Na sequência do descalabro do F. C. Porto no clássico com o Benfica, no Dragão, que motivou a intervenção do presidente André Villas-Boas e um castigo ao plantel, o JN ouviu alguns adeptos afetos aos dragões e comentadores desportivos. Certas decisões estruturais e a aposta em Anselmi foram o foco.
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O F. C. Porto sofreu uma pesada derrota frente ao Benfica, no Dragão, por 4-1, num jogo em que fica a impressão que o resultado até poderia ter tido outros contornos. Mas como um mal nunca vem só, este desaire ditou, ainda, um adeus à Champions pelo segundo ano consecutivo.
Ora, na resposta a este resultado, André Villas-Boas, presidente do F. C. Porto, não se mostrou nada agradado com a atitude da equipa, cortou a folga e prolongou o estágio para esta segunda-feira. Uma atitude entendida como uma "tentativa de controlar a reação pública dos adeptos" ao mostrar "mão de ferro".
"Na realidade, não me parece que vá mudar qualquer coisa. No fundo, parece-me mais uma medida de proteção da imagem do F. C. Porto. Duas derrotas contra o Benfica, na mesma época, ambas por 4-1, afeta muito, obviamente, a moral dos adeptos", começa por dizer, ao JN, João Nuno Coelho, comentador desportivo e sociólogo.
Já o empresário Pedro Marques Lopes vê nesta ação "uma prova de incapacidade". "Ter interferido desta maneira nas competências do treinador mostra que André Villas-Boas não está preparado para ser presidente de um clube como o F. C. Porto”, atirou o adepto afeto aos azuis e brancos, uma opinião que alarga ao comportamento do presidente do emblema portuense no intervalo do jogo.
"Em nenhuma circunstância pode entrar num balneário numa altura dessas do jogo. Se não sabe isso depois de ter sido treinador, não sei o que saberá. Em caso algum isso é admissível. Repito, é mais uma prova de que não está preparado para ser presidente de um grande clube", atirou.
Uma suposta incapacidade da equipa também foi alvo de foco, num jogo em que, a dado momento, ficou a ideia que o comportamento defensivo deixou muito a desejar.
"Estes jogadores não conseguem entrar dentro da camisola. Ou seja, é uma equipa pequena a jogar dentro de uma camisola grande. Não basta apenas vesti-la, contudo, isso não é de agora. Mas o treinador também tem culpa, porque entra para estes jogos convencido que tem uma grande equipa e depois choca com a realidade”, afirmou o escritor e letrista Carlos Tê, considerando esta como uma "equipa ingénua e desatenta".
"Provavelmente este sistema, que é raro no F. C. Porto, vai demorar a assimilar. Veja o caso do Rúben, que está no Manchester United, até há mais tempo, e é o que é. Eventualmente devia ter mais cuidado nestes jogos. São simbólicos e ferem muito mais. Ele quis jogar de igual para igual e não tem equipa. O Benfica é melhor. Não interessa como se chegou aqui, mas o que interessa é que se está aqui", acrescentou o adepto confesso dos dragões.
A aposta em Martín Anselmi
João Nuno Coelho diz que André Villas-Boas está no direito de ir ao balneário, lembrou que assumiu uma situação que já por si era delicada e apontou unicamente a um problema: a escolha pelos treinadores.
"Tendo em conta as circunstâncias especiais em que o clube se encontra, depois de 42 anos do ciclo de um presidente muito marcante, com a saída de jogadores muito importantes, aliado à perda de competitivade, pedia-se uma escolha mais criteriosa nos treinadores. E, principalmente, que obedecesse a um maior cuidado, no sentido de simplificar o que já por si é complicado. Vemos, por exemplo, o que acontece com Anselmi, que quis impor uma ideia complexa, arriscada, com um plantel sem características para esse propósito. A meio da temporada, evidentemente que isso era arriscado", analisou.
Por fim, em claro uníssono, os três intervenientes consideram esta uma experiência muito curta para tecer considerações sobre o trabalho do técnico argentino aos comandos do F. C. Porto.
"Li numa entrevista do senhor presidente, recentemente, que o Martin Anselmi seria treinador do F. C. Porto esta época e a próxima acontecesse o que acontecesse [...] Não consigo avaliar o trabalho do treinador, quando o presidente está sistematicamente a interferir. Isto não é de agora, quando foi com o Vítor Bruno ficámos a saber que o presidente interferia no trabalho. Eu gostava de ter uma opinião sobre o Anselmi. Aparentemente, acho que tem algumas lacunas, não percebeu bem o que é treinar o F. C. Porto. Mas se o presidente não percebe o que é presidir o F. C. Porto, como é que vou criticar um treinador que não sabe o que é treinar o F. C. Porto? Fica estranho", rematou Pedro Marques Lopes.
"Ele chegou há pouco tempo. Foi uma aposta de longo prazo, não foi escolhido para cumprir uma experiência. Portanto, é muito complicado estar já a pensar na sua saída. Olhando para o treinador argentino, será ingrato não poder aplicar as ideias com os jogadores escolhidos por si. Mas, no caso do F. C. Porto, é complicado manter esta aposta quando os sinais são muito negativos. No fundo, penso que será respondida com o tempo", concluiu João Nuno Coelho.
Já Carlos Tê faz alusão a Sérgio Conceição no momento de efetuar uma consideração: "É difícil fazer avaliações sumárias desse género. Lembro-me dos problemas que o Sérgio Conceição teve no início, porque quis jogar de igual para igual com o Liverpool, e depois, mais para o fim, já estava a jogar como deveria ser, como o exemplo do jogo contra o Arsenal. O Sérgio Conceição aprendeu muitas coisas e o Anselmi também poderá aprender”.