As ondas de choque das eleições no Sporting, em que estão frente a frente Bruno de Carvalho e Pedro Madeira Rodrigues, continuam a estender-se e até já motivaram uma carta aberta de Godinho Lopes a desafiar José Maria Ricciardi a candidatar-se à presidência do clube leonino.
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No mesmo documento é refutada a ideia de o atual presidente ser o responsável pela reestruturação financeira da SAD.
Em causa está a divulgação, por parte de Pedro Madeira Rodrigues, de uma gravação de uma conversa entre José Maria Ricciardi, antigo presidente do BESI, e Sikander Sattar, líder da KPMG, em que o primeiro, atualmente membro da Comissão de Honra da lista de Bruno de Carvalho, defende que a única solução para os leões seria a perda da maioria do capital social da SAD.
O excerto foi usado pelo candidato à presidência do Sporting para acusar Bruno de Carvalho de tentar vencer o clube. Só que tanto o líder dos leões, como José Maria Ricciardi, acusaram Madeira Rodrigues de "calúnias", defendendo que a gravação remete para o mandato de Godinho Lopes. É neste contexto que surge a resposta do antigo líder dos leões.
Entre alusões a Bruno de Carvalho, que indiretamente acusa de querer "estar acima do clube", Godinho Lopes garante que a reestruturação financeira "estava pronta" e ainda lança a Ricciardi o desafio de se candidatar à presidência leonina.
Segue a carta aberta de Godinho Lopes a Ricciardi, intitulada "Só há uma verdade".
"Muito pensei e hesitei antes de decidir intervir em plena campanha eleitoral do Sporting Clube de Portugal. E isto porque me considero um indivíduo isento, que gosta muito do seu Clube e que naturalmente segue com atenção, ainda que à distância, este momento eleitoral.
Na verdade, desde cedo intuí que não me surpreenderia com o facto de que qualquer um dos candidatos falasse de mim ou usasse indevida ou abusivamente o meu nome. Afinal, já mesmo fora do contexto deste processo eleitoral foram a meu respeito proclamadas calúnias que, a seu momento e no devido local, os tribunais, esclarecerão os Sportinguistas e o público em geral sobre a verdade.
Posto isto, o que me levou a escrever estas palavras é, por um lado, a revelação de uma gravação; e, por outro, a invocação do meu nome por parte de José Maria Ricciardi num tom e numa linguagem que considero, no mínimo, ligeiros e abusivos.
Já muita gente irresponsável me destratou na televisão do Sporting e em outros meios de comunicação social. Mas sim, é gente irresponsável e sobre a qual não nutro qualquer respeito - tenha essa gente o lugar que tiver no clube... Gente que se considera maior do que o Sporting e que, por uma estrita questão de ego, acredita estar acima do Clube. Mas essa gente simplesmente ignoro-a e não dou resposta.
No entanto, crendo ainda ser José Maria uma pessoa de bem, entendo deve repor a verdade em duas frentes:
- sobre a gravação, ouvi com atenção, telefonei a Sikander Sattar (pessoa em que acredito) e fiquei sem dúvidas de remontar a 2013. Não posso deixar de criticar veementemente a forma como se grava uma "reunião" e se usa a mesma, como se os presentes tivessem sabido e concordado na sua divulgação. Sobre o conteúdo, seguramente, quem esteve presente explicará;
- no que se refere ao propalado Plano de Reestruturação, não é natural que José Maria Ricciardi, embora não participando nas reuniões, ignorasse que se fizeram em 2012 e nos princípios de 2013. Embora Sportinguista dos "quatro costados", mas isso somos todos, prejudicou e sobremaneira o Clube pelas suas atitudes de querer controlar os candidatos. E não gostei das afirmações que ouvi.
José Maria "empurrava" Sikandar Sattar (e este sim, deu a cara vezes sem conta pelo Clube) para que convencesse os bancos a ajudar o Sporting.E também é verdade que José Maria me apoiou depois e que me acompanhou nas reuniões do Conselho Directivo.
Mas também no seu modo de querer controlar, recordo que Daniel Sampaio, em entrevista ao Diário de Notícias, revelou jantares com Eduardo Barroso nos quais diz que José Maria o incitava a ser Presidente - quando eu ainda era o Presidente. E já fora assim em 2009, com José Eduardo Bettencourt, quando se hesitava entre este actual administrador do Novo Banco e Eugénio Dias Ferreira como candidatos.
Não foi assim comigo pois, quando me pediu para ir a uma reunião, no início de 2011, convencido de que me iria condicionar, tratei de, taxativamente, o informar de que seria candidato às eleições.
Caro José Maria, bem sabes que a Reestruturação financeira estava pronta. Pronta, mas não por ti nem contigo. Pronta, sim, numa reunião final na KPMG, com os administradores dos dois bancos credores, Millennium e BES, Sikander Sattar e comigo.
Caro José Maria, quem salvou o Sporting foram os Sportinguistas, não algum Salvador ou milagre.
O tempo encarregar-se-á de repor a verdade e não é por tantas vezes invocares o meu nome que o "milagre" se vai fazer.
Cumprir com os bancos no primeiro ano não foi obra de um grande gestor, foi obrigação, para sobreviver. A partir daí basta olhar para as contratações e o desatino total.
Agora, caro José Maria, tanta preocupação e interesse, para mais consubstanciados ao longo de tantos anos de intervenções na sombra, não crês que estaria na altura de te candidatares e de, assim, demonstrares o teu amor, que conheço, pelo Sporting Clube de Portugal? E demostrares que, como eu, não precisarias de te servir do Clube nem do Clube para viver? Ou será que nunca o farás por teres a perfeita noção, por fora claro, dos prejuízos pessoais, familiares, económicos, empresariais e de imagem que tal decisão acarreta - como em mim acarretou?
Sabes bem que o Sporting está acima de mim e que eu, por ele, me tenho mantido calado. Mas quando falam de mais de mim e me destratam de forma vil e mentirosa, não me calo. Nem hoje, nem nunca!"