Inglaterra: a taça como pretexto para defender um legado único

Foi Wayne Rooney, num artigo publicado pelo "The Times", quem definiu melhor o que está em jogo esta tarde (15 horas): "A missão do Manchester United é proteger o legado e arruinar as aspirações do Manchester City em fazer o triplete", escreveu num texto sobre a final da FA Cup, que, nestes tempos, vale muito mais do que o troféu em si. É que no horizonte "cityzen" está também a final da Liga dos Campeões e conquistar a taça deixará a equipa de Pep Guardiola na iminência de alcançar algo que só aconteceu uma vez e precisamente através do Manchester United, a única equipa inglesa a vencer campeonato, taça e Champions na mesma temporada. Aconteceu em 1998/99, há quase 25 anos, altura em que o rival da cidade nem era visto como tal e penava no terceiro escalão.

Assim, o primeiro duelo entre United e City numa final da Taça de Inglaterra não podia ser mais simbólico e transcendente. Uns têm um legado a proteger, outros estão cara a cara com uma oportunidade única para riscarem de vez uma das poucas coisas que ainda vai servindo para os "red devils" suportarem o imparável crescimento dos outrora denominados "noisy neighbours (vizinhos barulhentos)", uma das muitas expressões que Sir Alex Ferguson usou para menorizar o Manchester City ao longo do tempo em que esteve em Old Trafford, um estádio que já chegou a ter uma tarja com o propósito de ir acumulando os anos que os "cityzens" ficaram sem ganhar qualquer título. Parou aos 35, em 2011. O menosprezo também se fez sentir através de t-shirts tornadas especiais com a frase "1976 was a strange year - City won a trophy (1976 foi um ano estranho - o City ganhou um troféu)".

O Manchester City atual está muito longe de ser o adversário insignificante, castiço e inofensivo. O dinheiro de Abu Dhabi e Pep Guardiola criaram um monstro que coloca em causa a superioridade histórica, moral e estatística do Manchester United, que nunca mais foi o mesmo desde que Ferguson abandonou o barco, vai fazer 10 anos. Desde aí, os treinadores sucederam-se, com mais ou (quase sempre) menos sucesso, e agora é Erik Ten Hag quem está encarregue da missão de reerguer o gigante. Esta época, já conquistou a Taça da Liga e o apuramento para a próxima Liga dos Campeões. Não está mal, mas travar a investida do City, de Rúben Dias e Bernardo pelo "triplete" é o maior desafio que o United, Diogo Dalot e Bruno Fernandes têm que superar. Em nome de um legado único e de uma rivalidade que, finalmente, começa a ser feroz.