Nasceu no dia 10 de fevereiro de 1959 e morreu esta quarta-feira. Vestiu a camisola 10 pelo clube do coração e quando fez 60 anos o Benfica ganhou 10-0 ao Nacional. Chalana era mágico, altruísta e quase imparável no um para um. O "pequeno genial" encantou nos relvados e viveu uma história de amor com o Benfica, tendo sido um dos criativos mais marcantes das décadas de 1970 e 1980. O futebol português está de luto.
Corpo do artigo
Quem teve a sorte de o ver jogar garante que era de encher o olho. Quem já não teve conhecia na mesma o nome de Fernando Chalana e o impacto que teve não só no Benfica como no futebol português. Assim são as lendas: marcam pequenos e graúdos e várias gerações mesmo quando já penduraram as chuteiras. Hoje, o futebol português ficou de luto com a morte do "pequeno genial" como assim era conhecido. Chalana deixou-nos durante esta madrugada, com 63 anos, e quem o conhecia garante que todos ficámos mais pobres já que, além de um talento como poucos, era dono de um altruísmo raro nos dias de hoje.
Fernando Chalana nasceu a 10 de fevereiro de 1959, no Barreiro, fez parte da formação no Barreirense e alinhou pela primeira vez no clube encarnado em março de 1976, poucos dias após ter completado 17 anos. "Até àquela data, nunca ninguém tão jovem havia atuado na 1.ª Divisão portuguesa", escreve o Benfica.
Representou o Benfica entre 1975 e 1984, e depois novamente entre 1988 e 1990. O seu pé esquerdo fez furor no clube da Luz e também na seleção nacional, sobretudo no Euro 1984 em França e, além do Benfica, também o Sporting o queria contratar. Mas o amor pelo clube encarnado falou mais alto.
"Foi na época de 1973/74 que despontou o romance entre o clube da águia e o jogador, com Mário Coluna a observá‑lo no Barreiro, após indicações de um grande benfiquista: Edgar Ferreira. Tinha‑o igualmente na mira o rival Sporting, com o especial patrocínio de Juca, então treinador do Barreirense e antiga glória leonina. Precisamente num particular da equipa de Juca com o Oriental, em Marvila, Pavic sentou‑se na bancada para confirmar tudo o que de bom sobre o miúdo se dizia. O jugoslavo não precisou de mais do que meia dúzia de minutos: Contratem -no! No dia 21 de setembro, deslocam‑se ao Barreiro Osvaldo Branco e Ilídio Fulgêncio. Tudo acertado. Da camisola de riscas brancas e vermelhas, Chalana passa à de vermelho integral", escreveu Luís Lapão, autor da obra "Chalana, a Vida do Génio".
Chalana foi uma das grandes figuras dos encarnados durante largos anos. Tecnicamente evoluído e quase imparável no um para um, o "pequeno genial" foi determinante nos êxitos alcançados pelo Benfica no final da década de 1970 e início de 1980. No Campeonato da Europa de 1984, em França, deu de tal forma nas vistas que o Bordéus acabou por contratá-lo. A transferência para o clube gaulês permitiu ao clube encarnado encaixar uma verba importante para concluir as obras do antigo terceiro anel do Estádio da Luz mas afastou uma grande figura do futebol nacional, embora não por muito tempo: regressou a Portugal e ao Benfica, antes de rumar ao Belenenses e encerrar a carreira no Estrela da Amadora, em 1992, aos 33 anos.
Conhecido também pela alcunha de "Chalanix", colada ao universo da banda desenhada e em particular à personagem mítica de Astérix, somou 27 jogos pela seleção nacional, entre 1976 e 1988, e continuou ligado ao universo benfiquista já depois de ter terminado a carreira. Nas camadas jovens do Benfica, levou a equipa de juniores ao título nacional, em 1999/2000, antes de se tornar treinador adjunto na equipa sénior do Paços de Ferreira. Também teve esse cargo no clube encarnado, tendo estado ao lado de Toni, Jesualdo Ferreira e dos espanhóis José António Camacho e Quique Flores. No entanto, acabou mesmo por orientar a equipa principal em duas ocasiões: na primeira, por apenas um jogo, a 12ª jornada da Liga de 2002/03, depois da demissão de Jesualdo Ferreira, num embate em que o Benfica recebeu e bateu o Sporting de Braga por 3-0, e em 2008, depois de José António Camacho ser forçado à saída, foi treinador interino das águias até à chegada de Quique Flores.
"Hoje, lutaria pela Bola de Ouro"
Durante o lançamento da obra "Chalana, a Vida do Génio", além de Bernardo Silva ter considerado que, nos dias de hoje, Chalana podia valer 200 milhões de euros, também Rui Costa, hoje presidente do Benfica, fez questão de enaltecer as qualidades do antigo criativo. Mas não escondeu: só passaria meio ano no clube encarnado.
"Se fosse hoje, a única coisa de que podíamos ter a certeza é que o Chalana seria uma estrela mundial. No futebol de hoje, lutaria pela Bola de Ouro. Não tenho qualquer dúvida a esse respeito. O problema é que só o teríamos connosco no Benfica durante seis meses. Ele era, de facto, isto. Um génio humilde e altruísta. E as pessoas, na verdade, saíam do estádio contentes. Ele não sabe a dimensão que tem. É tão humilde que não sabe quem foi, nem o que representa. Posso dizer isto não só como adepto, mas pela convivência com ele. Para além de ter sido o meu último treinador, foi adjunto quando eu já era diretor, trabalhámos lado a lado e eu garanto que ele não sabe quem é nem o que representa para as pessoas", testemunhou.