Galeno, o "senhor Champions" que regressou ao F. C. Porto para deixar a sua marca
Com cinco golos e quatro assistências, Wanderson Galeno é uma das principais figuras da atual edição da Liga dos Campeões. Formado no modesto Trindade, dos confins do futebol brasileiro, chegou a ser guarda-redes antes de vingar no ataque. Hoje, tem a Europa a seus pés.
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Os companheiros de equipa no F. C. Porto apelidam-no de "senhor Champions", um epíteto com suporte real, ou não fosse Galeno o jogador com melhor rendimento na prova até ao momento, superando a feroz concorrência de Erling Haaland (Manchester City) e Kylian Mbappé (PSG), que completam o pódio.
Na primeira mão dos oitavos de final, diante do Arsenal, os astros voltaram a alinhar-se para nova noite memorável do avançado brasileiro, que no momento da revelação ofuscou um Dragão em ânsia com a centelha do seu talento, que o remate em arco e o voo desesperado de David Raya caricaturaram num golo para a eternidade.
Mas quem é, afinal, Wanderson Galeno, o avançado que o F. C. Porto descobriu no Campeonato Goiano e, mais tarde, resgatou para se afirmar na equipa principal? Esta história tem como cenário de partida o município de Barra do Corda, no estado brasileiro do Maranhão, de onde é natural o avançado portista.
"O futebol foi o meu primeiro amor", contou Galeno na edição de setembro de 2022 da revista "Dragões". Na adolescência chegou a ser guarda-redes e defesa central, mas sempre gostou de jogar mais à frente. "Acho que escolhi bem", dizia, na altura, o atacante, descoberto pelo scouting dos dragões no anónimo Campeonato Goiano, após ter sido eleito o jogador revelação da edição 2016 da prova ao serviço do Trindade, onde completou a formação.
Antes de se mudar para Portugal assinou pelo Grémio Anapólis, que o cedeu de imediato ao F. C. Porto, onde se destacou pela equipa B com 13 golos e seis assistência na Liga 2, em 2016/2017, números que levaram os dragões a avançarem para a sua contratação em definitivo.
"Cheguei novo e a minha adaptação não foi nada fácil. Pouco a pouco, e com a ajuda de todos, consegui ganhar esse conforto. Não posso deixar de agradecer o apoio que o António Folha me deu nessa altura, é um grande treinador", recordou Galeno à revista "Dragões", numa entrevista em que vincava o objetivo de "fazer história no F. C. Porto" desde o momento em que aterrou na Invicta.
No entanto, o trajeto até o conseguir foi tudo menos linear. Após cedências a Portimonense e Rio Ave, com maior sucesso em Vila do Conde (nove golos e 10 assistências), os portistas decidiram vender o seu passe ao Sporting de Braga por 3,5 milhões de euros, em 2019. Um adeus que acabou por não ser definitivo porque, três anos depois, Sérgio Conceição viu nele o substituto ideal para Luis Díaz, vendido ao Liverpool em janeiro de 2022.
"Fiz um grande trabalho durante esses anos, mas estou muito feliz pelo meu regresso. O meu pensamento não está no que já vivi e nessas experiências, mas sim no que posso fazer para ajudar o F. C. Porto a vencer. Agora sou um jogador mais maduro e capaz de ajudar o F. C. Porto no que o mister Sérgio me pedir", dizia Galeno, citado pela "Dragões".
O regresso custou aos portistas cerca de nove milhões de euros, valor que Galeno começou a rentabilizar na época seguinte, com um total 15 golos (dois na Champions) e seis assistências.
Este ano, o brasileiro elevou o nível na principal competição europeia de clubes a um patamar estratosférico, liderando por esta altura os rankings de melhor marcador (cinco golos) e de assistências (quatro), em ambos os casos com a companhia de alguns dos principais nomes do futebol mundial. Para além disso, é o jogador com mais participações diretas em golos (nove) na atual edição da prova.
Apesar destes números, Galeno não é propriamente uma superestrela no seu país, que muitos veem como a pátria do futebol e que tem que Vinicius Júnior, do Real Madrid, o seu baluarte na atualidade.
Em entrevista ao jornal "Globo", após ter assinado o golo 1000 de futebolistas brasileiros na Liga dos Campeões, na vitória do F. C. Porto em Leverkusen (0-3) na época passada, o jogador portista lembrava que a sua carreira foi construída na Europa, vendo aí a explicação para não ser muito conhecido no seu país natal. "Por isso, é normal que as pessoas não tenham esse reconhecimento", explicou.
Com dupla nacionalidade, brasileira e portuguesa, Galeno já manifestou abertura em representar qualquer uma das duas seleções. Entretanto, renovou até 2028 pelos dragões, que aumentaram para 60 milhões de euros a clásusula de rescisão de um avançado que tem dado nas vistas no principal palco do futebol europeu.
Na mesma entrevista concedida à revista Dragões, em 2022, Wanderson Galeno, fã de Neymar e Ronaldinho e craque também nos videojogos, confessava que o seu maior sonho era "ganhar a Liga dos Campeões pelo F. C. Porto". Não se pode dizer que não esteja a fazer de tudo para o conseguir.