Um conto de fadas. A presença de Portugal, pela primeira vez, num Campeonato do Mundo, foi coroada de sucesso e teve um rei: Eusébio da Silva Ferreira.
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Em 1966, a equipa das quinas, liderada no banco por Otto Glória, não estava entre as favoritas a vencer a prova, que se realizou em Inglaterra, mas começou por surpreender na fase de grupos: derrotou a Hungria, a Bulgária e a superfavorita Brasil. A seguir, nos quartos, impôs-se com uma reviravolta, frente à Coreia do Norte, por 5-3, depois de, aos 25 minutos, estar a perder por 3-0. Duelo mítico que ainda hoje é recordado com emoção pelos intervenientes. A desilusão chegou, no entanto, pouco depois: nas meias, um bis de Bobby Charlton, contra um golo de Eusébio, deu a vitória à Inglaterra diante de Portugal e relegou-nos para a partida do terceiro e quarto lugar. A "Pantera Negra", que terminou o torneio como melhor marcador, com nove golos, foi decisivo na vitória (2-1) na partida de "consolação" ante a União Soviética, disputada no Estádio de Wembley, em Londres. No dia seguinte, em 29 de julho de 1966, o "Jornal de Notícias", deu grandeza ao feito: "Honra e glória para o desporto lusitano - Portugal conquistou o terceiro lugar no Mundial de Futebol". Durante mais de duas semanas, a seleção empolgou o país, que na altura vivia em ditadura, e o nosso jornal recordou a estatística da competição: Portugal foi a seleção com "melhor ataque, melhor marcador" e revelou-se "a equipa sensação".
No interior do jornal, como homenagem, as fotografias dos jogadores e a do selecionador foram publicadas com enorme destaque. "Seleção merece ser recebida com todas as honras", podia ler-se, acrescentando-se que a partida com os soviéticos não foi a melhor de Portugal no Mundial, o que se entendeu tendo em conta a derrota, dias antes, aos pés dos britânicos. "Nem bom nem mau - antes pelo contrário", referiu o JN, bem humorado, relativamente à exibição lusa.
O jogo foi decidido com um golo de José Torres, aos 89 minutos, depois de Eusébio ter marcado, de penálti, aos 12 minutos. Lev Yashin, o mítico guarda-redes da seleção de leste, recebeu um abraço do número nove português depois de introduzir a bola na baliza. Décadas mais tarde, em 1990, Eusébio deslocou-se de propósito a Moscovo para assistir ao funeral do antigo número um, uma amizade que nunca conheceu fronteiras. Voltando ao jogo, Malofeev empatou antes do intervalo mas, no fim, Portugal sorriu. Era o ponto final a uma campanha que colocou o país no mapa futebolístico.