O antigo piloto espanhol Jorge Lis, de 46 anos, aprendeu da pior maneira que com a covid-19 não se brinca. Negacionista e antivacina, está internado há 16 dias, em estado grave, nos cuidados intensivos (UCI) do Hospital La Fe, em Valência, depois de ter testado positivo à doença no início de julho.
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Na última mensagem que enviou à irmã Elena, Jorge Lis lamentou ter sido um "cafre" (ingrato, renegado, infiel ou incrédulo) por não acreditar na pandemia e por se ter recusado a ser vacinado contra o novo coronavírus. "Estou com medo, Elena", escreveu o ex-motociclista, continuando: "Esta semana de repente foi uma das minhas maiores lições de vida. Passar muito tempo no Twitter, etc, radicalizou-me ao extremo. Eu gostaria de ter sido vacinado".
No início de julho, depois de sofrer de vómitos e febre há alguns dias, um teste PCR positivo à covid-19 virou a vida e, especialmente, as crenças do motociclista de pernas para o ar. Uma semana depois do diagnóstico, foi internado no hospital para ser vigiado, com a doença a evoluir em poucas horas. Desenvolveu uma pneumonia bilateral, o que obrigou os médicos a encaminhá-lo para a UCI para ser entubado e sedado.
Neste momento, o antigo atleta está há 16 dias internado nos cuidados intensivos, ligado à ECMO (máquina de oxigenação extracorporal), em coma induzido e em risco de não conseguir sobreviver ao vírus.
"Ele saiu com o computador e uma mala carregada de livros, sem suspeitar que em poucos dias o induziriam em coma porque foi necessário entubá-lo para salvar a sua vida", escreveu Elena na carta aberta publicada no jornal Lift-EMV, intitulada "Um negacionista na UCI".
"Ele, que no início da pandemia vivia com medo, de repente deu uma guinada e foi infetado por um vírus invisível e muito perigoso: o das teorias que negam a existência de covid ou relativizam os seus efeitos. Ele ouviu supostos gurus que se gabavam de lidar com informações privilegiadas: dados económicos e sociais fora do alcance do resto dos mortais, cientistas incluídos. Quando saiu a vacina, na mesma linha, recusou-se a tomá-la. Ele até tentou fazer com que o resto da família, incluindo a minha mãe de 84 anos, também não fosse vacinada", acrescentou a irmã.
Jorge Lis, vice-campeão júnior espanhol de 125cc em 1996 e atual treinador e representante dos pilotos de Superbike, terá entrado em conflito com a irmã por causa das suas ideias.
"Não me esqueço dos seus olhos amedrontados e suplicantes quando lhe disseram que ficaria pelo menos 15 dias na UCI. O que ele teria dado naquela altura para ter a vacina que ele desprezava", assegura Elena, alertando para os perigos da negação: "Acho que é preciso isolarmo-nos de todo o barulho que borbulha nas redes para perceber que a realidade é muito simples: a covid-19 mata e as vacinas salvam vidas. Eles podem não interromper totalmente as infeções, mas evitam ir para a UCI. E isso é mais do que suficiente".
"Se estiver a ler isto e ainda tiver dúvidas, peço-lhe apenas que reconsidere", apelou Elena Lis.