Filho de Jorge Silva, antigo capitão do Boavista, e irmão de Jorge Silva, defesa da Lázio, Fábio nasceu praticamente com uma bola no pé.
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Na formação, destacou-se no F. C. Porto, mas esteve duas épocas no Benfica, tendo regressado há dois anos à casa azul e branca. Para lá dos títulos nacionais, ajudou a conquistar a Youth League (2018/19). Além de CR7, Cavani é outro exemplo a seguir. Trocou, agora, o F. C. Porto pelo Wolverhampton, treinado por Nuno Espírito Santo.
O valor da transferência, 40 milhões de euros, tem algum significado? É um peso?
É um número. É normal que as pessoas de fora falem, mas os jogadores passam ao lado disso. Para o jogador, isso nunca é o dado mais importante, pois o foco é sempre treinar e aprender todos os dias.
Por norma, os jogadores que chegam a Inglaterra acabam por aprimorar a vertente física, passado uns tempos. Aconteceu com Ronaldo, Nani, agora com o próprio Diogo Jota.
[Sorriso] Acho graça, porque de há uns tempos a esta parte tenho vindo a fazer um trabalho diferente a nível físico e sinto o meu corpo a mudar. Parecia que já previa algo, mas não. É uma parte que gosto e que procuro cada vez mais estar atento, até porque a exigência do futebol inglês é alta.
Vamos ver um Fábio Silva "Bicho"?
Ah, vou tentar caprichar. Se puder ficar melhor em vários aspetos vou treinar para isso. O clube proporciona todas as condições e esse é um trabalho que vou fazer.
Já tem casa?
Estou num hotel, estamos a tratar disso, mas para já estou confortável. Estive com o meu pai e o meu empresário e estamos a tratar de tudo. Nunca vou estar sozinho.
Por falar no pai [Jorge Silva, ex-jogador do Boavista], ele continua a dizer que já ouviu o hino da Champions League no relvado e o Fábio ainda não?
Infelizmente, o Wolverhampton não conseguiu a qualificação, mas, certamente, haverá tempo para passar por essa experiência. Vou fazer por isso e depois vou ter argumentos para contrariar o meu pai.
A escola agora fica congelada?
Acabei o 12.º ano. A minha escola agora é aprimorar o inglês.
Dá-se bem com o idioma?
A little bit [sorriso].
Nos treinos, falam inglês ou português?
Pois, por acaso avisaram-me logo que ia ser difícil evoluir no inglês, porque a malta começa a falar toda em português. Mas sou daquelas pessoas que gosta de ir ao pormenor e quero perceber tudo, por isso vou treinar o meu inglês. É uma língua universal.
E em Roma sê romano.
Exatamente, estou em Inglaterra e devo respeitar isso e falar a língua do país.
E dentro do campo, na linguagem dos golos, há algum número a atingir?
Isso é dia-a-dia. Já se sabe que os avançados vivem de golos, mas não quero colocar fasquias. O objetivo é evoluir todos os dias.
Como é partilhar o balneário com jogadores como Raúl Jiménez e Adama Traoré?
É fantástico. São jogadores de alto nível, que já conquistaram títulos importantes, e quero aprender com eles. Tenho a certeza que isso vai acontecer.
Não há o perigo de se deslumbrar?
Nada disso. Tenho os pés bem assentes e, felizmente, estou rodeado de pessoas que se preocupam comigo.
Recebeu alguma mensagem especial dos colegas do F. C. Porto?
Muitas, fiquei sensibilizado, porque é sinal que gostam de mim e preocupam-se comigo. Marchesín? Sim, toda a gente sabe que criámos uma relação especial, ele deu-me muita confiança, e é uma amizade que quero levar para o resto da vida.
Ao ver a seleção, imagina-se em campo ao lado de Cristiano Ronaldo?
Ah, é difícil não pensar nisso. Tenho essa esperança de um dia ter uma oportunidade e ainda jogar com ele. É a minha referência.
Ele também saiu de Portugal para a Inglaterra... Já lhe caiu a ficha? Já se sente jogador da Premier League?
Acho que sim, fui muito bem recebido e enquadrei-me bem no grupo. É um ambiente muito familiar. Sinto que vai dar certo.
E o que ficou para trás? Custa-lhe sair do F. C. Porto?
O vídeo da despedida acho que responde a isso. Claro que é um momento difícil, mas estas coisas acontecem de forma rápida e temos de estar preparados. Estávamos a analisar várias situações e chegámos à conclusão que o Wolves era o projeto indicado.
Estava mesmo a contar sair ou estava focado em continuar e lutar por um lugar na equipa?
Focado estou sempre. Estava a treinar forte para estar preparado, mas sabia que alguma coisa podia acontecer. Mas isso são coisas que não controlas e, por isso, estava a trabalhar para lutar pelo meu espaço e ajudar nos objetivos da equipa. Surgiu o Wolverhampton e acho que vou ser feliz e crescer muito aqui.
Em ano de estreia no futebol sénior, inscreve o nome na "dobradinha", mas sente que podia ter dado mais? Sentiu-se útil?
[Responde convicto] Senti-me útil, porque num grupo quando se ganha, ganham todos. Isso é o mais importante e a equipa ter alcançado dois troféus foi bom para todos. Acho que tive bons momentos durante a época.
Mas, se calhar, não houve uma continuidade.
[Pausa] Fiz sempre o meu melhor e dei o máximo em campo. Procurei sempre ajudar.
Estreou-se a titular na Liga num dérbi com o Boavista e a equipa, que, nesse jogo, esteve privada de alguns elementos, por questões disciplinares, deu uma boa resposta e venceu, por 1-0.
Sim, foi um momento importante e senti o feed-back positivo das pessoas. Fiz um bom jogo, tal como a equipa. O importante foi a vitória num momento delicado.
Foi, sobretudo, um ano de aprendizagem?
Sim, tanto em termos físicos como psicológicos. Melhorei várias coisas no meu jogo.
Sendo campeão e vencedor da Taça, o F. C. Porto parte como favorito para a nova época?
Não gosto muito dessas análises. Percebo que quem está de fora pense dessa forma, mas os jogadores não pensam assim. O que está para trás já não interessa, agora é começar do zero. Ficaria feliz se a história se repetisse.
Há algum avançado na formação que tenha o seu perfil? Outro Fábio Silva que possa dar mais 40 milhões ao F. C. Porto?
Sinceramente, não tenho acompanhado muito os escalões mais jovens, mas tenho a certeza que vão surgir outros bons jogadores. A história do clube diz-nos isso.
Não teve, praticamente, tempo para se despedir de ninguém. Nas redes sociais, disse à nação portista que era um "até já". Quer concluir?
Um até já, porque serei sempre um adepto fanático do F. C. Porto. As pessoas sabem disso, nunca escondi. O F. C. Porto é o clube do meu coração e ter chegado à equipa principal foi um sonho que realizei. Tenho um carinho enorme pelo clube e pelos adeptos, que sempre me apoiaram. Agora, segue-se um novo desafio e depois o futuro a Deus pertence.
Já falou com Nuno Espírito Santo [treinador dos Wolves]? Pode partilhar o que ele lhe pediu?
O mister deu-me as boas-vindas e disse-me para estar tranquilo, para ser eu próprio, e que com naturalidade as coisas vão acontecer. Vim para trabalhar, aprender e ajudar.
Há 10 portugueses no plantel, o que facilita a adaptação. Já se sente mais um membro da alcateia?
Acho que sim, já percebi que o grupo é forte e unido. A alcateia está pronta para saltar para cima dos adversários [gargalhada].