Técnico que devolveu hóquei em patins do F. C. Porto ao êxito na Champions cumpriu em Viana objetivo de vida.
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"Ainda estou um bocado afetado, mas cumpri um sonho com muitos anos". A confissão de Ricardo Ares, após o triunfo (5-1) de domingo, do F. C. Porto, frente ao Valongo, na final da Liga dos Campeões, reflete a dimensão da proeza a que o treinador dos dragões se atirara havia mais de três décadas, num percurso de hoquista de média dimensão a técnico de equipa europeia de topo.
Afinal, alcançara em Viana do Castelo, numa final 100% lusa, o título europeu de clubes, feito que não conseguira como hoquista. Mas tal não se devera à falta de aplicação. "Era um rapaz muito esforçado e responsável. Acordava cedíssimo e às seis horas da manhã já se estava a treinar", recorda, ao JN, Xavier Sala, ex-presidente do Voltregà, clube da Catalunha que o atual treinador portista representou como jogador e técnico.
Filho de uma cozinheira e de um administrativo, aos 15 anos Ricardo convenceu os pais a dedicar-se ao hóquei, deixando Bilbao, no País Basco, e indo para o Reus, na Catalunha, mais perto que a Galiza, as capitais de hóquei no país. "Ficava horas a treinar, tentando ser cada vez melhor. É metódico, conhecedor e tem perfil de líder", realça, ao JN, Carmelo Paniagua, presidente da Real Federação Espanhola de Patinagem.
Ricardo, que entretanto se mudara para o Voltregà, chegou a treinar com os juvenis, juniores e seniores do clube, passando seis horas/dia no ringue. "Focava-se a 200%! E como técnico é igual", acentua Xavier Sala.
Ignacio Ortega, colega de equipa de Ricardo no início da carreira deste, desfaz-se em elogios: "Ele era um miúdo perfeccionista, com boa qualidade técnica e uma grande paixão pelo hóquei. Também evoluiu a nível físico, o que o ajudou", faz notar, ao JN.
No verão de 2021, aceitou o convite do F.C. Porto e veio para a Invicta. Ano e meio depois (novembro de 2022) renovou até 2027. Este mês chegou ao título europeu de clubes, o terceiro dos dragões na modalidade e o primeiro após 33 anos. "Deixei tudo e vim para ganhar isto. É um sonho", disse o técnico, após a final de Viana, jogo que valeu o quinto troféu do técnico pelos dragões.
"Passou de jogador a treinador com naturalidade. Já lhe adivinhava o sucesso", frisa Carmelo Paniagua. Mas há também quem se mostre admirado com a rapidez triunfal: "Estava ciente de que acabaria por ser campeão. Mas já... é impressionante", destaca Xavier Sala, felicitando Ricardo "por esta bela conquista".
Selecionador masculino... sem jogos
Ricardo Ares fez grande parte da carreira em Espanha, primeiro como jogador e depois como técnico. A exceção surgiu em 2021, quando aceitou o convite do F.C. Porto para suceder ao compatriota Guillem Cabestany. Poucos meses antes tinha deixado o comando da seleção feminina de Espanha e assumira a masculina. Mas entretanto veio a pandemia e não chegou a conduzir a equipa um único jogo. "Fez um trabalho notável. Mas sabia que o grande objetivo da carreira dele era tentar ser campeão europeu de clubes e quando apareceu o convite do F. C. Porto acabámos por o libertar", contou, ao JN, Carmelo Paniagua, presidente da Federação Espanhola de Patinagem.