Francisco Benitez considera Rui Costa conivente, cúmplice ou, então, distraído.
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Francisco Benitez, líder da lista B e do movimento "Servir o Benfica", aposta na transparência, tradição democrática e ambição desportiva, em contraciclo com um clube que, nos últimos anos, acredita ter sido gerido com opacidade e pouca cultura democrática. Um caminho do qual não isenta Rui Costa, rival no ato eleitoral de sábado, e a quem acusa de ter sido "conivente, cúmplice ou, então, distraído" durante a gestão de Luís Filipe Vieira, que, diz, com a prisão apagou as coisas boas que fez no clube.
Quais são os pilares da sua da candidatura?
São os da fundação e pelos quais o clube deve continuar a reger-se. Transparência. Os sócios têm de saber o que se passa e, nos últimos tempos, houve opacidade, nomeadamente nas vendas de jogadores, que deram origem a processos, e também ao caso da OPA. Democraticidade, pois a palavra de todos contava e isso acabou com os estatutos há uma década. Depois, ambição desportiva, muito maltratada e onde há uma palavra a dizer.
Qual foi a falha de Vieira?
Em vez de se concentrar na génese de ganhar, o clube priorizou outros fatores e começou a ser mais um entreposto de jogadores, em que o lucro é o objetivo, em detrimento das vitórias. Queremos alterar essa lógica e uma das primeira medidas é realizar uma auditoria forense para se avaliar a extensão dos negócios e a opacidade de todo o grupo. Vamos ver onde isto vai dar...
Rui Costa representa essa linha? É delfim de Vieira?
As palavras nem são minhas, mas de Luís Filipe Vieira, que disse estar a formar o sucessor. A lista A é claramente o espelho desta forma de gerir o clube, opaca e pouco democrática.
Rui Costa devia tirar ilações por ter estado na direção de Vieira?
Das duas uma, ou era conivente, cúmplice ou então distraído. Mas qualquer das características é má para se ser presidente. Porém, se os benfiquistas considerarem que são aceitáveis e lhe derem o voto, não há nada a fazer. São eles que decidem. ...
Vieira fez mais coisas boas ou más no clube?
Acho que mais coisas más. Um presidente detido em funções é demasiado mau para um Benfica pináculo do exemplo da democracia em Portugal. Ter um presidente detido por supostamente ter defraudado o clube, em proveito próprio, é a antítese do que é o Benfica. Também fez coisas boas, mas esta mancha no fim do mandato é tão pesada que anula as coisas que fez de bom.
Mesmo sendo absolvido, ou nem sequer acusado, considera não existirem condições para regressar?
Jamais voltaria numa situação dessas. Mas também nunca estaria aí.
Concorre para vencer, mas, se não acontecer, sente que já triunfou ao forçar o debate de ideias?
Sim, mas não eu. O vencedor é o movimento "Servir o Benfica", que conseguiu um regulamento eleitoral e o último terá sido em 1968. Forçámos esse ponto, não foi algo genuíno destes órgãos sociais.
Defende o controlo da SAD. Como vê a entrada de investidores privados?
É o mercado a funcionar. António Santos já tem mais de 20%, mas desde que seja o mercado a funcionar tudo bem. Não quero é especuladores. Se alguém comprar porque é benfiquista e quiser ajudar, acho bem, mas deve fazê-lo a todos e não só a alguns. Pode haver acordos que ainda se desconhecem.
Será o caso de Texter?
Não percebi. Se estivesse no lugar de Rui Costa aceitaria falar com o John Texter e depois transmitia as ideias aos sócios. Não percebo por que não falou. No meu caso, receberei John Texter ou outro potencial investidor.
Se for eleito vai aproximar-se de Pinto da Costa e Frederico Varandas?
Se defendo para o Benfica valores como transparência e democracia só poderei relacionar-me com clubes que defendam a mesma coisa. Se há outros que não o fazem, bem pelo contrário, não tenho interesse em falar.
Pelo que tem visto, o F. C. Porto e o Sporting pugnam por essa transparência?
Não me parece.
Jesus? É preciso ver se se identifica com o projeto
Vai renovar com Jorge Jesus?
Não rasgo contratos e será seguramente o treinador até final da época.
E depois?
Ser-lhe-á apresentado um projeto e é importante saber se está ou não identificado. Será baseado no que é jogar à Benfica, com um futebol versátil, ofensivo, no fundo a sua ideia. Porém, há outras condicionantes e uma pode ser a da aposta na formação.
Equaciona não utilizar empresários nas vendas?
A ideia não é tão limitativa. Nos últimos anos vendemos 1100 milhões de euros em atletas e isso não serviu praticamente para manter nenhum da formação. A nossa lógica é outra. Queremos conservar os nossos jogadores o maior tempo possível. Se os vierem buscar, é só bater a cláusula de rescisão. Não haverá intermediários, mas gente na estrutura para tratar da venda.
Mas como se mantém um jogador que recebeu uma oferta superior?
Se me dissessem que os jogadores saíam para ganhar milhões no Médio Oriente ou na Ásia, mas a verdade é que, por vezes, vão para clubes que lhes dão acesso a palcos que não acreditam que o Benfica lá chegue.
Então, falta é melhorar a performance desportiva?
Os jogadores querem grandes palcos e finais, mas quando começam a ver vender sempre que possível também se metem na fila para irem embora.
Como se ultrapassa isso?
Se houver compromisso de vitória, ganhar três títulos em quatro, conquistar hegemonia e estar nos oitavos e quartos de final da Champions, quer sair porquê? Está numa equipa vencedora e terá o seu tempo de partir, acreditamos depois de dois a três anos. Renato Sanches e João Félix se tivessem ficado mais um ano teria sido muito melhor para eles e para o Benfica.
Irá manter a parceria com Jorge Mendes?
Vamos estar abertos a todos os empresários. Não podemos passar de uma situação de quase exclusividade para outra de quase não falarmos. Mas se me pergunta se vou fazer alguma espécie de parceria, não, não o faço. Venho do retalho e quando há alguns acordos de exclusividade acabamos a perder dinheiro.
Quem será o responsável máximo do futebol?
É uma pessoa com créditos firmados no futebol, bastante conhecida, mas que ainda não posso revelar o nome.
Ser benfiquista é condição indispensável para entrar na administração da SAD. Nesse caso, Domingos Soares Oliveira não segue?
É a conclusão lógica e corretíssima. Em seis milhões de benfiquistas, seguramente vamos encontrar um com tantas capacidades, ou até mais, para gerir a SAD. É importante que alguém à frente da sociedade pense Benfica e tenha coração de benfiquista. No fim do dia isso conta mais um bocadinho, porque entra um pouco mais de paixão, do que alguém que faz o seu trabalho sem paixão nenhuma.
A limitação abrange apenas a Administração?
Órgãos sociais e administração. A cúpula tem de estar entregue a benfiquistas. Outra coisa são funcionários. Não podemos pedir a Jorge Jesus que deixe de ser sportinguista quando sabemos que o é.
PERFIL
Francisco Manuel Mourão Benitez é empresário no ramo de representação de marcas, residências de estudantes e lavandarias. Licenciado em Marketing pelo IADE, tem ainda uma pós-graduação em Gestão de Retalho. Iniciou a atividade na área da publicidade e assumiu a liderança do movimento "Servir o Benfica". Em 2020, anunciou a candidatura e veio a integrar a lista de Noronha Lopes. Este ano desafia Rui Costa.