Aos 17 anos, o talento inato abre porta a futuro brilhante. "Michael Phelps português" confessa sonhos e técnicos destacam maturidade.
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Chegou ao topo do Mundo na categoria júnior, com três medalhas de ouro no Peru, e tem o céu como limite. A convicção é de Diogo Ribeiro, que, ao JN, reconhece que o sucesso nos Jogos Olímpicos, em Paris 2024, é uma meta viável. Em agosto, o novo prodígio da natação conquistou o bronze, nos Europeus absolutos, em Roma. "Acredito que se o trabalho for bem feito, a medalha olímpica irá acontecer. É preciso trabalhar bastante para atingir o sonho", começa por dizer o novo fenómeno da natação portuguesa e já apelidado, por muitos, como o "Michael Phelps" português.
Em 2021, um acidente de mota ameaçou a carreira ao nadador, natural de Coimbra. A adversidade foi superada e serve de motivação para o presente. "Foquei-me no que queria para a vida e dediquei 100% do tempo à modalidade que tanto amo. Saber que consegui ultrapassar algo que, na altura, parecia impossível deu-me forças para seguir em frente", explica.
Os êxitos recentes contribuem para o otimismo e bem estar, mas Diogo Ribeiro espera que as glórias tenham efeitos paralelos: "Espero que motive os meus colegas e outros praticantes que, por falta de apoios, não são muitos". O nadador mostra apreço pelos parceiros de treino que "dão o máximo para serem melhores" e considera os treinadores como parte da família.
Selecionador elogia
Quem o conhece de perto reconhece o talento natural. Alberto Silva é o selecionador nacional e sublinha a capacidade de interpretação do nadador. "Tem facilidade em compreender o que lhe é proposto e passa isso da mente para o corpo, é inato, tem a aptidão natural para o desporto", observa, ao JN.
José Machado, diretor técnico da natação portuguesa, realça o lado psicológico. "Tem uma capacidade mental muito forte, foca-se num objetivo e, se acreditar que é alcançável, consegue atingi-lo", explica. Para José Machado, o futuro só pode ser brilhante. "Se continuar com esta evolução, a hipótese de uma final olímpica não está tão longe como isso. Pode mesmo chegar a esse patamar", vaticina.
De Coimbra, ao Benfica no Centro de Alto Rendimento do Jamor, o "menino" Diogo Ribeiro transformou-se num "homem". A superação de várias lesões após o acidente de mota deram-lhe ainda mais resiliência e resistência enquanto pessoa e atleta, alimentando uma crença que pode conduzi-lo ao topo mundial. O país assim o espera.
Fintar a tragédia e afogar as dores na água
O país e o Mundo ficaram a conhecer, há uma semana, Diogo Ribeiro. O nadador de 17 anos (completa 18 em outubro) conquistou três medalhas de ouro no Peru e saltou para os títulos das notícias. Mas os resultados não surpreenderam quem já treinou e conhece há muitos anos um jovem que teve a carreira em risco há pouco mais de um ano.
"O limite do Diogo é o ouro olímpico. Se continuar a trabalhar como até aqui poderá ser uma realidade já em Paris, em 2024". Quem o diz é André Vaz, que treinou o atleta em Coimbra, primeiro no Clube Náutico Académico, em 2016, e depois no União 1919, nos quatro anos seguintes. Fala de um atleta para quem não havia limites na evolução. "Desde cedo que ele demonstra qualidade dentro da piscina, já revelava que ia ser um grande nadador", salienta o técnico, atualmente a trabalhar no Funchal.
Luís Santos conheceu Diogo Ribeiro em 2012, tinha o nadador sete anos. Foi na transição das escolas de natação para o grupo de formação na Fundação Beatriz Santos, também em Coimbra. "Desde essa altura notava-se que tinha aptidão. Tinha um à-vontade muito grande na água e apanhava tudo muito facilmente", destaca. Como resultado disso, o treinador aponta para o facto de Diogo ser um polivalente e dominar todos os estilos. "Tem uma capacidade de aprendizagem muito grande e salta de um para outro em minutos", defende. No futuro, Luís Santos não tem dúvidas que o nadador estará nos Jogos Olímpicos de Paris. "Uma vez lá, vai dar luta seguramente", assegura.
O ombro direito
As três medalhas de ouro de Diogo Ribeiro foram conquistadas um ano depois do momento mais difícil da curta carreira. Em julho de 2021, depois de chegar dos Europeus, Diogo pegou na moto e ia fazer uma surpresa ao último treinador no União 1919, Vítor Raposo. No caminho, foi abalroado por um carro e esteve um mês de cama, com várias lesões e em risco de perder um dedo. "Há um ano estava numa cama sem me mexer, agora estou melhor do que nunca", lembrou o atleta, ao JN.
A morte do pai, aos quatro anos, fez com que a mãe, percebendo já o interesse pela água, quisesse que se focasse na natação, como forma de se distrair. Fisicamente ausente, o pai de Diogo está sempre presente numa estrela tatuada no ombro direito.
Sabíamos que o talento do Diogo se iria manifestar
Como analisa os resultados do Diogo Ribeiro nos Mundiais?
Vêm numa perspetiva de evolução. Sabíamos que o seu talento se iria manifestar face às condições que lhe foram dadas no Complexo do Jamor, em termos técnicos e organizativos.
É já fruto do investimento na vinda do Alberto Silva, há um ano?
É fruto do investimento da Federação nos últimos 10 anos. A natação portuguesa tem vindo a alcançar finais em várias modalidades e o expoente máximo foram estas três medalhas de ouro.
Como projeta o futuro?
Com otimismo. Temos mais praticantes, competição de qualidade e sustentabilidade, dá-nos garantias de boas prestações nos próximos anos.
Há esperança de medalhas em Paris?
Há a esperança de melhorar os nossos recordes e conseguir chegar às finais. Estando na final, podemos aspirar a outros desígnios.