Há cada vez mais atletas a falarem sobre a sexualidade, só que o tema ainda é tabu no futebol. Sindicato admite conhecer casos, no entanto os jogadores não se assumem porque temem ser criticados.
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No desporto, principalmente no futebol, a homossexualidade continua a ser um tema quase tabu. Por trás de cada atleta não assumido, prevalece a angústia, o medo e até uma vida dupla. O caminho ainda é longo, mas há cada vez mais atletas a quebrarem o silêncio. O último caso foi o de Jakub Jankto, internacional checo e jogador do Sparta Praga, que quis ser livre e assumiu-se como homossexual, recebendo o apoio da ex-mulher e de figuras do desporto-rei como Neymar. Em 2021, o futebolista australiano Joshua Cavallo também revelou ser gay e sentiu na pele o reverso da medalha: foi ameaçado nas redes sociais e diz já ter ouvido insultos homofóbicos durante os jogos.
Por cá, o silêncio é absoluto: nenhum futebolista em Portugal tocou ainda no assunto e Ruben Amorim, treinador do Sporting, admitiu, esta semana, que a homossexualidade ainda é "tabu" no desporto. Mas numa sociedade em que a luta pelos direitos LGBT é tão constante, porque ainda existe tanto medo? "Há o receio de se sofrer de preconceito. Infelizmente, atletas assumirem as opções sexuais ainda é um ato de coragem", explica, ao JN, o psicólogo Jorge Silvério, especializado na vertente desportiva. Opinião partilhada por Joaquim Evangelista, presidente do Sindicato dos Jogadores. "Ainda subsiste um certo tabu que não é mais do que o receio da reação dos outros, por um lado, e da exposição excessiva que possa ser dada à vida privada da pessoa.
Assumir a homossexualidade no futebol é um ato de coragem, quando deveria ser um ato de liberdade", vincou ao nosso jornal. Prova disso é haver atletas que escondem a sua orientação sexual e preferem manter o silêncio.
"Sei de casos de jogadores e jogadoras que não assumem, nem publicamente nem no próprio balneário", admite Evangelista, prosseguindo: "A proliferação das redes sociais não veio ajudar. Pelo contrário. Sob o anonimato vale quase todo o tipo de ataques".
Jorge Silvério defende que uma das medidas a tomar deveriam ser campanhas feitas pelos próprios clubes para deixar os jogadores mais confortáveis. Mas o presidente do Sindicato dos Jogadores vai mais longe e sublinha a necessidade de educar. "As campanhas, só por si, não trazem consequências estruturais. Enquanto sociedade precisamos de maior diálogo e educação. Os jovens devem crescer num ambiente que partilha os princípios da liberdade e tolerância. O futebol, e o desporto em geral, podem desempenhar um papel muito importante nesse sentido".
Apesar de ainda haver um longo caminho a percorrer, as vozes corajosas de quem não se quis mais esconder já ajudaram. "Quando o atleta quiser falar e assumir-se, há que apoiá-lo ao máximo", vinca Jorge Silvério. E, para isso, o Sindicato criou um programa de Saúde Mental com a Ordem dos Psicólogos, que disponibiliza mais de 400 profissionais, gratuitamente, para dar assistência aos jogadores associados, independentemente do tema em questão. Mas no que diz respeito à homossexualidade, o futebol português ainda não venceu todas as barreiras.