
O regulamento competitivo da Federação Portuguesa de Futebol (FPF), no qual as associações se baseiam, não prevê qualquer condicionante no que respeita ao número limite de jogadores estrangeiros. Neste sentido, a questão regulamentar prevê, apenas, que nos 18 inscritos na ficha de jogo tenham de constar dez elementos formados localmente - três épocas inscritos entre os 12 e os 21 anos - e três sub-21, levando a que os clubes recrutem cada vez mais cedo os jogadores. Não só para que cumpram os requisitos da FPF, como, também, para que sejam mais valorizados numa possível transferência.