A 15 de janeiro de 1998 nasceu a Associação Gondomar Cultural com a missão de promover atividades desportivas no concelho ao qual foi buscar o nome, implementando a prática do andebol, polo aquático, voleibol feminino e tiro com arco, que até então não tinham expressão na Cidade Europeia do Desporto.
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"O Gondomar Cultural é uma coletividade um pouco diferente das outras, pois temos modalidades que não têm prática desportiva organizada no concelho, para fugir um pouco ao é normal e mais fácil, que é o futsal ou o futebol", explica o presidente José Santos, anotando que, desta forma, a coletividade também contribui "para o desenvolvimento desportivo".
Ao longo dos tempos, o clube foi crescendo e firmando alicerces nos três desportos coletivos. Em andebol masculino e voleibol feminino os seniores conseguiram chegar à 2.ª Divisão Nacional, mas foi dentro de água que o Gondomar Cultural alcançou os maiores feitos do palmarés, somando vários títulos nacionais de infantis, juvenis e juniores, bem como vários segundos lugares em seniores femininos.
"O polo aquático tem resultados mais relevantes em termos desportivos. Já tivemos títulos nacionais e temos atletas internacionais. Somos um bocadinho mais fortes no feminino. Discutimos, no ano passado, a Taça de Portugal com o Benfica", refere José Santos.
Quase 20 anos volvidos, nem tudo correu como planeado e o clube vê-se, atualmente, confinado apenas ao andebol - os seniores desceram, entretanto, à 3.ª Divisão - e ao polo aquático, após ter sido extinto o voleibol "por os custos com duas equipas no segundo patamar nacional serem insuportáveis". Nos dois desportos conta com cerca de 200 atletas, desde os escalões de formação até aos veteranos. "Estamos num caminho positivo quer numa modalidade, quer noutra", afirma, confiante, o presidente, reconhecendo, contudo, que ainda têm de "trabalhar mais" para continuarem a crescer.
À espera de um pavilhão próprio
E o Gondomar Cultural só não volta a alargar os horizontes a outras modalidades por manifesta falta de espaço físico, situação que José Santos espera ver alterada num futuro próximo. "Estamos a pensar ter andebol feminino, mas infelizmente ainda não temos capacidade, por não termos espaços disponíveis", justifica o dirigente.
E continua: "Não temos instalações próprias. Estamos a tentar resolver esse problema e, dentro de um ou dois anos, ter o nosso espaço através de um protocolo que vamos estabelecer com a Câmara Municipal. Assim libertaremos mais espaço para as outras coletividades e também daremos a oportunidade de outros clubes usarem o nosso pavilhão".
Aliás, José Santos assume este como o objetivo principal, pois, para além da piscina municipal de Rio Tinto onde está sediado o polo aquático, o clube tem espalhada a atividade por três outros espaços: na Escola Secundária de Rio Tinto e no pavilhão de Carreiros, em Gondomar, e num dos pavilhões da Escola Básica e Secundária do Cerco, no Porto.
Apesar destas condicionantes, o Gondomar Cultural tem conseguido cativar jovens para a sua causa. "Num concelho em que a maioria dos jovens é absorvido pelo futsal e futebol, a prospeção não é muito fácil. De qualquer das formas, na área educativa temos o "Projeto Escola a Tempo Inteiro", através do qual desenvolvemos um trabalho com os professores nas diversas escolas de Gondomar e captamos muitos miúdos fazendo ações de sensibilização. O nosso rastreio vem dessa área", releva o presidente, professor de educação física reformado e diretor desportivo da equipa de ciclismo da Rádio Popular/Boavista.
Captação começa na escola primária
Um projeto que tem dado fruto, segundo José Santos, pois os últimos anos, "a formação tem vindo a aumentar não só a quantidade de atletas, mas também a qualidade dos resultados obtidos pelas diversas equipas".
Nem por isso a tarefa é fácil, como reconhece Tiago Ferreira, 23 anos, treinador de andebol dos minis: "Nestas idades é sempre um bocado mais complicado pois os jovens estão mais interessados no futebol e é difícil chamá-los para esta modalidade. Mas temos feito um trabalho intensivo para tentar captar os meninos nas escolas primárias".
Mais difícil ainda é detetar futuros talentos tão cedo. "No escalão em que estou a trabalhar neste momento, não é aí que conseguimos ver o verdadeiro potencial, pois todos vão ter um pico de crescimento a determinada altura e, sendo assim, podem vir ter mais ou menos potencial do que o que têm na atualidade", ressalva o técnico, para logo acrescentar: "Mas já dá para ter uma noção do que podem vir a ser como atletas".
Com a experiência de quem entrou para este desporto no escalão de iniciados e foi jogador até aos seniores, Tiago Ferreira deixa um conselho a todos os jovens que querem iniciar um desporto: "Venham para o andebol. Em primeiro lugar porque é uma modalidade em que fazemos muitos amigos, amigos para a vida; é um desporto coletivo muito diferente do futebol, o nosso ambiente não tem nada a ver; e, simplesmente, porque é bastante divertido".
Andebol surgiu por conselho médico
Já Tomás Gomes, 14 anos, jogador dos iniciados do Gondomar Cultural, aponta o "contacto físico" como a característica que mais o entusiasma no andebol. "É um desporto que há sempre contacto, é um jogo muito competitivo e os novos praticantes precisam de gostar mesmo para seguir, porque requer dedicação", salienta o jovem, que tem como ídolo Miguel Martins, jogador do F. C. Porto.
Na vida do central, que também dá uma mão nas laterais direita e esquerda, este desporto "apareceu" por conselho médico, mas rapidamente fez crescer nele uma paixão. "Jogo há mais ou menos cinco anos, surgiu após uma consulta, na qual o médico me aconselhou a jogar andebol. Vi um jogo, gostei muito deste desporto e decidi praticar", conta Tomás, acrescentando: "Quando entrei era só para praticar um desporto, mas agora quero mesmo seguir carreira no andebol. Paralelamente quero tirar um curso, para ter onde me agarrar se o andebol não funcionar. Mas gostava muito de me poder dedicar só a isto e um dia, quem sabe, chegar à seleção nacional".
O jovem acredita que esse sonho se concretizará pois anota que a modalidade está em crescimento em Portugal. "Há uns anos não era tão visto, nem tão conhecido pelas pessoas, mas agora esta modalidade está-se a dar a conhecer e isso é muito importante para o desenvolvimento deste desporto e para o reconhecimento de toda a gente", finaliza Tomás Gomes.
Polo aquático é muito exigente
Quem conhece bem a sensação de vestir as cores da seleção nacional é o treinador de polo aquático das equipas femininas. Ricardo Ferreira foi durante 13 anos praticante da modalidade, representou Portugal ao mais alto nível e sagrou-se campeão nacional pelo Gondomar Cultural. Mas o contacto com a piscina começou muito antes, aos três anos, quando se iniciou na natação no F. C. Porto. "Paralelamente andava na ginástica, mas depois tive de optar entre as duas. Como a natação me propôs entrar na competição mais cedo, abandonei a ginástica e iniciei a natação de competição", diz o treinador, de 32 anos.
Passar das competições de natação para o polo aquático é o percurso obrigatório para qualquer atleta estar mais apto para enfrentar os desafios deste desporto coletivo muito exigente a nível físico.
"Tivemos um grupo muito grande que veio das escolas de natação de competição, em que basicamente só os ensinamos a trabalhar a bola. Hoje isso já não se verifica, pois os alunos vêm das escolas de natação municipais e o ritmo de aprendizagem é diferente. Quando chegam à competição, as coisas que deveriam ter sido corrigidas no início, estão agora a ser corrigidas. Neste momento, estamos com dificuldade na aquisição de atletas por isso mesmo", explica o treinador, anotando que a "grande diferença é que no polo aquático não há tempos de descanso nenhum".
"Num jogo, a partir do momento que se inicia, as atletas só param para descansar na altura do intervalo. E isso é que trás a grande diferença, porque os movimentos são sempre contínuos, não há paragens ou pausas. Estão continuamente em esforço, por isso é que é um desporto de alta intensidade", salienta Ricardo Ferreira, explicando que na pré-época os atletas treinam de "segunda a sábado", em sessões que incluem para além do treino técnico, duas horas de natação por dia e de musculação três vezes por semana.
Por isso mesmo, o treinador afirma que o polo aquático obriga a "muita dedicação, pois exige muitas horas dentro de uma piscina".
"Não só a componente da natação, tem também a da bola, e nem sempre uma pessoa que nade muito bem consegue ser um bom jogador de polo aquático. Precisa de ter esse tato com a bola e nem todos têm essa capacidade e controlo. A bola parece muito fácil de manejar e muito pequena fora de água, mas dentro é muito grande".
Melhor jogadora juvenis
Para além de todos os pormenores técnicos que são necessários aprimorar, Beatriz Pereira, jogadora sub-18 do Gondomar Cultural, aponta o "trabalho de equipa" como o aspeto mais estimulante do polo aquático. "Esforçamo-nos todas para que o objetivo seja o mesmo, que é a conquista de uma taça ou competição. E isso passa muito pelo trabalho de equipa e integração das atletas. Somos uma família dentro e fora de água", afirma a jovem, que aos 17 anos já colheu os louros dessa união.
"Somos tetracampeãs nacionais de juvenis e ganhei o prémio de melhor jogadora. O que é muito bom, porque vejo o meu trabalho recompensado e a minha equipa ajudou-me muito para eu o conquistar, pois não faço o trabalho sozinha", salienta Beatriz, que fez um percurso idêntico ao do treinador, incluindo a presença nas seleções nacionais que a levou a participar já em três competições internacionais.
"Comecei por praticar natação no F. C. Porto, mas o meu irmão já praticava polo aquático e, um pouco por influência dele, decidi experimentar outras modalidades e como sempre adorei muito a água decidi vir para o polo aquático e aqui estou há oito anos", conta a nadadora e futura arquiteta, apontando o que distingue as duas modalidades: "Na natação só temos o objetivo de chegar a uma prova e nadar o estilo em que somos melhores, no polo temos todo o trabalho de pernas e braços. Temos de ter o corpo muito definido para aguentarmos um jogo".
No polo aquático há muita coisa que se passa debaixo de água e escapa ao olhar. "O episódio mais caricato até agora foi quando estive a jogar no estrangeiro pela seleção, estava a central e a pivot da outra equipa puxou-me para debaixo de água. Não me lembro de mais nada. Quando vim ao de cima a bola já estava a circular para o outro lado e eu não sabia o que fazer e a adversária só olhava para mim como que dizendo que não me fez nada", finaliza, entre risos, Beatriz Pereira.