O Grupo Desportivo de Chaves não descansou à sombra dos louros pela subida à Liga, no play-off com o Moreirense, e começou a trabalhar no dia seguinte, preparando a próxima época na condição de único representante de Trás-os-Montes e Alto Douro e do interior do país no principal escalão do futebol português. O presidente da SAD, Francisco José Carvalho, diz que a interioridade tem custos, nomeadamente na altura de contratar jogadores, e que há muito trabalho pela frente.
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Depois de uma primeira parte do campeonato irregular, acreditou que seria possível recuperar e lutar pela subida?
Nunca duvidei. Quando a construímos o plantel estava confiante que iríamos lutar até ao final pela subida. Pelo menos para chegarmos ao play-off. Até novembro, as coisas não correram da melhor maneira. Em casa, a equipa estava forte, mas fora perdia muitos pontos. Tivemos muitas lesões e casos de covid, mas acreditava que iríamos dar um clique e quando ultrapassámos o período mau começámos a ganhar fora de casa.
Qual foi o segredo?
A união. Conseguimos criar um grupo forte. Estamos todos no mesmo barco, desde a senhora da limpeza ao presidente da SAD.
Já estão a trabalhar na próxima época?
Estamos a fazer o planeamento, pois temos muito trabalho pela frente. Tivemos 15 dias sem tomar decisões, a ver se subíamos ou se nos mantínhamos, e agora há situações para decidir.
A começar pelo treinador Vítor Campelos?
Sim. Com o treinador ainda não tínhamos falado [sobre a renovação], mas vamos trabalhar para a continuidade. Tem de ficar rapidamente definido, bem como os processos de jogadores que saem e que renovam, da equipa médica, do staff, do marketing e da comunicação, das quotas dos sócios, etc.
Vai ser um defeso exigente?
Sem dúvida. Estamos 15 dias atrasados em relação aos outros clubes, mas já temos muitos processos organizados, muitos jogadores com contrato, a base está feita, por isso teremos, sobretudo, um trabalho de organização da pré-época.
É necessário reforçar a equipa?
Sim, é normal. Todos os anos temos de retocar o plantel. É um processo sempre difícil, porque há atletas que querem sair por terem recebido propostas de outras equipas. É o preço do sucesso.
Com a descida do Tondela, o Chaves passa a ser a única equipa do interior na Liga. Isto também cria dificuldades?
Os jogadores que o Chaves deseja contratar ficam mais caros 20 a 30 mil euros por ano do que se o clube estivesse no litoral do país. Eles querem viver nas cidades maiores, estarem perto das famílias e é difícil convencê-los a virem para Chaves. Por isso, têm de ter outras compensações financeiras. Ou veem ganhar mais 1500 ou 2000 euros líquidos por mês ou então não veem. No entanto, aqui têm outras vantagens, porque o Chaves é um clube que forma e vende. Temos tido vários jogadores e treinadores com muito êxito.
O objetivo é assegurar a manutenção ou é legítimo sonhar com algo mais?
O primeiro objetivo é manter o Chaves na Liga e fazer um campeonato tranquilo, de modo a evitar contas no final.
Em 1980, o Chaves chegou a ir à antiga Taça UEFA. No atual contexto é possível?
Nem é difícil ir à Liga Europa. A diferença entre as equipas que se apuram para essa competição e as que conseguem escapar à descida é, por vezes de cinco ou seis pontos. Depois das primeiras cinco equipas, que são quase sempre as mesmas, há 10 ou 12 que estão sujeitas a descerem ou a apurarem-se para as competições europeias.
Há alguns anos, o Chaves tinha muito apoio de espanhóis. E agora?
Já tivemos mais. Povoações vizinhas como Verin e Ginzo de Límia também enfrentam o mesmo problema do interior português e perderam população. Já não há assim tantos espanhóis no estádio.
E transmontanos?
Com o Chaves na Liga nota-se um aumento do número de sócios de Trás-os-Montes e Alto Douro. Todos os concelhos à volta acabam por motivar-se e vir acompanhar o clube da região. Mesmo ao nível de patrocínios, temos mais apoio de empresas de cidades vizinhas do que de Chaves.
A loja está a vender mais merchandising?
Sim. O Chaves é dos clubes que vende mais, a seguir aos três grandes. Quase tanto como o Guimarães ou Braga. Estando na Liga será melhor. Na última subida vendemos mais de 15 mil camisolas. Na última temporada, na Liga 2, vendemos mais de cinco mil camisolas. São números interessantes para um clube com dois mil sócios.
O número poderá aumentar agora?
Creio que sim, que poderemos chegar aos seis a sete mil. As quotas também são acessíveis. Baixamos de 100 para 30 euros anuais, para tentar atrair mais público ao estádio.