Griner recorda experiência em prisões russas: "Senti muita vontade em acabar com tudo"
Na primeira entrevista que concedeu sobre os 294 dias que passou presa na Rússia, em 2022, acusada de tráfico de droga, a basquetebolista Britttney Griner admitiu ter pensado em suicidar-se por mais do que uma vez.
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Em entrevista à estação televisiva “ABC”, transmitida na íntegra na última quarta-feira, Brittney Griner confessou que, nas primeiras semanas de reclusão, pensou em cometer suicídio “mais do que uma vez”. “Senti muita vontade em acabar com tudo”, desabafou.
A basquetebolista partilhou ainda as condições com que se deparou na primeira cela em que foi colocada. “O colchão tinha uma enorme mancha de sangue e deram-me dois lençóis finos. Ou seja, ficava, basicamente, deitada sobre barras”, contou, sendo que lhe era facultado um rolo de papel higiénico por mês e pasta dentífrica com mais de uma década, que a atleta usava para limpar o mofo entre as grades.
Na segunda unidade prisional em que esteve detida, um campo de trabalhos forçados, a situação era ainda mais severa. “Havia aranhas acima da minha cama a fazer ninhos. As minhas rastas (do cabelo) começaram a congelar e eu cada vez ficava mais doente", o que a levou a cortar o cabelo. "Ali, tem de se fazer o que for preciso para sobreviver”, disse.
O pesadelo de Griner na Rússia começou em fevereiro de 2022, quando foi detida, no aeroporto de Moscovo, por posse ilegal de estupefacientes. Consigo, a atleta levava cartuchos de cigarros eletrónicos que continham canábis, legais no Arizona, de onde era proveniente o voo, mas não na Rússia, onde acabou por ser condenada a nove anos e meio de prisão pelo crime de tráfico de drogas, sentença considerada, na altura, como “inaceitável” pelo presidente norte-americano, Joe Biden.
A detenção aconteceu numa altura de grande tensão entre as duas potências, pela então recente invasão russa de territórios ucranianos. Brittney Griner, que confessou ter cometido aquilo a que chamou de “um erro honesto”, tinha viajado para Moscovo para participar na Liga feminina russa, algo que fazia, regularmente, desde 2015, durante os meses em que a WNBA parava para férias.
A sua libertação aconteceu em dezembro de 2022, na sequência de uma negociação, intermediada pelos Emirados Árabes Unidos, que resultou na troca de prisioneiros entre os Estados Unidos da América e a Rússia.
No momento da libertação, Griner contou que foi forçada a escrever uma carta em que tinha de “pedir perdão e agradecer ao chamado grande líder”, Vladimir Putin. “Eu não queria fazer isso mas, ao mesmo tempo, queria voltar para casa”, revelou.
A basquetebolista contou ainda que ficou desapontada por Paul Whelan, outro americano detido na Rússia que se pensava estar incluído na troca de prisioneiros, não ter feito a viagem de volta para a América: “Eles fecharam as portas e eu pensei: 'A sério que não vão deixar este homem voltar a casa agora'?”.
Brittney Griner é uma das maiores figuras da WNBA, a Liga feminina de basquetebol norte-americana, e da seleção dos Estados Unidos, pela qual é bicampeã do mundo e vencedora de duas medalhas de ouro nos Jogos Olímpicos.
No próximo dia 7 de maio, a basquetebolista dos Phoenix Mercury vai lançar o livro “Regresso a casa”, em que conta tudo pelo que teve de passar durante os meses em que esteve presa na Rússia.