Diretor executivo da Academia do Braga enaltece a aposta na formação do clube minhoto.
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Formado no Braga, Hugo Vieira chegou à equipa principal em 1995/96. Como jogador, representou a Sampdoria, de Itália, durante três temporadas, antes de regressar a Portugal para fazer seis épocas no Sporting, três no Vitória de Setúbal e quatro no Beira-Mar. Acabou a carreira em 2012/13, mas regressou a Braga para assumir a coordenação da formação do clube. Em entrevista ao JN, Hugo Vieira, de 46 anos, analisa o impressionante arranque de época do clube, a gestão da formação e a importância de ter treinadores como Artur Jorge para conduzir os guerreiros ao sucesso.
Ter um treinador como Artur Jorge, que tem experiência em escalões de formação do Braga, facilita a transição dos jovens?
Temos tido o mérito e a felicidade de nos últimos anos metermos treinadores na equipa principal que passaram pela formação. Abel Ferreira e Ruben Amorim estiveram na B, o Custódio esteve nos sub-17 e continua na B, o Artur Jorge fez o processo nos sub-15, sub-19, sub-23 e equipa B. É confortante para os miúdos, além de ter sido jogador e uma referência do Braga, conhece os jogadores. Acaba por ser uma mais valia para o clube. Ele tem a noção perfeita do que é a formação, conhece muito bem todos os jogadores que estão próximos do patamar da equipa principal. Para quem chega, porque não deixam de ser miúdos, com perfis e mentalidades diferentes, é confortante entrar numa equipa principal como a do Braga e ter a figura de um líder que já conhecem. Facilita a entrada e a adaptação dos jogadores.
Este bom arranque com muitos jovens da formação é a prova de que é possível ter uma equipa de formação competitiva?
Algumas vezes em que se diz que se aposta na formação é por necessidade. Nós apostamos por convicção, já vem de há anos e a nossa ideia é que continue assim. Termos uma base da equipa principal constituída por jogadores saídos da formação. Mas também é verdade que com miúdos, por si só, não é fácil fazer uma equipa competitiva. É preciso uma mistura de gente experiente, e temos um capitão [Ricardo Horta] que é um exemplo para qualquer miúdo, é ver a intensidade com que treina, com que joga, a ambição que tem todos os dias. Também temos outros jogadores mais experientes como o Castro, Paulo Oliveira, André [Horta] num registo diferente... Esta simbiose faz com que a equipa seja competitiva e dê garantias de bons resultados.
Mas a aposta na juventude também tem a vertente do potencial financeiro. Como é que se gere rendimento e retorno?
A estratégia está delineada e o presidente sabe o caminho para onde quer ir. Os jogadores mais jovens são mais atrativos e isso paga-se. Depois temos jogadores de maior maturidade e rendimento, que não deixam de ser valiosos. Ter estas duas possibilidades é partir em vantagem. Se a isto juntarmos o facto de termos as contas estabilizadas, ajuda a que, ano após ano, as coisas consigam fluir bem.
O aumento da chegada de jogadores da formação à equipa principal aumenta as expectativas dos que estão na formação?
As expectativas são naturais. Nem todos vão chegar lá, mas a mensagem que passamos a todos os miúdos do Braga é fazerem o seu melhor, serem resilientes e perceberem deles que os estados maturacionais não são iguais em todos. Um miúdo nos sub-15 pode não estar a jogar tanto como gostaria, tem de perceber que há todo um trajeto a ser feito. É natural que todos queiram jogar, e jogar muito, mas todos eles têm de saber esperar pelo seu momento. Nós, felizmente, temos casos vivenciados, como o Pedro Neto, que nos sub-15 não era dos mais utilizados. O David Carmo nos sub-17 teve muitas dificuldades, era um miúdo ainda em crescimento e bastante descoordenado, mas continuaram a fazer o trabalho deles. Os miúdos querem o produto final, querem ser profissionais, é o sonho deles e nós alimentamos esse sonho, dando-lhes boas condições e tendo à disposição pessoas competentes. Nós fazemos a nossa parte, eles fazem a deles, sabendo que nem todos lá vão chegar, a porta está aberta e depende de cada um.
O Braga tem apostado em infraestruturas e recursos humanos na formação. Que retornos espera tirar?
O Braga tem feito um investimento tremendo naquilo que é a formação, com a construção da Academia e continua a investir. A segunda fase da cidade desportiva está para breve, ainda vamos construir um mini-estádio. Para além do retorno financeiro, temos o retorno desportivo também porque temos miúdos na equipa principal. O que esperamos é continuar nesta senda, sabendo que não vai aparecer um Trincão, Pedro Neto, David Carmo, Bruno Rodrigues, Fabiano ou Rodrigo Gomes todos os dias. Continuamos a trabalhar, estamos satisfeitos com o que temos feito, mas não estamos acomodados ao nosso sucesso.
Os clubes portugueses são vendedores. Como é que se retém talento?
Não é fácil, o nosso mercado é apetecível, a verdade é que nós enquanto país sentimos dificuldade em reter este tipo de jogadores, quando os outros lhes oferecem o dobro, o triplo ou o quádruplo daquilo que temos capacidade para lhes pagar. As receitas nos clubes também não são tão grandes quanto isso. Qual é a grande receita além das vendas? Direitos televisivos. Vamos fazer um plantel competitivo? Não conseguimos ter caviar ao preço do tremoço. Infelizmente, a realidade do futebol nacional faz com que não consigamos reter a qualidade e o talento, tanto tempo como gostaríamos.