Foi a novela do verão quente de 2000. Depois de vários meses de rumores e especulações, Luís Figo tornou-se, à data, o jogador mais caro da história do futebol, após o Real Madrid ter pagado a cláusula de rescisão para o resgatar ao Barcelona. As ondas de choque foram enormes e o internacional português tornou-se mesmo "persona non grata" na cidade-condal.
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A notícia que nenhum adepto dos culés queria ouvir foi confirmada a 24 de julho. Depois de um período de férias em Portugal, após a participação no Euro 2000, Luís Figo aterrava em Madrid. Enquanto o extremo fazia os exames médicos, Florentino Pérez, presidente do Real, dava a ordem à tesouraria merengue: era o momento de transferir 12 milhões de contos - cerca de 60 milhões de euros na moeda atual -, para os cofres do Barcelona, confirmando a maior transferência de sempre, até então, no desporto-rei. E o ordenado não era nada de se deitar fora: 100 mil contos, qualquer coisa como 500 mil euros por mês, uma fortuna mesmo para os padrões atuais.
Figo passava a envergar o 10 no manto branco - o 7 era de Raul -, e deixava grande parte da Catalunha em lágrimas. "Pensavam que eu estava a fazer bluff. Nunca quiseram sentar-se comigo à mesa", justificou, no próprio dia, o extremo português, apontado o dedo à direção do Barça e recebendo o troco do então presidente, Joan Gaspart. "É uma imoralidade futebolística e uma falta de ética lamentável de ambas as partes", reagia, a propósito de um caso a que o JN deu, claro, um enorme destaque.
Um dia depois, e já com o atleta de regresso a Portugal, era tempo de medir o pulso nas duas principais cidades espanholas. Na capital, Miguel García Sancho, correspondente do JN em Madrid, garantia que a contratação tinha levado os adeptos "blancos" "ao delírio". "Nos cafés madrilenos, Figo era o tema de todas as conversas. E bem se pode dizer que a Figomania chegou à capital de Espanha", escrevia.
Enviada-especial a Barcelona, Inês Cardoso foi testemunha do reverso da medalha: "Até nunca, Figo. Provavelmente, esta é a frase que todos os adeptos do Barcelona subscreveriam sem hesitar", pode ler-se no texto que a atual diretora do Jornal de Notícias assinou no dia 26 de julho de 2000, numa reportagem para a qual falou com Ana Torres, à altura presidente da Peña (clube de fãs) Luís Figo de Barcelona. "Deceção e tristeza. Muita tristeza", era a conclusão, enquanto num quiosque o passado já era o passado. "Figo? No conozco". O ídolo já tinha partido.