Tendência de crescimento não impede que ainda haja árbitros a fazer 10 jogos ao fim-de-semana.
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O número de árbitros de futebol inscritos na Federação Portuguesa de Futebol (inclui as variantes de futebol de praia e futsal) tem vindo a crescer progressivamente na última década, graças à captação de novos juízes nas escolas e através do ensino profissional, mas sobretudo com os esforços desenvolvidos no sentido de reter os árbitros formados e evitar que desistam da arbitragem. De acordo com os números mais recentes, em 2023/24 estavam inscritos 5521 árbitros na federação, mais 554 do que na temporada anterior. Esta temporada os números baixaram ligeiramente, para 5400, apesar da tendência de crescimento se manter positiva desde a época 2016/17 (ver quadro), mas ainda estamos longe de conseguir suprir todas as necessidades. “A retenção é o maior problema e passa muito pelo trabalho desenvolvido ao nível das associações distritais, que coordenam a estratégia para regular os árbitros”, explica, ao JN, José Borges, vice-presidente da Associação Portuguesa de Árbitros de Futebol (APAF) da Direção de Luciano Gonçalves e candidato àquele organismo.
Num contexto em que a arbitragem vive frequentemente no centro da polémica, a pressão a que os árbitros estão sujeitos está longe de cativar quem pondera fazer carreira. “As maiores resistências para aderir aos cursos de arbitragem têm muito a ver com o contexto de violência e de agressões que se vive em torno dos árbitros e que afasta os jovens. Isso é o que os preocupa mais, porque quando vêm de livre vontade não há grandes contratempos para fazer o curso”, acrescenta José Borges.
Mudar mentalidades
Com o número de jogos a crescer e a necessidade de ter os árbitros no ativo em permanência há outros fatores que pesam na hora de ponderar dar seguimento à carreira. “Era preciso reduzir substancialmente o número de jogos que são obrigados a fazer. Alguns fazem 10 jogos num fim-de-semana e mesmo assim há casos em que não é possível realizar os jogos, porque não temos árbitros suficientes. Como são tão requisitados, acabam por se ver afastados da família, o que os desgasta muito rapidamente. Se conseguirmos formar mais árbitros podemos contrariar essa situação e levar a que cheguem nas melhores condições aos jogos”, reforça.
Da temporada passada para cá, a Associação de Futebol do Porto (A.F. Porto) registou um crescimento no quadro de árbitros, o que tem reforçado a capacidade de resposta da maior associação de futebol do país, com picos de mais de 1200 jogos ao fim-de-semana. “Formamos cerca de 20 a 30 por cento mais, mas ainda temos árbitros a fazer sete jogos aos sábados e domingos. Temos de continuar a apostar no protocolo de troca de experiências com Galiza e Madrid e de insistir nas escolas de formação profissional para alargarmos a redes de captação”, partilha Carlos Carvalho, presidente do Conselho de Arbitragem da A.F. Porto.
Para além dessas medidas, é preciso mudar mentalidades. “Para ser árbitro é preciso gostar, senão não vale a pena o investimento. É preciso um acompanhamento de proximidade por elementos do Conselho de Arbitragem,. Os primeiros tempos são difíceis e temos o problema dos pais dos miúdos da Liga Carlos Alberto, sub-7 e sub-9, que se esquecem que os árbitros que conduzem os jogos podiam ser seus filhos e também estão a aprender. Esses precisam de ser apoiados para não abandonarem a arbitragem no dia seguinte”, acrescenta.