Chegou ao andebol do F. C. Porto na época finda e entrou diretamente na galeria dos notáveis, por ter ajudado a conquistar a primeira dobradinha da história azul e branca. Fábio Magalhães até apontou o golo decisivo, no último suspiro da final da Taça de Portugal e admite que esta foi uma "temporada de excelência", potenciada, já depois desta entrevista, pelo apuramento de Portugal para o Campeonato Europeu de 2020. Quanto ao F. C. Porto, o lateral promete que a equipa vai lutar para fazer "igual ou melhor" na próxima época e nota que, apesar de tudo, resultados da seleção incluídos, o andebol português ainda tem muito para evoluir, sobretudo nas equipas menos mediáticas.
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Qual é a sensação de depositar no museu do clube os dois troféus mais importantes do andebol português?
É um sentimento enorme de orgulho e de dever cumprido também. Foi uma época extraordinária, com muitos jogos, mas essa cerimónia de entrega das taças compensa o esforço. Valeu a pena.
Marcou o golo decisivo nos últimos segundos da final da Taça de Portugal, garantindo a primeira dobradinha da história do F. C. Porto. Como recorda esse momento?
Sei lá... [risos] Naquele momento, vi que faltava pouco tempo, vi um espaço, fui para a baliza e felizmente marquei. Foi um descarregar de adrenalina enorme... Só pensei em festejar, abraçar os meus colegas. O mais importante era celebrarmos todos aquela conquista, que foi histórica para este clube.
Estava a contar os segundos para ver quanto tempo tinha para rematar?
É curioso... Quando a bola vem para mim, do Rui Silva, reparei que faltava ainda menos tempo do que pensava. Creio que faltavam sete segundos. Quando recebi a bola, já não havia tempo para mais passes, assumi e felizmente entrou. Depois só via os meus companheiros, os abraços entre todos, pensei na minha família e nas pessoas mais próximas.
Este ano de estreia no F. C. Porto dificilmente poderia ter corrido melhor. Além da dobradinha, ficou ainda uma campanha histórica na Taça EHF, com presença na final four. Pode dizer-se que superou as expectativas?
Quando chegas a um clube como o F. C. Porto, as expectativas têm de ser altas e o objetivo tem de ser sempre o de ganhar os títulos, mas acho que foi um ano de excelência. Deixámos a fasquia um bocadinho alta para o próximo ano, mas vamos fazer os possíveis para fazer igual ou melhor.
Para fazer melhor na próxima época só mesmo conquistando o título europeu...
Melhorar é complicado, vamos disputar a Liga dos Campeões, que é uma prova ainda mais exigente, mas vamos dar o nosso melhor como nesta época que acabou.
Nem só o Fábio foi uma cara nova nesta equipa do F. C. Porto. O treinador Magnus Andersson também chegou esta época. Como foi a adaptação aos métodos de trabalho dele?
Para mim foi relativamente fácil. Identifico-me bastante com esta maneira de trabalhar e com este estilo de jogo, simples mas com resultados. Felizmente, todos os jogadores adaptaram-se, deram-se bem com o modelo de jogo e isso nota-se nos bons resultados que conseguimos.
Esta estratégia de atacar sempre com sete jogadores foi fácil de assimilar?
Já demonstrámos que estamos bastante confortáveis, jogámos muito tempo sete contra seis, sem guarda-redes, e sofremos poucos golos de baliza aberta. Temos muita segurança nesse tipo de jogo. Quando o Magnus chegou disse que teríamos de ter essa solução, mas que ele próprio não gostava muito. Acabou por ser um aspeto importante, que resultou muito bem. Começámos a usar esse modelo sem termos feito grandes treinos. Foi num jogo que estava complicado, contra o SKA Minsk, e o treinador achou que, pela forma como eles defendiam, de forma aberta, atacar com sete contra seis poderia ser uma boa estratégia e resultou bem. Todos os jogadores souberam o que tinham de fazer, foi incrível ver este modelo funcionar tão bem desde o início.
Por falar no início, ainda em fase prematura do campeonato, o Sporting, ainda campeão, foi vencer ao Dragão Caixa. Em algum momento isso criou-vos dúvidas quanto às vossas capacidades?
Sabíamos que o Sporting estava forte, era bicampeão e praticamente manteve a mesma equipa. Foi no início da época, tínhamos jogadores e treinador novos, mas claro que não foi fácil para nós. Perder em casa, contra o adversário a quem queríamos tirar o título... De qualquer forma, continuamos a acreditar em nós, temos um grupo excelente.
Antes de voltar ao andebol português, para representar o F. C. Porto, esteve um ano em França. Depois de conhecer essa diferente realidade, em que patamar coloca o andebol que se pratica em Portugal?
Estive na segunda divisão francesa e creio que a grande diferença está relacionada com o público. Os pavilhões onde jogava estavam sempre cheios. Também há a questão da competitividade. Aqui há os três grandes, depois há mais alguns clubes que conseguem fazer coisas boas, mas a parte de baixo da tabela não consegue ter essa competitividade e isso tem muito a ver com a cultura desportiva em Portugal, que infelizmente é muito virada para o futebol. Todos sofremos um pouco com isso, mas o F. C. Porto surpreendeu-me. Em Portugal, é sem dúvida o clube cujos adeptos mais acarinham as modalidades, os que vão mais aos jogos. Os adeptos portistas estão sempre presentes. Em França é tudo mais estruturado, quando chegava a um pavilhão via sempre uns 50 voluntários para ajudar a preparar tudo. Fiquei muito bem impressionado. O andebol português ainda tem muito para crescer, para evoluir.
Ainda assim, tanto o F. C. Porto como o Sporting e o Madeira SAD, tudo clubes que já representou, fizeram excelentes campanhas europeias...
Sem dúvida, mas é o que digo, estes clubes conseguem fazer coisas muito boas, mas há muitos clubes que, infelizmente, não evoluem tanto. Não é culpa dos atletas, nem dos dirigentes, mas são precisos apoios, é preciso dinheiro e não é fácil de angariar.
A equipa das quinas é maioritariamente composta por jogadores do F. C. Porto. Isso facilita a vida à seleção?
Acho que é importante, em todas as modalidades, que a seleção tenha um clube como base. Os jogadores trabalham todos os dias juntos e conhecem-se bem. Veja o exemplo do Euro 2004, em futebol, a base da equipa era o F. C. Porto campeão europeu e foi uma campanha bem-sucedida. Neste caso do andebol, fizemos algo histórico, ao vencermos a França e foi importante usar a base do F. C. Porto. Também usamos na seleção o modelo do sete contra seis e funciona bem. No entanto, é óbvio que Portugal tem outros jogadores de grande nível que acrescentam qualidade. Veja-se o caso do Gilberto [Duarte, do Barcelona], que este a disputar a final four da Liga dos Campeões. Infelizmente não ganhou, mas o que ele tem feito é impressionante.
Em termos pessoais, quais as perspetivas para o que aí vem?
Para já a seleção, concluir o apuramento para o Euro e acabar a época em grande. Depois férias, aproveitar bem, porque a fasquia está alta para a próxima época e temos que fazer igual ou melhor.
Mostra-se confiante para a próxima época. Os colegas do F. C. Porto também estão otimistas?
Claro, a equipa vai manter-se praticamente toda igual. Todos acreditamos que podemos fazer outra época muito boa. Em todo o caso, os adversários estarão mais alertados para o F. C. Porto... É verdade. Esta foi uma época de experiência para eles e para nós. Acho que vamos manter mais unidades no plantel dos que os adversários, mas eles agora estarão muito mais informados sobre aquilo que nós podemos fazer.
CV
Data de nascimento: 12/03/1988 (31 anos)
Nacionalidade: portuguesa
Clubes: ABC, Sporting, Madeira SAD, Chartes e F. C. Porto
Títulos: Taça Challenge, Andebol 1, Taça de Portugal e Supertaça de Portugal