O administrador da SAD destaca as contas "no azul" do F. C. Porto e mérito do empréstimo obrigacionista.
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Dar a volta rumo à normalidade que parecia perdida. Fernando Gomes, administrador da SAD do F. C. Porto, explica como os dragões enfrentaram os desafios impostos pela pandemia e transformaram o prejuízo recorde de 2019/20 em lucro no primeiro semestre desta temporada, manifestando confiança absoluta em que o clube deixe de estar sob a alçada do fair play financeiro da UEFA já em junho. Sobre o empréstimo obrigacionista que vai ser lançado depois de amanhã, uma certeza: "Tínhamos de compensar os pequenos e médios investidores que sempre acreditaram".
Depois do adiamento em 2020, está tudo pronto para avançar com o empréstimo obrigacionista?
Já temos as condições financeiras para efetuar o pagamento do empréstimo anterior. O F. C. Porto não o fez antes por causa das dificuldades causadas pela pandemia. Agora, sim, conseguimos o financiamento necessário para pagar os 35 milhões de euros aos investidores: vão ser pagos na próxima segunda-feira. Pagamos primeiro para as pessoas ficarem tranquilas, até porque estamos a falar de pequenos e médios investidores e não de grandes grupos económicos - em média, por investidor, são 10 mil euros. O respeito que nos merecem e a confiança que têm depositado no F. C. Porto ao longo de 10 empréstimos obrigacionistas - todos eles bem-sucedidos -, não podia ser esquecido.
E, tal como tinha anunciado, a taxa de juro vai ser superior ao habitual...
A taxa de juro vai ser, efetivamente, de 4,75%, o que, num momento em que há taxas de juro negativas, é uma boa aposta para os investidores. É uma taxa interessante e o F. C. Porto fará esse esforço adicional exatamente no sentido de dar compensação a quem investiu e esperou mais uns meses do que seria a data-limite para receber o que tinha investido.
Tendo em conta o momento que vivemos, este empréstimo obrigacionista é seguro para os investidores?
É, como prova a história do F. C. Porto no mercado obrigacionista. É um investimento seguro, com certeza, porque nenhum emitente, como é o caso do F. C. Porto, quer correr o risco de fragilizar a sua credibilidade no mercado. Para nós, é absolutamente sagrado que o investidor veja os seus capitais e os seus rendimentos pagos atempadamente.
Esta operação é um passo rumo à normalidade?
Deus o ouça. Efetivamente, a falta de público nos estádios e esta enorme pressão sobre o futebol - que é maior do que em relação a qualquer outra atividade -, cria ainda alguma incerteza sobre quais são os meios de que dispõem os clubes de futebol. Quando se entra num domínio tão vasto - estamos a falar de uma pandemia e não de uma infeção circunscrita a Portugal -, afeta todos. Voltar à normalidade é tudo aquilo que nós desejamos. Se tudo correr como está previsto, admito que o próximo ano já terá público nos estádios, ainda que com algumas restrições de lotação no início. O orçamento que temos previsto para o próximo ano conta com isso.
Essa ausência de público teve custos elevados...
Sim, tal como o nosso presidente já referiu, foram 27 milhões de euros de prejuízo, entre perda de bilheteira, de patrocínios, decréscimo na cobrança de quotas. Curiosamente, o merchandising não tem corrido tão mal, porque houve uma compensação enorme nas vendas online. Mesmo assim, abaixo do que era normal, mas não tão mau como aconteceu com tudo o resto. Com esta abertura [fim do confinamento], temos a convicção de fazer alguma recuperação, mesmo antes do final da presente temporada.
Pinto da Costa criticou várias vezes o Governo por não permitir adeptos nos estádios. Acha que já podiam ter regressado?
Claro que podiam! O presidente Jorge Nuno Pinto da Costa tem feito eco daquilo que é o sentimento de todos os utentes deste nosso belo espaço (Estádio do Dragão), dos sócios e adeptos do F. C. Porto. Se há outro tipo de espetáculos, muito mais confinados, em espaços fechados, que podem ter público, é absolutamente incompreensível, não cabe na cabeça de ninguém, que um espaço aberto, com entradas diversificadas não possam. O futebol tem controlos muito mais rigorosos do que qualquer ator ou qualquer artista que participa em espetáculos. É uma má consciência em relação ao futebol, que não dá para entender.
Acredita que possam regressar já em 2021/22?
Acredito que sim, porque acho que quem decide tem consciência da sua incongruência e, portanto, não pode continuar a abrir os outros setores e manter fechado o futebol, que é uma atividade económica muito mais forte do que qualquer das outras que estamos a falar. Assim sendo, a contribuição para a recuperação do país é muito maior do que em espetáculos culturais. Por outro lado, qualquer outra decisão denotaria uma discriminação por parte dos decisores absolutamente incompreensível e inaceitável. Na política, estas coisas pagam-se caro quando não são feitas em consciência.
Depois do prejuízo recorde em 2019/20 (116 milhões de euros), as contas entraram no verde no primeiro semestre (34M€)...
No azul, as contas entraram no azul [risos]. É um crescimento sustentável, apesar da pandemia. Na época passada, o F. C. Porto investiu para ir à Liga dos Campeões e ter sucesso e ninguém esperava aquela desgraça, depois de termos ido ganhar a Krasnodar [no play-off]. Há um abismo financeiro entre participar na Liga Europa ou na Liga dos Campeões. Por exemplo, este ano, chegando aos quartos de final da Champions fizemos 75M€, no ano passado, na Liga Europa, foram sete milhões.