A benjamim das provas nacionais chega à década de vida de cara lavada, mas com dores de crescimento indisfarçáveis. Agradar a gregos e troianos revela-se, ainda e sempre, uma missão penosa, mas há sinais positivos.
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Já houve partidas suspensas, medalhas a voar, ameaças de jogar com juniores e o risco de o fim estar próximo. Tanto que até Pedro Proença, presidente da Liga de Clubes, reconheceu, faz dias, que a Taça da Liga chegou a estar "moribunda". A benjamim das competições do futebol português, que, amanhã, terá uma final improvável entre Braga e Moreirense, chega à década de vida com dores de crescimento indisfarçáveis e sob a capa de uma "remodelação completa", em busca da fórmula certa para a longevidade.
Contra os "erros do passado", a Liga deu-lhe uma roupagem nova, com um conceito que pretende ser mais atrativo para famílias e clubes. Por isso, e para acabar de vez com o estigma da prova "disputada entre datas", há agora uma "final four", a coroar o "campeão de inverno". E uma promessa de fazer dela um trampolim rumo à Europa. Mas os reparos e os estereótipos continuam a existir. Vejamos. 29 de dezembro de 2016. O Sporting lutava ainda por uma vaga na "final four" e estava prestes a defrontar o Varzim, quando Jorge Jesus falou numa prova "para as equipas pequenas". 25 de janeiro de 2017. Augusto Inácio, treinador do Moreirense, diz, em entrevista ao JN, que a Taça da Liga é pensada para os grandes - um dia depois bateu o Benfica, rumo à final da prova. Em que ficamos?
Factos: os quatro semifinalistas de cada edição são cabeças de série no ano seguinte. Sejam eles o F. C. Porto, o Benfica, o V. Setúbal ou qualquer outro. Só que... "Em termos de calendário, a prova é pensada mais para os grandes, até porque, na fase de grupos, os cabeças de série têm sempre dois jogos em casa. O sorteio devia ser livre", defende António Fiusa, presidente do Gil Vicente. Mas assume: "A competição é positiva e deve continuar a ser aperfeiçoada".
Também Filipe Gouveia, treinador do Covilhã, elogia o facto de a prova "ajudar a promover o futebol português", mas torce o nariz ao calendário. "Não concordo muito com o modelo. Está um pouco desfasado relativamente àquilo que é o calendário dos jogos da 2.ª Liga".
Certo é que, se nos primeiros anos poucos faziam mira à Taça da Liga, isso tem vido a mudar. "É sabido e assumido que o Rio Ave encara a Taça da Liga como um objetivo de temporada", lembra André Vilas Boas, central vila-condense.
Resta a vertente do marketing e uma pergunta a quem melhor pode responder: as mudanças têm contribuído para aumentar a notoriedade da prova? Tem a palavra Daniel Sá, diretor do IPAM. "Já passou por várias transformações e todas elas seguem as boas regras, no sentido de se tornar mais importante para os clubes, patrocinadores e espectadores. É a única que distribui dinheiro diretamente aos clubes e até os espetáculos televisivos são muito bem montados".