Numa sessão de esclarecimento, o presidente do Feirense, Rodrigo Nunes, referiu que a SAD deve 629 mil euros ao clube, valor que o clube terá aceitado baixar para 400 mil euros na tentativa de solucionar o atual impasse de forma célere, sem sucesso. Desde o Catar, o treinador Pedro Martins também participou na sessão.
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Cerca de duas centenas de sócios e adeptos do Feirense marcaram presença numa sessão de esclarecimento, realizada esta terça-feira no Cineteatro António Lamoso, que se centrou, maioritariamente, na relação entre o clube e a SAD e na recente criação de uma nova coletividade em Santa Maria da Feira, o Clube Desportivo Feirense 1918.
Vários adeptos apelaram ao diálogo entre clube e SAD para que a equipa profissional, que disputa a Liga 2, possa voltar a jogar no Estádio Marcolino Castro. Rodrigo Nunes concordou que “não faz sentido a equipa não jogar no estádio ou treinar nas instalações do clube”, falando mesmo que se está a passar “uma imagem degradante”, mas lembrou que a decisão de fechar as portas à SAD foi ratificada pelos sócios, por unanimidade, em Assembleia Geral (AG).
“Andamos há três anos a tentar resolver a situação, mas não temos conseguido”, disse o dirigente, em alusão a uma dívida de 629 mil euros da SAD para com o clube. “Numa reunião com a SAD, foi-nos dito que se tinha que descontar 180 mil euros a esse valor devido a umas obras. Nós aceitámos até acertar para os 400 mil euros, mas nem assim pagaram. Preciso que alguém me ajude a resolver isto”, desabafou.
O assunto está em tribunal, depois de a SAD ter interposto uma providência cautelar com vista a poder utilizar novamente as instalações do clube. Presente na sessão, Fernando Lino, membro do Conselho de Arbitragem Desportiva, órgão integrante da organização do Tribunal Arbitral do Desporto (TAD), aconselhou a que se esperasse pela deliberação sobre a providência cautelar para se agendar uma nova AG para se discutir o reabrir das portas do clube às equipas da SAD.
O juiz lembrou que a legislação atual impede que casos como o do Belenenses e o da B SAD ou o do AVS SAD se repitam no futuro, acalmando os presentes e até Pedro Martins, que interviu à distância, desde o Catar, onde orienta o Al Gharafa. “Estou preocupado, porque há um conflito entre a SAD e o clube que nada abona para que se trabalhe com qualidade e para que o clube não perca a sua identidade”, disse o treinador, lamentando que “os adeptos não possam ir ao estádio ver os jogos”.
Celestino Portela, presidente da mesa da Assembleia Geral do clube, vincou que “o Feirense tentou de várias formas chegar a acordo para evitar esta situação”, falando mesmo em “"perrice" de quem representa o investidor” na SAD.
Clube tentou recomprar SAD
Recentemente, o clube tentou comprar os 70% da SAD alienados à empresa Tavistock - Global Resources Limited, propriedade de Kunle Soname. Uma delegação do Feirense, liderada por Rodrigo Nunes, deslocou-se a Londres para apresentar uma proposta ao investidor nigeriano, mas não foi bem-sucedida.
“Oferecemos a verba que deixava o senhor Soname sem qualquer dívida. Por ele, a SAD era do Feirense e dos seus sócios. Saímos de lá convencidos de que 15 dias depois ele ia vender a SAD ou acertar valores para o fazer, mas não recebemos nenhum contacto. Um mês depois, ligámos-lhe e ele disse que pensava que o assunto já estava resolvido, mas quando nos ligou de volta percebemos que não iria vender”, contou o presidente do Feirense.
Novo clube contestado
Pedro Martins questionou ainda se o Feirense “teve participação direta na criação de um novo clube (Clube Desportivo Feirense 1918) e se permitiu que ele usasse o símbolo do Feirense”, algo que, no seu entender, “não pode fazer”. Por seu turno, Fernando Lino também considerou que “não vai ser fácil criar um novo clube com este nome”, tendo vários outros adeptos se manifestado igualmente contra a iniciativa.
Rodrigo Nunes garantiu que “o Feirense não tem nada a ver com a criação do clube”. “As pessoas que o criaram perguntaram-nos sobre a possibilidade de usar a palavra Feirense no nome e não me falaram em símbolos”, prosseguiu o dirigente, explicando que vê no projeto uma oportunidade para o Feirense, dando o exemplo da ligação entre as escolas Dragon Force e o F. C. Porto.
“Não percebo esta reação, parece que se criou um monstro. A criação deste clube só pode trazer vantagens ao Feirense. No dia que não trouxer, serei o primeiro a afastá-lo”, garantiu.
Fora de hipótese estará a possibilidade de o Clube Desportivo Feirense 1918 utilizar o Estádio Marcolino Castro, estando ainda a ser estudada a possibilidade de poder treinar e jogar no Complexo Desportivo do clube.
Na sua intervenção final, Rodrigo Nunes reafirmou que “todos querem o melhor para o clube, mas não podemos aceitar tudo”, e deixou uma garantia: “Para mim, o futebol profissional é “finito”. Eu agora é mais ciclismo”.