Se em Portugal o líder só mudou uma vez na derradeira jornada, não faltam relatos de suspense, na reta da meta. E lá fora também já houve campeões à beira do fim.
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A decisão do título agendada para o final da tarde deste sábado, na última jornada, devolve à memória outros casos do género, de ligas resolvidas nos últimos 90 minutos.
Se o Benfica, que lidera isolado desde a quarta ronda, sagrar-se campeão, será apenas mais um vencedor conhecido na derradeira ronda. Mas, se o F.C. Porto, que a oito jogos do fim tinha 10 pontos de atraso, acabar na frente, repetirá o feito inédito que há 78 anos pertence aos encarnados: em 1954/55, o Benfica ultrapassou o Belenenses, mesmo na reta da meta. Lá fora não faltam exemplos de campeões inesperados. Um aconteceu com Sérgio Conceição, enquanto jogador da Lazio, em 1999/2000, aliás como o técnico do F.C. Porto recordou há poucos dias.
Toda a gente dizia que o "Scudetto" estava entregue à Juventus, mas a equipa de Roma contrariou a lógica e acabou a festejar. Em Espanha, com o Deportivo (1993/94), aconteceu um dos mais dramáticos desfechos de liga. Os galegos falharam um penálti ao minuto 90, remate que se entrasse lhes dava o título, troféu que só ganharam pela primeira vez seis anos depois. Em Inglaterra (2011/12), o golo de Aguero, mesmo a acabar o Manchester City-QPR, que deu o título aos "cityzens", ainda hoje é recordado.
Fora dos 10 exemplos citados neste dossiê fica um 11.º caso que ocorreu em 2008 na Argentina e não menos inusitado: o campeão do "Apertura" surgiu através da disputa de um triangular, entre o trio da frente. O Boca Juniors, que acabara igualado com San Lorenzo e Tigre, foi o melhor nos jogos de desempate e foi campeão.
Época 1958/59: Empate trai Belém
O Belenenses, que tinha sido campeão em 1945/46, chega à última jornada isolado na frente, com mais um ponto do que o Benfica, mas acaba por perder o título para os encarnados, a única alteração do género em 88 campeonatos. Na derradeira ronda, as águias, de Otto Glória, vencem com tranquilidade (3-0), em casa, o Atlético, mas os azuis sentem dificuldades na receção ao Sporting. A equipa de Fernando Rieira esteve duas vezes a ganhar, mas um golo leonino de João Martins (86 minutos) deu o definitivo 2-2. O Benfica foi campeão, um ponto acima do Belém.
Época 1958/59: Golos decidem cetro
F.C. Porto e Benfica chegam à última ronda igualados na frente, com 39 pontos cada, empates nos jogos entre ambos e vantagem portista, no saldo de golos. Os dragões visitam o último (Torreense) e vencem 3-0, mas têm de esperar pelo fim do jogo do rival, que desata a marcar, em casa, à CUF. Os encarnados chegam aos 7-1, com três penáltis de José Águas, e fica a faltar-lhes mais um tento para apanhar os azuis e brancos. Mas Inocêncio Calabote, árbitro que ficou célebre por prolongar "eternamente" o desafio da Luz, lá deu o último apito e o F.C. Porto foi campeão.
Época 1979/80: Portistas caem no fim
O que parecia ser o primeiro "tri" do F.C. Porto resultou na conquista do título pelo Sporting. Ao vencer só uma vez nos últimos quatro jogos, os portistas cederam o cetro, mas com polémica à mistura. O êxito leonino (1-0), na visita a Guimarães, na penúltima ronda, levantou suspeitas. O golo foi apontado na própria baliza por Carlos Manaca, central que jogara vários anos nos leões. As duas equipas entraram na última jornada empatadas, com desempate favorável ao Sporting, que depois bateu em casa a União de Leiria (3-0), enquanto o F.C. Porto perdeu em Espinho (0-2).
Época 1985/86: Serranos assustam
A duas jornadas do fim, o Benfica liderava com mais dois pontos do que o F.C. Porto, mas perdeu em casa com o Sporting (1-2) e cedeu o lugar aos dragões, ambos com 47 pontos, com supremacia azul e branca no confronto direto. Tudo apontava a favor do F.C. Porto , que recebia o último (Covilhã), ao passo que o Benfica visitava o Boavista (quinto). Os serranos estavam a vencer 2-1 à hora de jogo, mas um bis de Fernando Gomes virou o jogo para 3-2 e a seguir Elói fez o definitivo 4-2. Já o Benfica perdia 0-1 no Bessa, mas mesmo que tivesse ganhado o título seria portista.
Campeonatos lá fora
Alemanha | Época 1991/92: Líder cai para terceiro
Eintracht na frente, um ponto acima de Estugarda e Dortmund. Mas a equipa de Frankfurt falha o título! Um golo sofrido em Rostock ao minuto 90 atira-a para terceiro. Já o Estugarda marca aos 88 em Leverkusen e é campeão, de nada valendo a vitória do Dortmund (2.º) em Duisburgo
Espanha | Época 1993/94: Falha penálti ao minuto 90
O Deportivo recebe o Valência e está prestes a ser campeão pela primeira vez. O 0-0 subsiste mas, ao minuto 90, há penálti para os galegos. Djukic falha e o título foge. Já o Barcelona goleia o Valência. O duo da frente acaba com os mesmos pontos, mas o desempate favorece os catalães.
Itália | Época 1999/2000: Juve desperdiça avanço
A Juventus, que a três jogos do fim tinha cinco pontos de avanço, entra na última jornada com mais dois pontos, mas é ultrapassada pela Lazio, onde jogava Sérgio Conceição, agora técnico portista. A equipa de Turim perde em Perugia e os biancocelesti batem a Reggina e são campeões.
França | Época 2001/02: Troca direta de líder
A cinco jornadas do fim, o Lens tinha seis pontos de avanço, mas, antes da última ronda, a vantagem caiu para um ponto e ainda tinha de visitar o Lyon, segundo da tabela. Em casa, o Olympique dominou o jogo, venceu por 3-1 e sagrou-se pela primeira vez campeão. O troféu inicial de sete consecutivos.
Brasil | Época 2009: Fla não dá hipóteses a rivais
Batido em Goiás (2-4) na penúltima ronda, o São Paulo perdeu a liderança para o Flamengo. Internacional e Palmeiras também entraram na corrida a quatro. Mas o Mengão venceu o Grêmio (2-1) e festejou.
Inglaterra | Época 2011: Aguero dá título a acabar
No penúltimo jogo, ao bater (1-0) o United, o City igualou a pontuação do rival da cidade e com desempate favorável .Mas, no fecho da Liga, enquanto os "diabos" marcaram cedo ao Sunderland, os "cityzens" estiveram a perder 1-2, empataram aos 90 e só viraram nos descontos, por Aguero.