Futebol feminino tem vindo a registar um aumento do número de praticantes, mas ainda há um longo caminho a fazer.
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A menos de uma semana do arranque do Campeonato da Europa de futebol feminino, na Suíça, com a seleção a estrear-se frente à Espanha (2.ª do ranking da FIFA) na quinta-feira, em Berna, Portugal (22.º) está apostado em levar a cabo um feito inédito e ultrapassar a fase de grupos. Mas estará o futebol feminino português em condições de conseguir dar esse salto, num Grupo B que, para além da Espanha, conta ainda com a Itália (13.ª do ranking) e a Bélgica (20.ª), todas elas seleções teoricamente mais capacitadas? Na passada terça-feira, a seleção sub-19 terminou um percurso sensacional nas meias-finais do europeu frente à França (4-3). “Há muito a fazer, já foi feita muita coisa, mas o caminho faz-se caminhando. Nesta altura, o desempenho da equipa é mais importante do que a classificação. Todos sabemos que o futebol vive de resultados, mas a seleção é mais um espelho para a formação, para que percebam o processo que a Federação quer implementar”, explicou Andreia Correia, antiga jogadora e dirigente do Marítimo, ao JN.
Aposta forte
De 2012/13 para cá, quando Fernando Gomes assumiu a presidência federativa, o futebol feminino “explodiu”, passando de 2446 praticantes para cerca de 15 mil em 2024/25. Na próxima época, Portugal terá três representantes na Champions e a Liga será reduzida a dez equipas em nome da competitividade. “Estamos no bom caminho. Embora ainda não estejamos no topo, já conseguimos fazer bons resultados contra grandes seleções no último mundial e no europeu”, sublinhou, ao JN, Paula Cristina, antiga jogadora do Boavista.
A aposta feita pelo Benfica no futebol feminino, a partir de 2018/19, com a conquista da 2.ª Divisão e a consequente subida, deu um impulso ainda maior à modalidade, juntando-se ao Sporting e ao Braga para dotar o campeonato de maior competitividade. Recentemente, o F. C. Porto conquistou a 3.ª Divisão na primeira temporada no feminino, pelo que as expectativas não podiam ser melhores. “O futebol feminino só recentemente foi olhado como um negócio e levou os clubes a fazer uma aposta maior, que arrastou a Federação, daí este crescimento nos últimos anos. Mas faltam infraestruturas. Temos cada vez mais atletas, até 2030 querem chegar às 30 mil, mas temos de pensar em infraestruturas que acompanhem esse crescimento. O Governo e a Federação têm de ajudar se quiserem que o futebol feminino continue a crescer, senão vamos ter miúdas de 9 e 13 anos a treinar às 10 horas da noite”, sublinhou Andreia Correia.
Encurtar distâncias
Enquanto as federações como as da Alemanha, França, Suécia, Noruega ou Estados Unidos investiram no futebol feminino desde os anos 70 e 80 do século passado e outras, como Espanha, Inglaterra e Itália, já competem em ligas profissionais desde o início da década, Portugal tinha o Campeonato Nacional Feminino desde 1985/86, mas só começou a estruturar a competição e a investir a partir de 2015/16, criando a Liga BPI em 2018/19, que tem vindo a desenrolar-se num contexto semi-profissional, mas que a Federação pretende tornar profissional a curto prazo.
“Ainda há muito a fazer, porque nem todas as equipas da Liga têm campos próprios e até jogam fora. Muitas equipas treinam à noite, depois dos outros escalões, e há horários que não se justificam para as jogadoras, depois de um dia de trabalho, ou estudo. Mas com a formação das miúdas a começar cada vez mais cedo e os clubes grandes a apostar cada vez mais, a evolução vai continuar. Se os clubes grandes e todos os outros continuarem a dar condições e melhorarem, a tendência será para evoluirmos bem e termos boas equipas e boas seleções”, partilhou Paula Cristina.
O plano estratégico
Do plano estratégico da Federação fazem parte o aumento do número de praticantes, profissionalizar as competições, reforçar a formação; melhorar a visibilidade e cobertura mediática, qualificar treinadores, árbitros e dirigentes; integrar o futebol feminino nos grandes clubes; desenvolver a seleção e reforçar a presença internacional, além de criar um ecossistema sustentável e competitivo. Apesar de tudo, as assimetrias – e nem se fala ao nível das remunerações – têm sido difíceis de anular. “Estamos a replicar várias coisas do masculino, embora seja apologista de fazermos o nosso próprio caminho, porque a mulher é diferente do homem. Mas ao nível de um balneário, só o facto de a mulher ser menstruada e de poder engravidar, tem implicações diferentes de um balneário para homens”, acrescentou Andreia Correia.
