Clube superou o período mais difícil da história e renasceu graças à ligação às gentes de Pamplona e aos jogadores locais.
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Está longe de ser uma casualidade que os dois golos mais importantes da história recente do Osasuna tenham sido marcados por jogadores nascidos em Pamplona, quase ao lado do mítico El Sadar, criados e formados na "cantera" do clube. Oito anos depois de Javier Flaño ter evitado a despromoção ao terceiro escalão, que, confirmando-se, podia implicar o fim do emblema de Navarra, foi Pablo Ibañez a apurar o Osasuna para a primeira final da Taça do Rei desde 2005, a decidir hoje (21 horas) com o Real Madrid. Ibañez é um dos 10 "canteranos" que fazem parte do plantel principal, está no Osasuna desde os seis anos e, se tudo correr bem, não sairá de lá tão cedo. Pelo menos, não por vontade própria, ou não estivesse ele a viver o que sonhou. "Duvido que volte a sentir algo assim", disse, após ser o herói frente ao Athletic Bilbao.
Se é preciso quase um milagre para derrotar o Real Madrid, então o próximo adversário pode muito bem ser o indicado para fazer tremer os "merengues". Nos últimos anos, o Osasuna precisou de vários milagres e nenhum ficou por concretizar, no campo (como no tal jogo que fez de Flaño uma lenda) e fora dele, como quando se livrou de uma falência quase certa. Que tenha resistido também se explica com o espírito comum às gentes de Pamplona, "famosas por nunca desistirem" - nas palavras de Jon Moncayola, o médio que veste as cores do clube desde os dez anos e que recentemente renovou até... 2031 - e por fazerem do El Sadar o inferno para quem o visita. Os sócios são parte ativa do quotidiano do clube, ao ponto de terem acesso às contas e terem voto em quase todas as decisões importantes para o futuro do emblema mais representativo de Navarra.
Isso, o de se manter a salvo de investidores suspeitos e de dinheiro com proveniência mais ou menos duvidosa, é outro dos milagres dos "Los Rojillos", que se fazem fortes num futebol cada vez mais elitista e desligado das raízes. Esse descanso de consciência não está à venda nem por nada e também tem consequências positivas ao nível desportivo, com os jogadores locais, do Osasuna desde que se conhecem, a terem contributos decisivos para a evolução que o clube conheceu nos últimos anos. A aposta na formação e o investimento na educação de jovens da região é a grande missão da instituição cujo nome significa "saúde" em basco e que é presidida por Luis Sabalza, um advogado local, e que tem Francisco Puñal, outro navarro que fez toda a carreira no clube, como diretor da academia. Ainda há santos da casa que fazem milagres.